20080928

Ashtanga Yoga de Patanjali – As oito Partes do Yoga 'crus'

ashtau = oito
angani = fase, degraus (de escada de mão) ou raio da roda, membros, acessórios, componentes, etapas, partes, membros, constituintes.


São oito as partes ou etapas para a realização do Yoga propostas por Patanjali.

Podem ser encaradas como fases, ou degraus, onde a fase atual serve de base ou pré-requisito para a etapa seguinte, e dessa maneira praticadas em seqüência;
ou podem ser vistas como partes eqüânimes de um todo e praticadas simultaneamente.

Yama = códigos de retenção, abstinência, a auto-regulamentação
Niyama = observâncias, práticas de auto-formação
Asana = postura (a partir da raiz as=>assento)
Pranayama = expansão, regulação, coordenação da respiração e prana
Pratyahara = retirada dos indriyas (os sentidos), que se dirigem para o todo interno
Dharana = concentração
Dhyana = meditação
Samadhi = meditação em seu estado mais elevado, a absorção de meditação profunda, o estado de concentração aperfeiçoado, perfeito.

20080926

Cidadão Corpo

Pesquei no Blog do Tas um fragmento do quarto episódio da série 'Tas na Zona Eleitoral', onde o filósofo Roberto Romano explana a relação entre Eixo Postural e Ética:

Precisa escrever mais?

Quem tem dificuldade em (re)ligar o próprio espaço interno também sente que relacionar-se com o espaço público e o outro é um estorvo.

Toda a série, quadro a quadro, que foi criada este ano (2008) para ajudar a refinar a precisão do voto de qualquer um:

Tas na Zona Eleitoral 1
Tas na Zona Eleitoral 2
Tas na Zona Eleitoral 3
Tas na Zona Eleitoral 4

20080922

"Quem sou eu? O que quero? O que estou fazendo aqui? Qual é a vontade do meu coração?

Entrevista com o Gerald Schroeder, publicada na edição 20 de setembro de 2008 da revista Prana Yoga Journal brasileira.





Diferente do que expressa essa entrevista, eu penso que nem mesmo as crianças, atualmente, estão libertas ou íntegras o suficiente para mover ''todo o corpo a cada respiração'' com uma ''flexibilidade incrível'', pois todos nós, desde o momento da concepção estamos mais ou menos expostos à diversidade de formas de ''experiências de medo, incerteza e traição'' que nossa cultura cultiva.

Por isso, a necessidade imperiosa de que estabeleçamos agora a consciência do corpo vivificado.

20080919

O silêncio

Yoga Brahma Vidya =
Ciência Sintética (resumida) do Absoluto

É definida como a sabedoria universal e atemporal, transmitindo um conhecimento que não se desgasta com a evolução tecnológica e científica, não se torna obsoleta nem ultrapassada.

Possui basicamente duas partes que orientam para a harmonização do ser:

O Yoga: desenvolvido como instrumento para o crescimento da consciência, mediante as modificações da mente, utilizando o silêncio para conduzir o ser à plenitude.

A Ayurveda: criada para dar qualidade e tempo de vida ao ser para que este desenvolva a consciência e alcance a plenitude.
Segundo a Ayurveda, os processos de manutenção e criação da saúde só são possíveis com a mente em silêncio, o que favorece a erradicação do sofrimento, criando condições favoráveis para a percepção da verdade.

Conceitos de Saúde

Segundo o livro " Ayurveda - A Ciência da Longa Vida" de D´Angelo, Edson e Janner Rangel Côrtes, pela Editora Madras:

" O Yoga apresenta um aspecto vitalista, pois reconhece um princípio vital inteligente que mantém o funcionamento do corpo e da mente.

A saúde é caracterizada como uma sensação de bem estar físico, mental e social, desenvolvendo no ser a capacidade para enfrentar as dificuldades e os obstáculos presentaes na experiência humana. Para que exista saúde, é necessária a harmonia ou sintonia dos cinco componentes que atuam sobre o ser:

a) Atma: consciência pura
b) Manas: mente
c) Indriyas: sentidos ordinários
d) Corpo: veículos de manifestação da alma
e) Prana: vitalidade

A doença é toda e qualquer expressão do desequilíbrio da tipologia constitucional (dosha), podendo se expressar física, psicológica e socialmente pela infelicidade no convívio social. "


Segundo a OMS (1946):

"Saúde é o estado de mais completo bem-estar físico, mental e não apenas a ausência de enfermidade."

20080918

Filosofias da Forma – Linguagem do Corpo

Só para lembrar:
A proposta desta série de textos batizada por
Filosofias da Forma
é oferecer subsídio para que cada leitor fomente por si mesmo seu entendimento corporal.
Está longe de ser uma proposta de paradigmas.

Linguagem do Corpo
A informação que pode guardar cada parte do corpo quando se mobiliza ou se imobiliza:

Mãos
· Dando e recebendo
· Agarrando-se à realidade
· Alcançando metas
· Medo de ação

Antebraço
· Meios de atingir metas
· Medo de inferioridade

Cotovelo
· Liga a força dos braços para a ação do antebraço

Tronco - parte Superior
· (particularmente entre as escápulas e/ou linha dos ombros) carregamos a raiva armazenada – tensão.

Tronco – altura do abdômen(cintura)
· Junção entre o movimento do corpo superior e inferior
· Homens armazenam muito aqui (armazenamento de emoções na barriga)

Músculos Glúteos
· Contendo emoções – relação com : “não liberando” e “deixando ir”
· Bloqueio anal e de ações

Adutores - Coxa Interna
· Contem instintos sexualmente carregados

Braços ( braço e antebraço)
· Expressa o centro do coração, amor
· Permite-nos mover-nos
· Liga ao mundo externo

Braço “Superior”
· Força para agir
· Medo de ser desencorajado

Ombros
· Onde carregamos o peso do mundo
· Medo da responsabilidade
As mulheres armazenam muito aqui

Costas
· Onde armazenamos todas as nossas emoções inconscientes e excesso de tensão

Pélvis
· Sede da energia sexual
· Raiz das necessidades de sobrevivência básica

Tendão (parte posterior da coxa- face poplítea)
· Instintos de controle do eu
· Deixando ir

Perna Inferior (panturrilha)
· Habilita o movimento para metas
· Medo de ação

Tornozelos
· Cria equilíbrio

Plexo Solar
· Instintos de poder
· Instintos de controle emocional, centro da sabedoria e poder

Órgãos Genitais
· Relacionado ao conteúdo do centro básico
· Instintos de sobrevivência
· Medo da vida

Joelhos
· Medo da morte
· Meda da morte do velho-eu ou ego
· Medo de mudança

Pés
· Mostra se estamos fundamentados
· Conectado com alcançar nossas metas
· Medo de conclusão

Tórax
· Instintos de relação
· Emoções de coração e de amor
· Respiração e circulação

Abdômen
· Sede das emoções
· Contem nossos sentimentos mais profundos
· Centro de sexualidade/sensualidade ( centro umbilical)
· Sistema digestivo

Coxa
· Força pessoal
· Confiança em suas próprias habilidades
· Medo de força inadequada

Nariz
· Relacionado ao coração (coloração e bulbosidade)
· Sensação de olfato, resposta sexual
· Reconhecimento do ego

Boca
· Instintos de sobrevivência
· Como nos cuidamos da nutrição, “segurança”
· Capacidade para ter idéias novas

Fronte
· Expressão intelectual

Pescoço
· Pensamento e emoções vêm juntos
· Dureza é devido a declarações retidas

Braços e Mãos
· São extensões do centro do coração
· Expressa amor e emoção

Face
· Expressa as varias “máscaras” da nossa personalidade
· Mostra como nós “encaramos” o mundo

Olhos
· Mostra como vemos o mundo
· Míope é mais absorto
· Hipermétrope é menos orientado para o interior
· Janelas da alma

Sobrancelha
· Centro intuitivo
· Expressão emocional

Orelhas
· Nossa capacidade para ouvir
· Tem pontos de acupuntura para cada área do corpo (auriculo-acumpultura)

Mandíbula
· Tensão indica bloqueio do emocional e comunicação verbal
· Medo ou facilidade de expressão

Dividido em frente e trás:

FRENTE- nosso espelho para o mundo:
· “Sua máscara social”
· Contêm os instintos emocionais da vida diária, como: amor, desejo, tristeza, alegria, interesse, etc.
· A dor do “coração” é armazenada no tórax, entre as costelas e os internos dos ombros. Muita emoção também é armazenada na barriga.

ATRÁS - armazena muitos dos nossos pensamentos e emoções inconscientes:
· Onde escondemos os instintos que não estamos preparados para manipular
· Nossa área de disposição emocional para todas as coisas que não queremos reconhecer
· Muito medo e raiva são armazenados entre as clavículas e escápulas (pás dos ombros), e ao longo dos músculos da coluna(espinha ou no lado da espinha).


Este material foi pesquisado num texto de Andréa Soares para a PUC–PR encontrado na Internet em novembro de 2006.

Filosofias da Forma

Olhar um corpo é ler sua existência, desde o primeiro sopro.

Olhar para um corpo trabalhado ou que está recebendo informação por qualquer técnica que traga consciência somática é como olhar as estrelas do céu*:
é olhar o passado, uma situação psicofísica que já houve e não é mais presente, porém sua percepção ainda se faz sensível.

A proposta desta série de textos batizada por
Filosofias da Forma
é oferecer subsídio para que cada leitor fomente por si mesmo seu entendimento corporal.

Está longe de ser uma proposta de paradigmas.
Outro foco da proposta é oferecer informação sobre métodos e pessoas que filosofam no corpo.
E, talvez, arriscar a desenhar uma breve história da corporificação no decorrer do tempo.

* Olhar as estrelas do céu => Quando olhamos a luz das estrelas agora, vemos as luzes emitidas pelas estrelas em um tempo anterior. Estaremos literalmente observando através de nossos sentidos no presente uma cincunstância material do passado.

20080915

O conteúdo do Texto dos Yoga Sutras ajuda ou atrapalha?

O texto que segue abaixo é a minha prova final do primeiro semestre de Filosofia de 2008 do Curso de Formação de Professores de Iyengar do Yoga Dham.
A proposta foi de escolher 4 tópicos (assinalados no texto em itálico) entre 10 para responder uma única questão:


Patanjali traz entendimento e orientações para a prática do Yoga?

Sim.

Abhyâsa (“estudo ou prática constante e determinado”, Iyengar, A Árvore da vida) pode ser comparado ao motor ou ao impulso que pode nos levar ao estado de Yoga.

Pelo estudo e pela prática contínuos e resolutos, é possível refinar o discernimento, que é “o fio da navalha do intelecto, que separa o verdadeiro do falso, a realidade da irrealidade”, que permite fazer “comparações significativas” e desenvolver “a análise perspicaz, que leva ao entendimento correto” capaz de discriminar as informações retidas na memória (smriti), onde as experiências do passado repousam a espera de lembrança e as experiências do presente se acumulam. “No começo, é um processo de tentativa e erro. Mais tarde, aprendemos a evitar o erro.” (Iyengar, Luz na Vida, pág. 199)

Quando aprendemos a direcionar os impulsos e a evitar o erro, a memória começa a deixar de ser um entrave e passa a ser uma ferramenta para alcançar o estado de Yoga. “(O) processo de avaliar os próprios instintos, pensamentos e atos é a prática da renúncia (vayrâgya).” (Iyengar, A árvore do Yoga pág.105).

A memória no presente ou a atenção constante ou a capacidade de concentração, que também é chamada smriti é uma das qualidades que nos leva a afiar a inteligência, discernindo o conteúdo das experiências registradas pela mente (memória ‘bruta’) e modificando-a em sabedoria (memória ‘educada’), que nos ajuda a manter o conhecimento correto. (Yoga Sutra 1:20 ‘shraddha virya smriti samadhi prajna purvakah itaresham’ = [O êxtase supraconsciente] dos outros [yogins cujo caminho é o especificado no aforismo 1.18] é precedido pela fé, pela diligência, pela atenção, pelo êxtase [consciente] e pela sabedoria. Comentário de Georg Feuerstein)

Com a prática de abhyâsa e vayrâgya construímos parte do conhecimento correto (pramana) atualizado através dos resultados obtidos pelo estudo e pela prática pessoal e pela dedução; uma outra parte é obtida através do testemunho de pessoas sábias e confiáveis.

O conhecimento correto é mantido vivificado, refrescado desde que seja sempre re-examinado, experimentado, estudado e refinado e que nele não sobrem experiências supérfluas retidas. Conforme vamos filtrando e minimizando o conteúdo do intelecto fruto das experiências registradas e estimulantes da mente, nos aproximamos do estado de Yoga.


Para ser sincera, Patanjali esclarece muito.

O maior obstáculo é ter pouco entendimento do Sânscrito, condição que se pode modificar de imediato recorrendo aos comentários sobre os Yoga Sutra de pessoas confiáveis (uma das formas de pramana).

Minha impressão atual como professora de Hatha Yoga é que sou uma estudante que estuda através das percepções do meu corpo e da observação dos corpos e dos relatos de meus alunos.

Tive a felicidade de experimentar abhyâsa e vayrâgya logo no início de minha prática pessoal.

Eu tinha muita vontade de experimentar praticar e através de abhyâsa, pude construir um repertório de sensações que depois demonstrou ser pramana e que me orientou no sentido de um entendimento pacífico entre meu corpo e minha mente (chitta), que viviam em discórdia antes que eu tivesse contato com o livro ‘Luz da Yoga’, Editora Pensamento e os textos do Yoga clássico. Fui prudente em agregar os conhecimentos obtidos através da prática e do estudo, o que também é, segundo Iyengar uma forma de vayrâgya.

Pude perceber quantos comportamentos, atos e pensamentos desnecessários (smriti, como memória que tudo retém e vira fonte de estímulos que perturbem chitta, memória depósito passiva) consumiam minha energia, e abandoná-los (vayrâgya) pareceu natural. Experimentei antes de estudar nos Yoga Sutra que a prática e o desapego são os meios para acalmar os movimentos da consciência, conforme o sutra 1:12 (‘abhyasa vairagyabhyam tat nirodhah’ = A prática e o desapego são os meios para acalmar os movimentos da consciência. Comentário de Iyengar)

E como sentia bem estar profundo praticando Yoga, minha prática de asanas foi se tornando mais extensa e eu abri espaço em outros momentos do meu dia para praticar e estudar. Criei meu círculo virtuoso: quanto mais abhyâsa, menos perturbação, conforme assegura o sutra 1:14 (‘sah tu dirgha kala nairantaira satkara asevitah dridha bhumih’ = A prática longa, initerrupta e alerta é a fundação firme para a contenção das flutuações. Comentário de Iyengar).

Procuro incentivar meus alunos que pratiquem sempre que puderem, e que se observem com qualidade de atenção, e que comentem suas impressões; procuro incentivar que estudem os textos clássicos e os textos de Iyengar; procuro situar algum comentário a respeito do Yoga Sutra, de Patanjali, dos livros de Iyengar em alguma parte das aulas e dedico cerca de 1/3 de uma aula por mês para falar a respeito dos 8 estágios do Yoga que Patanjali propôs. Proponho que se observem sem julgo, e que guardem na memória apenas o que for pessoalmente consistente e que estiver no presente relacionado com os textos comentados em aula e com a prática de cada um.

É importante perceber como uma dificuldade de um deles em compreender ou realizar um âsana, por exemplo, se transforma em abhyâsa para mim, para auxiliá-los no processo de praticar; bem como é interessante ouvi-los relatar de como estão deixando de lado gestos e/ou pensamentos desnecessários, que no meu entendimento é em parte de desapego (vayrâgya) e em parte a manifestação de uma memória (smriti) mais aguçada, que está sendo ‘educada’.

Vayrâgya também envolve a possibilidade de rever pontos de vista, como Iyengar fez ao afirmar que pranayama era algo para se fazer e tempos depois, corrigiu sua observação dizendo que pranayama é algo que pode acontecer ao nos disponibilizarmos para isso.

Dessa maneira, Iyengar modificou um conceito que deixou de ser correto, atualizando-o segundo a maturidade de sua abhyâsa. Nos deu exemplo de vayrâgya, pramana e smriti (no sentido de memória seletiva-ativa-no-presente).

Acredito que não praticar ou estudar descaracteriza totalmente o que conhecemos como Yoga: o professor perde seu frescor, sua firmeza e transforma os alunos tem teóricos mofados ou em praticantes de alongamento e alinhamento ósseo, sem contar que um(a) professor(a) educa principalmente pelo seu exemplo pessoal.

A falta do cultivo do conhecimento correto tem proporcionado pessoas que praticam Yoga de modo equivocado, como o fato observável de quem confunde vayrâgya com privação, ou como quem declama os textos sagrados sem envolvimento pessoal.

Se não filtramos os conteúdos da memória ‘bruta’, se não notamos que estes conteúdos retidos sem discriminação são em parte a fonte dos estímulos que nos tornam fragmentados em muitas direções buscando satisfação após outra, como vamos coordenar, controlar as flutuações da mente?

Na minha atual compreensão, abhyâsa, vayrâgya, pramana e smriti (no sentido de estar atento, memória no presente) formam um círculo virtuoso que, se observados constantemente e utilizados com ponderação, nos conduzem ao estado de Yoga.


Referências e Bibliografia Consultada

FEUERSTEIN, George. A tradição do Yoga. 1ª Edição São Paulo: Pensamento, 2006.

IYENGAR, B. K. S. A Árvore do Yoga. São Paulo: Globo, 2001.
IYENGAR, B. K. S. Luz na vida. São Paulo: Summus, 2007.

IYENGAR, B. K. S. Luz nos Yoga Sutras de Patanjali. Apostila cedida pela profª Che.

JNANESHVARA BHARATI, Swami.
Disponível em :.
Acesso em 09 de junho 2008.

KUPFER, Pedro. O Yoga Sutra de Patanjali: aforismos I:7. Cadernos de Yoga. n.05, p.91-93. verão/2005.

KUPFER, Pedro. O Yoga Sutra de Patanjali: aforismos I:10 e I:11. Cadernos de Yoga. n.08, p.71-75. primavera/2006.

KUPFER, Pedro. O Yoga Sutra de Patanjali: aforismos I:12 a I:14. Cadernos de Yoga. n.09, p.62-70. verão/2006.

KUPFER, Pedro. O Yoga Sutra de Patanjali: aforismos I:15 e I:16. Cadernos de Yoga. n.10, p.72-77. outono/2006.

KUPFER, Pedro. O Yoga Sutra de Patanjali: aforismos I:19 e I:20. Cadernos de Yoga. n.14, p.58-63. outono/2007.