20090928

Com que roupa eu vou?


Venha praticar com sua roupa usada, aquela que já está macia e tomou o jeito do seu corpo; aquela roupa onde seu corpo se sente em casa.

Lembre que calcinhas, coutiens, cuecas, meias também são roupas, leve em conta que estas peças do vestuário também se movem a favor ou contra você durante a prática e neste caso, geram desconforto. Meias que fogem também podem ser 'do contra'.

Leve em conta a estação do ano, o horário da prática e a eventual instabilidade do humor de São Pedro, para que o excesso ou a falta de indumentária não minem o resultado da sua prática.

20090927

Outra moça de sari vermelho



(...)
Apareceu então uma jovem morena, vestida de vermelho, com grandes brincos. Os dois deuses, agachados no chão, observavam-na. Então Brahmā falou: “Mrtyu, Morte, venha cá. Deve rodar o mundo. Deve matar minhas criaturas, os sábios e os tolos. Deve obedecer apenas a uma regra: que não haja exceção”. A moça olhava o deus em silêncio, enquanto atormentava com os dedos uma guirlanda de lótus. Depois disse:” Pai, por que me escolheu para fazer aquilo que é contra todas as leis? E por que deverei fazer apenas isso? Eu queimarei sobre uma perene pira de lágrimas”. Brahmā disse:” Não tergiverser. Você é sem mácula e impecável é o seu corpo. Vá...”. Morte continuou silenciosa diante de Brahmā, enquanto suas costas lentamente se curvavam.


Morte era teimosa e não aceitou logo a ordem de Brahmā. Em Dhenuka, cercada por ascetas que já devia ter exterminado ficou sobre um só pé durante quinze milhões de anos. Ninguém lhe falava. Era uma das tantas que ali se retiravam. Mrtyu meditava, perplexa.

Brahmā convocou-a ao dever. Mas Morte apenas mudou o pé sobre o qual se apoiava — e assim continuou a meditar por mais vinte milhões de anos. Por alguns outros milhões de anos viveu depois com os animais selvagens, comeu apenas ar, mergulhou nas águas. Depois, sobre o monte Meru, jazeu longamente como um tronco. Passaram-se outros milhões de anos. Brahmā foi visitá-la: "Minha filha, o que acontece agora? Consumir poucos átimos ou alguns milhares de anos não muda nada. Um dia sempre acabaremos nos encontrando. E eu repetirei: ‘Faça o seu dever’ ". Como se não se tivessem passado aqueles milhões de anos e estivesse retomando o diálogo com o pai depois de uma pausa, Mrtyu disse: "Tenho medo de ir contra a lei". "Não tema", disse Brahmā, "nenhum juiz jamais conseguirá ser tão imparcial quanto você. E nem é o caso de você chorar tanto, como a vi chorando: suas lágrimas abrirão chagas nos corpos que deve exterminar. Melhor matar sem muita demora." Então Morte baixou o olhar e em silêncio percorreu o mundo. Tentava manter os cílios enxutos, como último sinal de benevolência com as criaturas que abatia.
(...)

Roberto Calasso, em 'KA'

20090926

Questão de Pele



Bem, é mais um manifesto do que uma recomendação.

Percebo que muitas vezes, a escolha das roupas utilizadas para a prática de Yoga (ou de outras atividades corporais/dançantes) pelas mulheres envolve um quê de se anestesiar, de privar-se parcialmente da sensibilidade que todos os terminais nervosos que existem nas 3 dimensões da pele: roupas justas, até mesmo apertadas, respaldadas pela tecnologia têxtil dos tecidos com elastano e uma certa mnemônica do espartilho.

[Empacotadas à vácuo, feito carne no freezer do hipermercado.
Ou uma outra (a)versão da mulher plástica = de plástico.

O velho hábito de desfazer em tiras o corpo feminino, tiras frouxas e tiras estranguladoras, as muitas formas da impotência.]

Eu sou fã dos tecidos inteligentes, com fibras que permitem a respiração e transpiração, com elasticidade e leveza, porém, preservo sempre um espaço entre minha pele e o 'pano', escolho as roupas a dedo, para que eu tenha conforto para o movimento e para me deixar envolver sem sufocar.

No momento de escolher o que vai envolver seu corpo, seu instrumento de percepção ao praticar, preste atenção se você se dá a escolha de manter a pele sensível, a circulaçao livre, a respiração à vontade da pele que se (in)veste em direção à veste que reveste a pele.

20090923

Eco-bag = Furoshiki



Está na moda sacola de pano.
Aprenda com a tradição japonesa a fazer a sua com um quadrado de tecido.
O mesmo quadrado pode ser o embrulho do presente, se escolher um lenço lindo, são dois presentes em um.

(Hummm, aquele lenço que está no pescoço pode te salvar de ser indelicada e ecologicamente incorreta.)

De quebra, pode te ajudar a ficar no presente, que pra fazer as embalagens tem de prestar atenção, e quem presta atenção está no agora (Atha!).









Aprenda a fazer o nó, passo a passo, no Superzíper:



Sacolinha de 'prástico' nunca mais!

20090922

Apr(e)ender e ensinar


É um texto que versa sobre o ensinar do Flamenco.
(Que eu tenho o defeito de me deixar cativar pela cultura dos outros,
e tenho o coração que dividido em três culturas:
a minha de nascida,
do Yoga
e a do Flamenco.
Uma veio do berço,
outra no susto do desvelar uma aptidão inata,
e a última pelo encanto de olhar, ver e me permitir permear.)

Aprender e ensinar.
Ensinar bem, forjar-se Mestre não difere de uma Arte para outra, os princípios, o que se deve observar, incorporar, praticar são sempre os mesmos, além do espaço e do tempo, feito Yamas e Niyamas.

'
Muchas veces la circunstancia de enseñar una disciplina nos cae como muchas cosas en la vida, sin planificación alguna. Simplemente la actividad surge como consecuencia de ser el único disponible o para hacerle un favor a un amigo, o porque te lo pide tu maestro, en vista de probablemente ser el más aventajado de la clase y además disponer del tiempo.(...)

Enseñar es una aventura que nunca termina y que catapulta nuestra propia percepción del arte a otros niveles, y en nuestros países enseñar se transforma en una odisea, comparable a ésos esfuerzos que tan bien narran las historias épicas que han cautivado a los seres humanos de todas las épocas.

Cada uno de nosotros, los que nos hemos dedicado a la enseñanza, seguramente hemos confrontado los mismos problemas, que trataré de exponer sin priorizar. Seguramente omitiré muchos. Para cada quien, la importancia de cada uno de estos aspectos que trataremos es tan relativa como cuánto les haya costado solventar cada obstáculo. Algunos de ellos a veces nunca serán vencidos, pero eso es lo que diferencia a los maestros de los instructores. Los primeros siempre serán evocados, recordados y respetados. De los últimos solo podremos sacar alguna información para utilizar en algún momento, o lo que es peor, no podremos obtener nada.

(...)

Muchos excelentes intérpretes resultan ser pésimos maestros y viceversa. Esto es paradójico pero muy real. El arte de enseñar o mejor dicho, la habilidad de hacerse entender puede oponerse abiertamente a nuestra percepción del flamenco como intérpretes. Enseñar requiere racionalizar el arte y balancear alma y genio con cabeza y método; y no todos están dispuestos a ése sacrificio. Pero yo les aseguro que nada vale ir a un aula a demostrar nuestra “genialidad” si no sabemos llegarle al alumno.

(...)

Tenemos que entender que enseñar no significa crear copias de nosotros mismos.
'

20090917

A vida do professor de Yoga

'Qual a importância para um professor de yoga de conhecer a Índia?

Nenhuma. Um professor de yoga pode ser um óptimo professor sem nunca ter pisado a Índia. Um exemplo disso é Georg Feuerstein que foi pela primeira vez à Índia há dois anos atrás e, no entanto, escreveu mais de 30 livros sobre yoga.

Existe aquela ideia de que ir à Índia funciona como uma pós-graduação. Pela ordem: eu sou um praticante dedicado, depois torno-me vegetariano, depois faço uma formação, dou aulas de yoga e faço uma viagem de estudos à Índia. Uma viagem de estudos pode ser feita para qualquer lugar. O conhecimento está onde estiver o professor, não necessariamente na Índia, principalmente nestes tempos globalizados em que vivemos. A Índia em si não tem o yoga, o yoga está na Índia como em muitos outros lugares.

Como hoje em dia existe aquela popularização massiva do yoga no Ocidente, muita gente viaja para a Índia em busca do yoga, tendo lá surgido uma nova geração de professores ambiciosos que não são honestos e que querem enganar estas pessoas. Quando fui à Índia pela primeira vez tive dificuldade em arranjar bons professores.

Algum tempo depois, fiquei com dúvidas e decidi voltar para lá para reaprender tudo o que sabia, porque algumas coisas percebia que estavam equivocadas, para me reprogramar com alguém que me corrigisse tudo. No primeiro dia encontrei logo aquele que seria o meu professor, hoje em dia não é tão fácil. Recebo muitos emails de pessoas que dizem que vão para a Índia sem expectativas, de mente aberta, à espera que algo de mágico aconteça, mas geralmente, se a pessoa não prepara a viagem frustra-se. A Índia dos livros de fotografia não é a Índia, mas um pequeno ângulo dela.

Hoje em dia, os professores que se encontram na rua e que oferecem aulas de yoga ou sámadhi instantâneo, em 90% dos casos querem enganar as pessoas. Há menos de 10% de chance de encontrar um professor bom e honesto. O facto de estar na Índia não ensina yoga a ninguém. Pode ser uma experiência de vida, uma experiência gastronómica, musical, mas se o objectivo for yoga é necessário preparar-se antes, pesquisar, interrogar, pedir conselhos...'



Entrevista concedida à professora de Yoga e jornalista Ana Sereno, em de Agosto de 2008, em Portugal. Leia tudo clicando aqui.

20090915

Pensar, prestar atenção, sentir, imaginar, intuir


Pensar costuma ser algo circular, algo como uma ratoeira, os pensamentos costumam se repetir e/ou acelerar, e assim o ato de pensar corriqueiramente, como aprendemos a executar desde 'sempre' nos faz ficar 'doente do pé' e desfocados das estrelas.

Quando praticamos Iyengar cedo somos instigados a desenvolver a capacidade de realizar ações internas, que são gestos onde a imaginação tem um papel importante; uma ação interna nem sempre é visível, porém sempre se torna sensível. E a sensação, atiçada a partir da imaginação ou perceptível a partir da pele, se torna foco de atenção. Vamos aprendendo a prestar atenção e a sentir, vamos revirando o terreno do imaginário.

Esse contínuo exercitar nos faz aos poucos perceber que estamos nos tornando mais concentrados, e nos faz perceber uma faculdade humana sutil conhecida como intuição.

Concentração e intuição, juntas e firmes, nos levam em direção ao Infinito.


Tsc... Infinito é tudo do Escher.