20111211

Como a Mente Funciona?


A Mente funciona por meio de ondas elétricas sutis. Isso já foi comprovado em função de pesquisas científicas que dizem que a mente funciona em quatro estados:

1. A Mente Beta: esta é a mente em estado de vigília, e perfaz de dezoito a trinta ciclos por segundo. Quando você está acordado e realizando atividades, você se acha no estado beta.

2. A Mente Alpha: quando você está apenas relaxando, num estado de não atividade, não fazendo nada especificamente, apenas ouvindo música ou meditando, a atividade da mente se torna mais lenta e apresenta entre catorze e dezoito ciclos por segundo. Quando você está acordado, mas passivo, desperto, mas não muito alerta, num estado de profundo relaxamento, em que os pensamentos não estão em agitação, mas apenas fluem tranquilamente, você vive o estado alpha.

3. A Mente Theta: quando a atividade é ainda mais lenta, a mente funciona entre oito a catorze ciclos por segundo. É quando você está dormindo. Num estado de profunda meditação ou no Rebirthing, você se encontra nesse estado, isto é, passa do estado alpha para o theta. Mas isso acontece apenas em estados bastante profundos, quando você começa a "tocar" esse terceiro estado em que se sente bem-aventurado. O que os drogados ou bêbados tentam alcançar é esse estado de bem-aventurança, mas o estado theta nunca é alcançado por meio do álcool nem das drogas, porque há necessidade de total alerta, e vícios NUNCA nos deixam alertas ou conscientes — apenas passivos, mas não alertas; o estado theta só é alcançado parcialmente, pois a bem-aventurança não é desfrutada, e o momento é perdido. Assim, você busca o caminho errado tentando chegar a esse estado por meio de efeitos químicos. Bem-aventurança só se consegue quando se chega ao estado theta completamente alerta e consciente. Diminuindo a atividade da mente e permanecendo totalmente alerta, você poderá facilmente chegar a esse estado.

4. A Mente Delta: quando a atividade da mente é ainda mais profunda e lenta, essa mente apresenta de zero a quatro ciclos por segundo. E quando ela quase não funciona, e há momentos em que pode atingir o ponto zero, em absoluta tranquilidade; esse é o estado em que nem mesmo quando você vai dormir sua mente está parada, estado em que nem mesmo os sonhos funcionam. Este é o estado que os budistas, os hindus ou os yogues chamam de Samadhi. Patanjali, o criador do Yoga, define esse estado delta ou samadhi como um sono com consciência, alerta. A consciência precisa estar presente para ser um estado delta. No Ocidente, a princípio, acreditava-se que esse estado fosse impossível, porém houve um indiano iluminado que foi submetido a testes de EEG (eletroencefalograma) durante sua meditação, e registrou-se que a atividade da mente havia cessado, e traços de ondas foram observados enquanto ele dormia, tudo porque ele estava em profunda meditação, parecendo dormir, ainda que estivesse em total alerta, o que foi comprovado também por ele ter relatado tudo o que ouviu ao seu redor durante o processo. Em alguma parte do seu Ser ou Centro, o corpo permanece em sono ou dormindo, enquanto você permanece perfeitamente consciente — esse é o estado delta. Com a prática constante da meditação, você poderá atingir esse estado delta, e por meio da prática diária do Rebirthing, que é uma espécie de meditação profunda, e da auto-análise, você chegará ao estado delta em totalidade; por isso, dizemos que o Rebirthing é trazer Deus para dentro de si mesmo.

Somos multipsíquicos, isto é, temos muitas mentes em união — uma mente com muitas mentes —, muitas mentes de uma só mente. Temos um só coração e muitas mentes — observe como elas mudam constantemente. Num momento, a mente está cheia de crenças, em outro, está cheia de dúvidas e em outro ainda está cheia de crenças de novo. Às vezes está cheia de amor, outras de raiva. Comece a observar quantas mentes operam em você: uma hora, você pensa que não vai mais fumar, em outro momento, está comprando um pacote de cigarros.

Unmani & Nishkam, 'Rebirthing "o novo yoga" ',pag 44 e 45.

20111203

4 Temas de Bertazzo - IV

A Relação Entre Mecânico e Energético

Inúmeras escolas terapêuticas bastante difundidas consideram em seus métodos apenas a esfera do sutil, os campos energéticos etc., induzindo a uma desvinculação destes com os centros corporais concretos. Para mim, o sistema mecânico e as trajetórias elípticas do movimento são a base de nossas funções mais sutis, ou energéticas, a exemplo da "respiração primária" de que falam os osteopatas e da "energia" da medicina oriental.

O esquema das trajetórias elípticas pode ser visualizado como um processo no qual determinado centro se subordina a outro, porém mantendo uma identidade própria, e este centro a outro ainda. Se quisermos, podemos ampliar indefinidamente essa imagem de elipses associadas ou subordinadas umas às outras, e incluir mesmo elipses e centros localizados fora de nosso corpo, no sistema solar e nos pontos mais distantes do sistema celeste.

O corpo humano foi concebido para utilizar uma organização própria que permite um aproveitamento máximo de sua energia, isto é, despender o mínimo de energia para o máximo de rendimento.

Tome-se como paralelo dessa mecânica humana o exemplo de um objeto lançado ao espaço sideral. Inicialmente a nave, satélite ou o que for exige grande quantidade de energia para colocar-se em órbita. Mas a partir daí, consumirá o mínimo de combustível, apenas para fazer pequenas correções de trajeto. Neste estágio, essa nave aproveitará a energia das próprias órbitas dos corpos celestes para prosseguir seu curso.

Assim também é no corpo humano durante a realização de um gesto. Se o impulso ou energia respeita as trajetórias elípticas correspondentes aos diversos segmentos osteomusculares, essa energia será melhor aproveitada — ou poupada —, gerando mais conforto e refinamento para o movimento. Isso significa também diminuir as solicitações dirigidas ao sistema nervoso central, se pensarmos que uma mecânica bem ordenada funciona quase sozinha, após o impulso inicial ter sido dado e certas autonomias terem se estabelecido. Ou seja, flexores e extensores se coordenam concomitantemente, e de repente é todo o corpo que se organiza num "volume em tensão". Um gesto em tensão e torção adequadas transfere essas qualidades, a partir do segmento envolvido nesse gesto, para todo o corpo.

Por exemplo, o movimento da mão que respeita sua organização própria: cada pequena esfera dos metacarpos girando em elipse e formando a abóbada palmar — que por sua vez submetese à elipse maior formada pelas trajetórias opostas de braço e antebraço. Essa organização dá ao membro superior uma autonomia, evitando sobrecarregar outros segmentos do corpo.

Ivaldo Bertazzo, 'O Cidadão Corpo', páginas 33 e 34

20111202

4 Temas de Bertazzo - III



Estruturação Corporal e Descoberta da Identidade

Ninguém existe sem antes perceber o próprio corpo. Se nosso corpo constitui-se de vários "pedaços", o movimento é o fator que nos possibilita juntar essas peças e criar unidade. O movimento nada mais é que uma tensão conduzida de um músculo a outro, organizando alavancas ósseas e permitindo a sensação de um braço inteiro, de uma perna inteira e, finalmente, de um corpo inteiro. É essa síntese motora que nos fornece a confortável sensação de unidade, de identidade.

Se nossas unidades estruturais não concorrem para a consciência de uma identidade, o psiquismo será novamente sobrecarregado nesse esforço da personalização.

Tão importantes são essas sínteses corporais — ou "sensações de globalidade", como escreve Mme. Béziers — que a sua ausência em nosso cotidiano determina bloqueios, espasmos, pinçamentos nervosos, o deslocamento de uma vértebra, um torcicolo etc. Di¬ante desses sintomas muitas terapias concluem que é necessário "soltar" ou "liberar" algo na estrutura corporal. Redondamente errado. Ao contrário, tais bloqueios ou espasmos ocorrem justamente por causa de um desmanche, pela falta de uma síntese corporal — ou seja, porque o corpo perdeu o sentido de suas unidades em tensão adequada, sua forma própria de funcionar.

O movimento é, pois, fator coordenador de nossa estrutura, dando-lhe coesão, densidade, tônus — unidade, enfim. Essa é a maneira que o corpo possui para nos certificar de sua presença. Frequentemente a dor nada mais é que um espasmo de defesa, apelo de reorganização, chamamento à consciência do corpo. O melhor caminho para a disfunção e a dor é trabalhar no sentido de um tensionamento harmonioso de nossas unidades corporais.

Ivaldo Bertazzo, 'O Cidadão Corpo', página 34


20111201

4 Temas de Bertazzo - II


O Conceito de "Liberação Corporal"

Sem dúvida a interpretação de um espasmo doloroso ou bloqueio como defesa face à desorganização diverge frontalmente do que afirmam as escolas e terapias corporais que se tornaram conhecidas a partir dos anos 60, cuja palavra de ordem era justamente liberação: "relaxar os músculos", "desbloquear as vértebras", "liberar as tensões", "soltar as emoções" etc., o que resultava efetivamente em diluição.

Essas escolas nos pediam, em síntese, que dissolvêssemos nossas tensões, propósito muito compreensível. Porém, no processo de dissolver nossas tensões, há o risco de desfazer nossas estruturas e de perdermos a possibilidade de coesão.

As instruções para "liberar" e "soltar" talvez, coubessem, com mais propriedade, ao âmbito do tratamento psicológico. Mas houve uma generalização perigosa, e também as terapias e métodos corporais passaram a enfatizar o "liberar", "desmanchar" e "relaxar" no plano corporal. Abandonou-se quase por completo a ideia de criar estruturas, definir funções, e assim nos distanciamos mais ainda da autonomia e da definição da identidade de nosso aparelho locomotor.

O corpo é uma estrutura material que possui suas sínteses, e estas não se presentificam em leveza ou incorporeidade. Se não aceitarmos tal fato, retardamos a compreensão do que significa ter conforto dentro da matéria, ou do que seja possuir uma boa organização em nosso interior. No fundo, o equívoco não foi estimular a soltura do que 'estava preso", mas negar ao que "estava preso" a possibilidade de integrar-se na estrutura do movimento.

Grosso modo, um bloqueio nada mais é que uma "tensão parada". É preciso fazer com que essa tensão se distribua dentro de uma unidade. Se existe uma artrose localizada no joelho, que traz limitações e dor na sustentação do peso do tronco, essa tensão nada mais é que o estrangulamento de um movimento que deveria estar distribuído por todo o membro inferior. Se há espasmo muscular em torno de uma vértebra, ocasionando sua torção, mais do que "desbloquear" essa vértebra, será preciso criar a consciência da organização cilíndrica dada ao tronco pelas costelas, que possuem, entre outras, a função de nos verticalizar.

Essa ideia de "desfazer" nossas estruturas corporais pode estar ligada a um equívoco conceitual que considera imperfeição tudo o que é material e pesado, contrapondo como ideal e desejável aquilo que é "leve", "espiritual". Buscando essa "leveza" ou "soltura", atrasamos bastante a percepção do conforto possível no âmbito da matéria.

Pessoalmente, acredito que possuímos hoje condições para superar essa concepção maniqueísta. Especialmente porque a ciência — tanto a desenvolvida no Ocidente quanto a recuperada do Oriente — tem mostrado que o sagrado, o espiritual, está invariavelmente amalgamado à matéria. Prova-se hoje que a matéria é uma forma de energia que tem a propriedade de se condensar e desfazer-se continuamente. Aos poucos percebemos que os conceitos de matéria e espírito não são conflitantes.

Na área científica, especialmente na Física, comprova-se que o universo é "neutro", que sua total carga positiva é compensada por sua total carga negativa. Acredito que, em sua estrutura de movimento, o corpo deve ser compreendido da mesma maneira. Em meu entendimento, contrapor corpo e espírito de forma radical foi o grande equívoco de nossa cultura. Se o espírito se contrapõe a alguma outra porção da composição humana, esta é a do psiquismo, e não a do aparelho corporal.

Ivaldo Bertazzo, 'O Cidadão Corpo', página 35


20111130

4 Temas de Bertazzo - I



O Quadro Contemporâneo de Fragmentação

'É fácil compreender a procura pela musculação em nossos dias, a grande afluência à academia de "malhação". Na verdade, as pessoas que procuram a "malhação" talvez o façam por serem carentes de sensações de estrutura; necessitam forjar uma presença, uma sensação de unidade. Como censurá-las? A sensação de desintegração que enfrentam no quadro de fragmentação do mundo moderno é desesperadora e elas necessitam, com razão, de sensações estruturantes. Infelizmente, esses métodos criam também densidades contrárias ao movimento.

Se a fragmentação é o tema de nossa época — conhecemos as partículas subatômicas, divisíveis ao infinito —, é preciso, por outro lado, somar, fundir e encarnar — assumir um corpo — para compensar essa tendência. Se alta velocidade e divisão extrema — os confrontos de etnias, nações, moralidades etc. — formam o panorama externo, é preciso fortalecer a unidade em nosso interior para suportar tais condições.
Como observa Mme. Struyf, se os grandes símbolos de nossa época são os carros fantásticos, os aviões supersônicos, e não mais as arquiteturas estáticas — a catedral, o palácio —, não esqueçamos que, da mesma forma que a máquina superveloz possui estrutura complexa, extremamente precisa e organizada para permitir o deslizamento sobre a água ou pelo ar, o homem faz uso de uma estrutura refinada para ficar em pé. Se o barco tem o arcabouço que o sustenta à flor da água, nós possuímos nosso esqueleto, que nos sustenta em pé e nos permite caminhar.

É nesse sentido que Mme. Struyf insiste que a estruturação começa em nossos ossos, e não em nossos músculos: "Sem eles, seríamos um patético saco de pele escorrendo pelo chão".
O ser humano tem à sua disposição uma máquina de movimento de design extremamente sofisticado. Entretanto, na maior parte do tempo negligencia essa dádiva. Isso tem provocado, e provocará ainda, inúmeras disfunções: se continuarmos pautando nossa evolução sem qualquer atenção ou percepção desses fundamentos, com certeza mais adiante seremos obrigados a voltar sobre nossos passos para reestimular nossas bases sensórias. '

Ivaldo Bertazzo, 'O Cidadão Corpo', página 36

20111123

(... Klaus Vianna ...)



Além disso, existem diversos pontos em nosso corpo que são verdadeiros centros nervosos irradiadores de energia, associados às emoções: o queixo, a região da traqueia, o esterno, a crista do ilíaco, a região do púbis, a coxofemoral.


Esses pontos, quando bloqueados, acumulam tensão, e em torno deles vai se formando uma verdadeira couraça muscular. O equilíbrio dessas tensões - entendido como a tonicidade ideal dos músculos — permite também o equilíbrio das emoções que derivam de cada um desses pontos.

Há uma diferença muito grande, por exemplo, entre a emoção expressa através do esterno — que atua mais no sentido da projeção — e a emoção que flui da região dos quadris. Esses pontos ou articulações não atuam apenas como dobradiças do corpo, mas também como marcos divisores das mais diferentes emoções. De certa forma, a cada grupo muscular e articular corresponde determinada emoção, e, dependendo da emoção que se queira transmitir, deve-se privilegiar o trabalho com esse ou aquele grupo muscular, essa ou aquela articulação.

Se estamos construindo um personagem cuja característica principal seja o medo, por exemplo, o centro é a parte mais ligada a essa emoção. Alguém com a sensação de medo tende a se fechar, arqueando os ombros e apoiando-se nas costas. Quando os espaços articulares são satisfatoriamente preservados, o jogo de emoções associadas a esses pontos pode ser plenamente sentido.

Quando iniciamos um trabalho corporal da maneira como proponho, esteja ele voltado para a dança, o teatro ou qualquer outra atividade, a primeira necessidade que se impõe é a derrubada da parede que separa a sala de aula, onde exercitamos nosso corpo, do mundo exterior, onde vivemos nossa vida cotidiana. Não podemos nos esquecer de que o corpo que queremos exercitar é o mesmo com o qual nos acostumamos a correr, brincar, amar ou sofrer. Quanto mais levarmos em conta essa dimensão existencial revelada por meio do nosso corpo, quanto mais considerarmos as dúvidas e os questionamentos que nascem na relação com o mundo exterior, mais proveitoso poderá vir a ser o trabalho realizado e tanto mais rico o resultado obtido.

Por outro lado, a relação professor-aluno não deve ser muito diferente das relações que mantemos com as pessoas em nossa vida diária. É muito comum, pelo menos nos estágios iniciais, a tendência do aluno a projetar no professor sua necessidade de um ponto de referência externo, uma figura destinada a absorver todo gênero de carências.

Mas, quando essa transferência ocorre e é detectada pelo professor, este deverá encontrar um meio de permitir que o aluno se dê conta do fato, pois assim poderá ajustar-se ao trabalho e a si mesmo. A relação do tipo professor-guru-onipotente e aluno-fiel-subserviente pode ser muito prejudicial ao trabalho que se está desenvolvendo, assim como à própria vida.

Ao longo desse processo, é fundamental considerar a relação mundo—eu, verdadeira origem e motor do movimento e da própria dança, pois é da dinâmica desse relacionamento que emerge a singularidade que faz de cada pessoa um ser único e diferenciado. Por meio da vivência da relação mundo—eu, o eu interno desabrocha a partir do amadurecimento do eu social, que nada mais é do que a forma de nos relacionarmos com o mundo exterior.

A descoberta do eu interno, de um ser único, individual e criativo, é indispensável ao exercício da dança, se quisermos que ela se torne uma forma de expressão da comunidade humana. Desde o nascimento somos submetidos a uma série de condicionamentos sociais, antes mesmo de vivermos os processos de educação formal —, o que acaba resultando em procedimentos mecânicos e repetitivos, dos quais não temos percepção ou consciência.

Se isso, de um lado, facilita a nossa existência cotidiana, de outro, afasta e dificulta o processo de autoconhecimento. Em outras palavras, a memória robotizada pode produzir formas já catalogadas e conhecidas, mas dificilmente criar movimentos novos e ricos em expressão.

E a dança não significa reproduzir apenas formas. A forma pura é fria, estática, repetitiva. Dançar é muito mais aventurar-se na grande viagem do movimento que é a vida. Nesse sentido, a forma pode comparar-se à morte e o movimento, à vida.

Os movimentos circulares são os mais relaxantes para o corpo. De certa forma, eles liberam as articulações e os grupos musculares, permitindo o equilíbrio ósseo e muscular, ao con¬trário da linha reta, que às vezes bloqueia e impede a exploração das mais diversas possibilidades de movimento.

Essa linha curva, ou redonda, vai gerando anéis musculares por todo o corpo. Estes, por sua vez, se não evoluírem para uma espiral, provocarão a tensão. Assim, o movimento circular deverá procurar sempre o caminho da espiral, de uma curva aberta, pois do contrário giraremos, mas seremos incapazes de sair do lugar.

De qualquer forma, técnica não é estética. Apesar de ter um sentido utilitário na dança, a essência da técnica constitui apenas uma forma de organizar e difundir um determinado conhecimento a respeito do próprio corpo e das possibilidades de movimento.

Essa técnica, portanto, deve ser cristalina, transparente, pois de que adianta fazermos uma série de movimentos formalmente considerados bonitos se isso não traduz ou expressa nada, se não há objetivo ou intenção naquilo que fazemos e se, acima de tudo, não contribui para nosso autoconhecimento?

Há uma mentalidade predominante que concebe a técnica como um fim em si, quando na verdade ela deve ser mais um meio eficaz e em plena sintonia com os fins que proponho atingir. E a técnica eficaz talvez seja aquela que torna possível extrapolar todos os falsos e repetitivos conceitos de beleza, que permite criar ou revelar a identidade entre a dança e o dançarino, entre quem dança e o que está sendo dançado.

Podemos dizer que o que faz a beleza de um movimento é a clareza, a objetividade. Quando o movimento é limpo, consegue expressar aquilo que busca expressar e, como consequência natural de sua verdade, ganha em beleza e emoção. Precisamente aí reside seu valor estético.

É muito difícil manifestar um sentimento, uma emoção, uma intenção, se me oriento mais por formas condicionadas e conceitos preestabelecidos do que pela verdade do meu gesto. O que confere autenticidade e expressão a um dado movimento coreográfico é precisamente o poder que ele tem de traduzir certas emoções, sentimentos ou sensações, de tal forma que seria impossível traduzi-los de outra forma ou por meio do recurso de outra linguagem. Ou seja: o que é dançado é dançado por alguém que vive intensamente aquele movimento, aquele gesto, e, por isso, consegue expressá-lo plenamente.

Quando soltamos nosso corpo — o que não significa despencar — , o movimento que executamos flui livremente, obedecendo a uma forma de organização natural, a uma linguagem gestual que, de algum modo, já constitui parte de nossa dinâmica e está em harmonia com nossa capacidade anatômica e funcional, com nossa capacidade de movimento.

Em contrapartida, as situações sociais e culturais influenciam muito o comportamento gestual e postural que adotamos. Por exemplo, as sociedades polinésia, havaiana e taitiana, célebres pela liberdade de costumes, produzem naqueles povos posturas e movimentos flexíveis e redondos, denotando o grau de liberdade que aquelas pessoas desfrutam. Já uma sociedade guerreira, de caçadores, como a de certas tribos africanas, produz posturas e movimentos fortes, intensos, de grande concentração e conteúdo rítmico.

As técnicas excessivamente formais, que desconsideram esses fatos, quase sempre caem no vazio, no limite dos gestos artificiais e desprovidos de emoção. Nesse caso, os movimentos são confusos e pouco objetivos, e o que se apresenta como emoção são apenas máscaras, artifícios tecnicamente produzidos, sem qualquer relação com um impulso vital. O que essas técnicas ignoram é a própria vitalidade do movimento.

Obviamente, nosso corpo necessita de certos códigos para que possa se exprimir. Entretanto, esses códigos devem brotar do movimento que executamos a partir de nossa própria linguagem gestual, daquela linguagem que empregamos no dia-a-dia.Tendo consciência dessa linguagem, posso me comunicar por intermédio dela, posso dançar com ela.

Se não conseguimos estabelecer um contato consciente com o nosso eu interior, contato que normalmente se perde a partir da infância, ficamos impotentes e incapazes de criar um verdadeiro diálogo, seja ele qual for. Em linguagem corporal, isso se traduzirá em gestos, posturas e atitudes medrosos, limitados, inseguros, revelando a maneira como nos projetamos no mundo.

O fato de cada pessoa ser, em síntese, o próprio mundo, um microcosmo, permite que ela encontre respostas para suas dúvidas, paixões e ansiedades quando mergulha com coragem e técnica em seu universo interior. Talvez seja isso que faz que grandes atores representem um mesmo personagem centenas de vezes, sempre de maneiras distintas. Ou seja: buscando em si a verdade daquele personagem, o ator pode conseguir a cada nova apresentação explorar aspectos novos e inéditos do ser fictício — mas ao mesmo tempo real — que encarna.

O mesmo processo aplica-se à construção dos tipos ou personagens do bale clássico: quando essa técnica é devidamente aplicada, as Giselles, Odetes e Copélias deixam de ser personagens acadêmicos para tornarem-se verdadeiros clássicos; deixam de ser estereótipos de personalidades humanas para atingir a dimensão de autênticos arquétipos da humanidade.

No teatro ou na dança, o ator e o bailarino desencadeiam, a partir de sua individualidade, um rico processo criativo, pelo qual os elementos técnicos adquiridos podem ser codificados e, em seguida, representados. A técnica cumpre aqui a tarefa de dar corpo e alma a cada tipo ou personagem que se queira representar. Este, para mim, deve ser o processo de criação capaz de produzir obras e manifestações verdadeiramente artísticas.

No terreno da arte, a obra só toma corpo na relação que o artista mantém com a realidade que o cerca, mesmo que essa relação seja atravessada pelas mediações mais sutis. O artista, como criador, mais do que ninguém necessita aguçar sua percepção do real, e o momento da criação pressupõe e ao mesmo tempo encerra o processo de autoconhecimento.

O corpo humano é uma síntese do universo. Não sou eu quem diz, nem tal coisa foi dita apenas no século xx. Mas sabe¬mos que no corpo todas as relações, todas as proporções universais estão de alguma forma contidas - e é precisamente essa infinidade de atributos, funções e possibilidades que faz do corpo um verdadeiro mistério.

Apesar de todo o conhecimento acumulado a seu respeito, o corpo humano ainda não foi completamente explorado e talvez nunca cheguemos a conclusões definitivas sobre suas potencialidades. De qualquer forma, sua existência revela a presença de algo cuja dimensão transcende a própria materialidade: aquilo que comumente chamamos de energia vital.

Atualmente, em diversos países, desenvolve-se um amplo trabalho no campo da bioenergética, que permite sustentar a ideia de que a energia é a base da própria vida. Como potencializar e canalizar essa energia em um sentido criativo é o que nos interessa mais de perto, tanto no domínio da arte quanto da própria vida.

Mesmo relativizando a onipotência que se costuma atribuir ao homem como ser racional, é impossível negar sua capacidade consciente de lançar mão dessa energia, modificando-se ou intervindo em processos naturais. A própria atividade biológica, caracterizada por um contínuo movimento, é a usina que produz essa energia vital e gera um fluxo energético que se processa por todas as áreas do corpo humano.

Em algumas dessas áreas, esse fluxo é bem mais visível, como nas mãos e nos pés, regiões que se comunicam com o mundo externo de forma muito mais intensa. Além dessas regiões, o plexo solar, o esterno, a garganta e a virilha são grandes centros nervosos nos quais também se realiza um intenso fluxo energético.

Por meio da energia vital produzida por minha atividade biológica relaciono-me com o mundo, comigo mesmo e com tudo que me cerca. Minha energia vital cresce na mesma medida que o meu trabalho corporal torna-se consciente. Quanto mais presente em mini mesmo eu estiver, quanto mais atento a cada gesto ou deslocamento, maior poderá ser a minha produção e concentração de energia vital.

Movido por essa necessidade fundamental — a consciência de mim — é que procuro, com o meu trabalho, proporcionar às pessoas uma consciência corporal baseada na percepção dos espaços internos do próprio corpo. Nesses espaços, que em geral correspondem às diversas articulações, localizam-se fluxos energéticos e inserem-se os vários grupos musculares.

Ainda é bom ressaltar que a preservação do espaço corporal atua para garantir uma boa relação de equilíbrio, pois quando se subtrai o espaço corporal, surge a tendência à diminuição da capacidade de equilíbrio e quando se consegue preservar e ampliar esse espaço, o equilíbrio alcança um ponto satisfatório.

Para entender essa relação, mesmo sabendo que o corpo constitui uma totalidade indivisível, podemos exemplificar dizendo que existem dois tipos de equilíbrio (ou desequilíbrio) que se influenciam mutuamente: o interno e o externo. Um dado equilíbrio (ou desequilíbrio) externo gera um dado equilíbrio (ou desequilíbrio) interno. E vice-versa.

Do mesmo modo, existe um espaço interior, emocional, mental, psicológico, e um espaço exterior, que é onde se manifesta a dinâmica do corpo. A sensação de equilíbrio corresponde ao momento ou aos momentos em que descobrimos uma maneira harmônica de utilização do espaço, em que equilíbrio interior e exterior já não se diferenciam mais.

O homem se insere no universo e atua como síntese desse universo de tal maneira que, ao me conhecer e conhecer a humanidade, estou desvendando o próprio universo. Essa relação pode ser esmiuçada até o nível celular, como parte de um processo ba¬seado na dialética da própria natureza, que conforma e dispõe as coisas e os homens independentemente de qualquer vontade.

Como homens e seres naturais, deveríamos considerar e procurar respeitar as leis da natureza também inerentes a nós.

O fato de sermos indivíduos culturais não elimina essa verdade, apesar de nos afastar cada vez mais dela. O que proponho é a retomada das leis naturais que regem toda existência, exatamente por meio do trabalho consciente.

Klauss Vianna, A Dança, páginas 110 até118

20111118

O que não é Relaxamento Consciente


Relaxamento Consciente é muito diferente de relaxar lendo um livro,ou vendo TV.

Lendo livro ou vendo TV, a pessoa raramente sabe o que está fazendo com o corpo e a respiração.
Relaxamento consciente é muito diferente do relaxamento do final da aula de Dança Contemporânea ou da aula de Pilates, pois em geral, no fim destas práticas, as pessoas estão com os músculos doloridos das repetiçõess e da falta de oxigenação muscular, não há uma preocupação em posicionar o corpo com excelência para a atividade de relaxar, não houveram antes práticas que despertarem mecanismos fisiológicos de relaxamento (como provocam os aasanas feitos com permanência) e a duração do relaxamento é curta (não dá tempo do mecanismo fisiológico de relaxamento de todo o corpo responder).

Relaxamento consciente é mais eficiente que uma noite de sono, pois durante o sono não sabemos o que fazemos com nosso corpo, com nossa respiração, e muitas pessoas não relaxam na cama o suficiente para ter uma noite de sono revigorante porque 'o cabeção' não desliga.

20111117

Yoga-Nidra


Segundo os Tantras, "A tranquilidade e a paz vêm de dentro para fora." Todos deveriam gozar da possibilidade de penetrar até o subconsciente de maneira a reconhecer as bases estruturais da sua personalidade, podendo assim resolver seus conflitos e tornar-se uma pessoa mais equilibrada (saudável).

  1.  Tensão física ou muscular gerada pelo sentimento de culpa por não vivenciar a plenitude do ser. Está ligado ao Brahma Granthi do Muladhara Chakra.
  2. Tensão emocional gerada pelo sentimento de aban-dono por não se sentir amado, necessário. Está ligada ao Vishnu Granthi do Anahata Chakra. 
  3.  Tensão mental ou psíquica gerada pelo sentimento de Inferioridade por não saber, verdadeiramente, quem é. Está ligada ao Shiva Granthi do Ajna Chakra.
 Os três tipos de tensão originam doenças, inibições, complexos, ansiedades e toda uma gama de sofrimentos. Estes sofrimentos, normalmente, estão ligados aos três complexos principais, que por sua vez estão ligados aos três Granthis, três principais dificuldades da passagem da energia sutil (Prāna) pela Susumna Nadi.
  
Desta forma, ressalta-se a necessidade de um processo de conscientização das tensões existentes e seu consequente relaxamento, ou vice-versa.
  
Os psicólogos dizem: "O completo relaxamento físico nos prepara para investigações mais profundas no campo do inconsciente."
  
Yoga-Nidra é conhecido como método de relaxa mas precisa-se dar ênfase ao fato de que ele objetiva o equilíbrio físico, mental e espiritual (essa divisão é meramente didática, não existindo na realidade) através do relaxamento profundo consciente.
  
A prática é baseada num rodízio de conscientização que a mente focaliza as diferentes partes do corpo, Pranayama, Chidakasa, Dharana e visualização interior.
  
Considerando que Yoga é um processo de comunhão, a integração dos conteúdos conscientes e inconscientes determina uma personalidade mais equilibrada e plenamente consciente.
  
Dessa forma, o relaxamento consciente alcançado em Yoga-Nidra possibilita observar (como espectador) uma liberação de imagens subconscientes carregadas de emoções e conteúdos que foram reprimidos, Sanskaras.
  
Esses conteúdos reprimidos são a causa de nossas tensões profundas e da constante inquietude da mente, e ficam interferindo subliminarmente em nossos comportamentos na vida diária. Condicionam nossos pensamentos conscientes e experiências, e nos compelem a reagir às situações de forma razoavelmente previsível.
  
Assim que se atinge o relaxamento profundo consciente, esses conteúdos passam a emergir e torna-se importante manter-se como observador, sem se envolver.
  
"A consciência é o que quebra os laços do envolvimento pessoal, sendo o meio de se libertar das impressões ou Samskaras.

Etapas do Processo Relaxamento
Pratyahara (Abstração dos Sentidos)
Aqui pretendemos desenvolver a capacidade da nossa de ignorar a abundância dos estímulos externos, interiorizando-se.
  
A mente, porém, comporta-se como uma criança rebelde. Faz exatamente o contrário do que queremos que faça. Assim, se nós a obrigarmos a pensar em fatos do mundo exterior enquanto os olhos estão fechados, a mente, aos poucos, tendo a perder o interesse neles e se fecha automaticamente, que é o que desejamos em Yoga-Nidra.
  
Deliberadamente fixamos a atenção em sons externos e saltamos de som para som, conservando a atitude de espectador. Depois de certo tempo, a mente perde o interesse nesses sons e se fecha para eles.
  
Afastamos os mais importantes meios de comunicação da nossa mente com o mundo exterior, pelo simples falo fecharmos os olhos e praticar Antar Mouna. Isso deixa o tato como fonte mais forte de estímulo do mundo exterior, paladar e o olfato são relativamente neutros.
As sensações do tato são quase anuladas se adotarmos a posição de Shavasana, em que os braços e pernas mantém-se afastados do corpo e as palmas das mãos voltadas para cima de maneira a evitar a estimulação táctil.
  
Rodízio de Conscientização
Tendo reduzido a interferência dos estímulos externos,a atenção tende a concentrar-se no corpo. Portanto, o passo seguinte é afastar a mente do corpo. Para atingir esse objetivo há uma conscientização deliberada de cada parte do corpo físico, em um rodízio que se repete um certo número de vezes.
  
Após algum tempo, percebemos que a mente demonstra uma tendência a interiorizar-se.
  
Além disso, esse rodízio vai provocando um acentuado relaxamento, que serve para diminuir de maneira considerável a penetração no cérebro dos estímulos físicos.
  
De modo geral, a parte seguinte do exercício é a consciência da presença da respiração, quando se pode introduzir alguma visualização, como por exemplo tentar ver nosso próprio corpo como se estivessemos fora dele.
  
A consciência ou a conscientização da respiração traz na maior introversão. Não se deve alterar o ritmo respiratório, apenas observá-lo.
  
O exercício continua na profundidade das emoções ou sensações psicossomáticas. Faz-se um rodízio de concientização de sensações. Primeiro, sensações de aspectos físicos, como leveza, calor, etc. Depois, passamos para o plano mental: dor, prazer, e, se for desejável, ira, medo, ciúme e amor.
  
Visualização
Neste momento a mente já está inteiramente introvertida, embora ainda haja consciência da voz do instrutor.
Esta é a fase em que vários pensamentos e imagens surgem do consciente e do subconsciente, interferindo no processo para a concentração. Em vez de bloquear esses pensamentos e imagens, nós nos utilizamos deles, fazendo um rodízio de conscientização por determinadas imagens e pensamentos, até que eles percam seu poder dispersivo. Usam-se outras imagens e símbolos que possam perturbar as camadas mais profundas da mente e trazer à tona seu conteúdo. Uma vez iniciado esse processo de purificação, a tendência é que ele prossiga espontaneamente. A indicação de que ele realmente continua é quando uma sucessão de pensamentos imagens emergem durante a prática de conscientização do espaço interior (Chidakash).
  
Nós devemos continuar como meros observadores o sucessão de imagens deve ser orientada rápida e ritmadamente.
  
Dharana
A sucessão de imagens tem dupla finalidade: desenvolver poderes de visualização e evitar a dispersão do consciente e do subconsciente, empregando o poder de associação. Nossa mente, então, concentra-se cada vez mais e nos torna receptivos e prontos para a prática de Dharana, quando o consciente focaliza determinado objeto por certo tempo.
  
Normalmente usamos a imagem de um ovo dourado, que é um símbolo psíquico muito poderoso e que facilita particularmente a concentração.
Meditação pura é a experiência da conscientização desse objeto dentro do inconsciente. Então, a fronteira entre consciente e inconsciente se desfaz e as imagens psíquicas desaparecem.
  
Resolução ou Propósito
A Resolução é uma ordem do consciente para o subconsciente. Depois o poder do subconsciente forçará a ordem a retornar ao consciente, e ela se manifestará em nossas ações e comportamentos.
Nossos pensamentos e ações de agora são influenciados por experiências passadas. Nossas experiências presentes determinarão nosso comportamento futuro. O ciclo de ação e reação chama-se Karma.
  
Não somos vítimas indefesas do destino; cada um de nós dentro de si o poder de moldar sua estrutura mental. A semente da mudança é o Propósito que formulamos em Yoga-Nidra.
  
É muito mais construtivo e aconselhável empregar a Resolução ou Propósito para um fim positivo que influencie uma vida, que inclua um desejo verdadeiro de mudar a personalidade. Ao obtermos um resultado assim, ganhamos automaticamente a força necessária para vencer hábitos e vícios indesejáveis.
  
Precisamos SENTIR o nosso Propósito, pois o inconsciente reconhece sugestões que trazem em si a força do impulso emocional e reage sob a influência delas.

Aspectos Psicológicos
No Ocidente, psicólogos descrevem a mente como tendo duas divisões principais: consciente e inconsciente.
  
O consciente predomina durante as horas em que estamos acordados. Sua característica básica é a noção do EU (Ego) e tem por função a resolução de problemas e o raciocínio (analisar, comparar e concluir).
  
Os seguidores de Freud afirmam que o inconsciente é o depósito de todas as experiências passadas não compreendidas, geralmente dolorosas. Estas experiências reprimidas ainda vivem e são a origem de nossas fobias e obsessões. Também no inconsciente localizam-se nossos instintos e desejos, permanentemente em luta para emergir no consciente, competindo pela própria expressão e satisfação.
  
Entre o consciente e o inconsciente existe um limiar de tensão que atua como Censor. Isto é, filtra que informações devem aflorar na consciência.
  
Esse Censor é necessário para nossa concentração no trabalho que executamos.
O Censor assimila ao longo da vida as informações (valores, conceitos, preconceitos, noções de certo e errado etc.), e de acordo com nossos complexos, inibições, simpatias e antipatias, ele alimenta o nosso consciente com as informações que se mostram mais "adequadas", determinando nossas ações e reações.
Se temos medo de algo, a informação sensorial será enviada ao consciente de acordo com o padrão de comportamento aprendido e "adequado", determinando a nossa resposta. Por exemplo: Um homem que aprendeu que "Homem não chora e não tem medo", diante de algo que o apavora, fingirá não ter sido atingido pelo estímulo. Enquanto isso, o conteúdo emocional correspondente à intensidade do estímulo (medo, insegurança, necessidade de gritar, chorar, fugir etc.), que é "inadequado" no padrão de comportamento aprendido, será bloqueado.
Os preconceitos do Censor nos impedem de ver o mundo claramente. Mas não impedem que o inconsciente esteja sempre alerta, enviando informações para o consciente, mesmo durante o sono.
  
A entrada nas áreas do inconsciente, onde estão nossa intuição e criatividade, nos é proibida, assim como o ingresso no âmbito geral do Inconsciente Coletivo (registro de experiências herdadas de nossa raça e de nossa cultura).
  
É claro que a Censura é necessária para que funcionemos bem, mas uma Censura muito restritiva pode separar-nos de partes positivas e esclarecidas da nossa mente, inibindo a capacidade de análise e questionamento.
  
Yoga-Nidra nos auxilia a harmonizar o consciente e o inconsciente e nos conduz a um estado em que a Censura não é necessária, pelo menos durante certo tempo.


'A Psicologia do Tantra', de Paulo Murilo Rosas, páginas 211 a 219.

20111029

Praticar (é) preciso



 Yoga Kuruntha

Yoga Kuruntha, ou, na tradução literal, Yoga das Marionetes, uma técnica do corpo de conhecimento do Yoga, utilizada principalmente no sul da Índia para aquecimento antes das práticas de aasanas. Em alguns livros antigos e tradicionais, como, por exemplo, o Kapala Kurantaka Hathabbyasa Paddhati, esses movimentos são chamados de Rajvasanani, que significa aasana realizadas com cordas. Ele consiste de movimentos feitos com a ajuda de cordas – daí o nome marionete - mas também utiliza argolas e o apoio parede. É de excelente ajuda para o aumento da flexibilidade corporal, o que possibilita um aprendizado mais harmonioso e rápido dos aasanas e posturas corporais. Além disso, como todo trabalho no Yoga, o trabalho com as cordas leva a um maior conhecimento do próprio corpo e da postura. Com isso, podemos dizer que o Kuruntha é um instrumento de reeducação corporal, tanto para pessoas sadias, de todas as idades como também para pessoas que apresentam algum tipo de dificuldade devido a problemas físicos, como, por exemplo, pessoas com problemas de coluna. É um agente de mudanças corporais pois leva ao aumento do tônus e de massa muscular, além do equilíbrio da lateralidade, dados benéficos para a saúde do corpo. Além desses benefícios, pode atuar como facilitador na aprendizagem das posturas utilizadas no Yogaasanas. Esse Yoga é difundido na atualidade, principalmente por B. K. S. lyengar, grande mestre de Hatha Yoga da atualidade.


Yoga Kurunta


O Tantra e a prática de Yoga Kuruntha

"A visão por trás da prática é o que faz a diferença", palavras que normalmente uso ao ser interpelado sobre o porque do Yoga Kuruntha ser uma das práticas utilizadas na metodologia de ensino. E o que está por trás é apenas uma palavra: equilíbrio. Ao trabalhar a flexibilidade e as principais articulações do corpo, estará sendo desbloqueada a passagem de energia pelos Cakras secundários (articulações), e com isso energizando corretamente os Cakras principais. Ao trabalhar a lateralidade estaremos energizando o lado direito (energia masculina) e o lado esquerdo (energia feminina) e conseqüentemente equilibrando as características masculinas e femininas da personalidade. Ou seja, trabalhando o físico, estaremos equilibrando o energético e a psique do indivíduo, levando-o ao equilíbrio em sua vida psíquica. Saúde psicológica e física decorrente do equilíbrio energético.

A escolha dos movimentos a serem realizados depende, assim como em todo trabalho tântrico, do que o indivíduo necessita no momento. Por isso, embora certos movimentos sejam realizados por quase todos os alunos, outros serão ou não, dependendo da necessidade individual.

Vemos que, muito mais do que uma simples ação corporal visando aquecimento e flexibilidade, o Yoga Kuruntha na prática tântrica ganha o status de auxiliar em mudanças físicas, psicológicas e energéticas, possibilitando vivenciar e ultrapassar aspectos psicológicos que bloqueiam o florescer da personalidade que está a caminho do equilíbrio.

Paulo Murilo Rosas, A Psicologia do Tantra, pag. 77 e 78

Yoga Kurunta

Yoga Kurunta

Yoga Kurunta

20111011

Supta Badha Konasana



Um bebê é  promessa do vir a ser, um mar de possibilidades.
É um ser que ainda não foi en-formado,ou de-formado.

Quando pratico Hatha Yoga, me sinto renovada,de alma limpa e lavada, com todas as possibilidades do porvir. Me sinto re-formada.
Hatha Yoga juvenesce.
.:.
Outra coisa interessante: o bebê da foto se encontra em uma posição, que lembra um aasana, e que pode ser observada em bebês de qualquer parte do mundo. Hatha Yoga é um patrimônio do corpo humano, viva esse humano em que parte do mundo estiver.

20111007

O seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo a vida de um outro alguém.
Não fique preso pelos dogmas, que é viver com os resultados da vida de outras pessoas.
Não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz interior.
E o mais importante: tenha coragem de seguir o seu próprio coração e a sua intuição.

Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar.
Todo o resto é secundário.
Steve Jobs


20111006

Pratyahara e Dharana

Esta postagem é um capítulo da obra Raja Yoga - O Caminho Real.
Também pode ser encontrado aqui.

Negritos e caixas altas são minhas intromissões.

'A etapa seguinte é chamada pratyahara. Que é pratyahara? Sabemos como nascem as percepções. Em primeiro lugar há os instrumentos externos, depois os órgãos internos, funcionando no corpo através dos centros cerebrais, e por último, a mente. Quando todos se juntam e se ligam a algum objeto externo, então, percebemo-lo. Ao mesmo tempo, é bastante difícil concentrar a mente e ligá-la a apenas um órgão; a mente é a escrava de objetos físicos.

Costumamos ouvir: “Sede bons”, “Sede bons”, “Sede bons”, que todo o mundo ensina. Não há criança em qualquer pais que seja. que não tenha sido ensinada: “Não roubes”, “Não mintas”; mas ninguém ensina à criança como evitar o roubo ou a mentira. Falar-lhe apenas não basta. Por que não se torna ela um ladrão? Não lhe ensinamos como não roubar; simplesmente dizemos: “Não roubes”. Só quando lhe ensinarmos a controlar sua mente, realmente ajudamo-la.

Todas as ações, internas e externas, ocorrem quando a mente se liga a determinados centros, chamados órgãos. Querendo ou não, as pessoas juntam suas mentes aos centros. Essa, a razão por que cometem ações tolas e sentem-se infelizes. Porém, se tivessem a mente sob controle, não agiriam assim. Qual seria o resultado de controlar-se a mente? Seria o de evitar que ela ficasse ligada aos centros de percepção, e, naturalmente, o sentir e o querer estariam sob controle. E’ claro até aqui. Mas, isto é possível? Certamente que sim; vemo-lo praticado nos tempos atuais. Os curadores pela fé ensinam as pessoas a negarem a desgraça, a dor e o mal. Sua filosofia é um tanto vaga, porém, de uma ou outra forma, tropeçaram numa parte da yoga. Onde conseguem obter que uma pessoa se desembarace do sofrimento, negando-o, realmente utilizam uma parte de pratyahara, pois tornam a mente da pessoa, forte bastante para ignorar os sentidos. Os hipnotizadores, de maneira similar, por sua sugestão, provocam no paciente, por certo tempo uma espécie de pratyahara mórbido. A sugestão pseudo-hipnótica age somente sobre a mente fraca; e a menos que o operador, por meio de olhar fixo ou algo parecido, tenha conseguido colocar a mente do paciente numa espécie de condição mórbida, passiva, suas sugestões jamais conseguem qualquer resultado.

O controle temporário dos centros de um paciente, feito por um hipnotizador ou por um curador pela fé, é repreensível, porque conduz à ruína inevitável. Não se trata realmente de controlar os centros nervosos pelo poder do livre-arbítrio do paciente, mas sim, entorpecer-lhe a mente, por algum tempo, graças a golpes súbitos que a vontade de outrem lhe desfecha. É corno, para refrear a louca corrida de uma fogosa parelha, ao invés de utilizar as rédeas e a força muscular, pedir a outra pessoa que desfeche fortes golpes na cabeça dos animais, a fim de, tonteando-os, torná-los dóceis durante certo tempo. Em cada uma dessas atuações, a pessoa, sobre a qual se trabalha, perde parte de suas energias mentais, até que sua mente, ao invés de obter a faculdade de controle perfeito, torna- se em massa informe, impotente, e o paciente termina num asilo de loucos.

Toda tentativa de controle, não-voluntário, feita sem a vontade do indivíduo, não apenas é desastrosa mas também engana seu próprio objetivo. O fim de toda alma é a liberdade, o domínio – liberdade da escravidão da matéria e do pensamento, domínio da :natureza externa e interna. Em lugar de conduzir a esse resultado, toda corrente de vontade de outra pessoa, sob qualquer forma, controlando diretamente os órgãos ou forçando a que sejam controlados sob condições mórbidas, apenas forja mais um elo à pesada cadeia, já existente, da servidão das ações e superstições passadas. Portanto, cuidado, quando vos permitirdes a ação de outras pessoas sobre vós. Cuidado como, sem o saber, levais outras pessoas à ruína. Verdadeiramente alguns conseguem fazer o bem a muitos, por um certo tempo, dando novo caminho às suas propensões; mas levam, simultaneamente, a ruína a milhões, por sugestões inconscientes que semeiam a seu redor, despertando nos homens e mulheres aquela condição mórbida, passiva, hipnótica, que os torna, finalmente, quase despidos de alma.

Aquele que pede a outros que o creiam cegamente, ou que arrasta as pessoas atrás de si pelo poder controlador de sua vontade mais forte, ofende a Humanidade, ainda que o não pretenda. Usai, portanto, a mente, controlai corpo e mente, vós mesmos, e lembrai-vos que a menos de serdes enfermos, nenhuma vontade estranha poderá agir sobre vós. Evitai todos, grandes ou bons, que vos pedem crença cega.

Por todo mundo existiram seitas de danças, de pulos e uivos, cuja influência se espalha como infecção, conforme cantam, dançam e pregam; também elas são espécies de hipnotismo. Exercitam singular controle, durante certo tempo, sobre as pessoas sensitivas – mas por desgraça, acabam freqüentemente fazendo degenerar raças inteiras. Sim, é mais saudável para o indivíduo ou para a raça, permanecerem perversos, do que se tornarem aparentemente bons por um controle tão mórbido e esquisito. Dói-nos o coração pensar quanto mal é feito à Humanidade por tais fanáticos religiosos irresponsáveis, animados todavia de boas intenções. Não sabem que as mentes que sofrem brusca reviravolta espiritual sob suas sugestões, com música e rezas, vão simplesmente se tornando mórbidas, passivas, impotentes e vulneráveis a quaisquer outras sugestões, por piores que sejam. Mal sonham essas pessoas, ignorantes e enganadas, que enquanto se felicitam pelo poder miraculoso de transformar os corações humanos, cujo poder, pensam, foi-lhes outorgado por algum Ser acima das nuvens, estão semeando futura decadência, crime, loucura e morte. Portanto, acautelai-vos de tudo que vos despoja da liberdade. Sabei que é perigoso e evitai-o, por todos os meios possíveis.

Aquele que pôde, à vontade, ligar ou tirar sua mente dos diferentes centros, obteve êxito em pratyahara, palavra cujo significado é “acumular para o futuro”, refrear a capacidade dispersiva da mente, libertá-la do domínio dos sentidos. Quando o conseguirmos, teremos realmente formado nosso caráter, teremos feito um longo estirão na trilha da liberdade; enquanto isso, somos meras máquinas.

Quão árduo é controlar a mente! Bem foi ela comparada ao macaquinho maluco, da história. Havia um macaquinho, inquieto por sua própria natureza, como todos os macacos. Como se não bastasse isso, alguém o fez beber bastante vinho, de forma que se tornou ainda mais irrequieto. Então, um escorpião o ferrou. Quando uma pessoa é ferrada por um escorpião, salta de dor durante todo um dia, O pobre macaquinho sentiu-se absolutamente miserável. E para completar sua desgraça, um demônio o possuiu. Que palavras podem descrever a sua incontrolável inquietação? A mente humana assemelha-se ao macaquinho. Incessantemente ativa por sua própria natureza, embriaga-se com o vinho do desejo, que lhe aumenta a turbulência. Depois que o desejo apoderou-se dela, vem o ferrão do escorpião do ciúme pelo sucesso dos outros; e por fim o demônio do orgulho instala-se na mente, fazendo-a atribuir-se muita importância. Quão árduo o controle da mente!

Portanto, a primeira lição é sentar-se por um tempo e deixar vagar a mente. Ela está em efervescência durante a maior parte do tempo. Assemelha-se àquele saltitante macaquinho. Que o macaco salte quanto queira; simplesmente esperai e observai. Conhecimento é poder, diz o provérbio, e é verdadeiro. A menos que se saiba o que a mente está fazendo, não se a pode controlar. Entregai-lhe as rédeas, talvez surjam muitos terríveis pensamentos; ficareis admirados ao ver que é possível ter tais pensamentos; mas encontrareis que a cada dia que passa, as divagações da mente serão menos violentas, que gradualmente ela se vai tornando mais tranqüila. Nos primeiros meses notareis na mente uma infinidade de pensamentos; depois, que vão diminuindo e que em mais alguns meses serão bem poucos, até que, por fim, a mente estará sob perfeito controle. Mas deveis praticar pacientemente, dia a dia, Enquanto há vapor, a locomotiva corre; enquanto as coisas existem perante nós, percebemo-las. Da mesma forma uma pessoa, para provar que não é uma máquina, deve demonstrar que não está sub- missa a nenhum domínio. Controlar a mente e não permitir que ela se ligue aos centros, é pratyahara. Como consegui-lo? É um trabalho imenso; não pode ser feito num dia. Somente pelo esforço contínuo, paciente, durante anos, teremos êxito.

Depois de praticardes pratyahara por algum tempo, dai o passo seguinte, dharana, que consiste em fixar a mente em certos pontos. Que significa fixar a mente em certos pontos? Obrigá-la a sentir certas partes do corpo, com exclusão de outras. Tentai, por exemplo, sentir somente a mão. Quando chitta, ou estofo mental, está confinado e limitado a um certo local, temos dharana. Dharana é de várias espécies, e simultaneamente com sua prática, deve-se dar livre curso à imaginação. Por exemplo, levemos a mente a pensar sobre um ponto no coração, o que é muito difícil. É mais fácil imaginar que ali existe um lótus efulgente de luz. Fixai a mente sobre ele. Ou então, pensai em um lótus cheio de luz, no cérebro ou nos diferente centros, já mencionados, do Sushumna.

O yogui precisa praticar sempre. Deve tentar viver só; a companhia de diferentes espécies de pessoas distrai a mente. Não deve falar muito, porque a fala distrai a mente; não deve trabalhar muito, porque muito trabalho distrai a mente; a mente não pode ser controlada depois de um dia inteiro de trabalho árduo. Só observando essas regras podemos nos tornar yoguis.

Tão grande é o poder da yoga que mesmo uma prática muito pequena traz-nos imenso benefício. A ninguém prejudica, todos serão beneficiados. Em primeiro lugar fará diminuir o excitamento nervoso, trará paz, capacitando-nos a ver mais claramente as coisas. Temperamento e saúde se tornarão melhores. Ótima saúde será um dos primeiros sinais, assim como uma bela voz. Os defeitos da voz serão corrigidos. São estes alguns dos muitos efeitos que advirão. Os que praticarem bastante e intensamente conhecerão outros sinais. Haverá sons, como uma porção de sinos soando à distância, aproximando-se e se fazendo sentir de forma contínua ao ouvido. As vezes, ver-se-ão coisas – pequenas réstias de luz flutuando e aumentando; e quando tais coisas aparecerem, sabei que progredis, rapidamente. Aqueles que desejam ser yoguis e praticar muito, devem, no início, cuidar de sua dieta. Mas os que desejam apenas uma pequena prática para uma vida diária de negócios – que não comam muito; de outra forma, podem comer o que lhes agradar.

 Para os que desejam progredir rapidamente e praticar muito, é absolutamente indispensável uma estrita dieta. Encontrarão vantajoso viver apenas de leite e cereais, por alguns meses. À medida que a organização geral do corpo se torna mais fina, notar-se-á que a mínima irregularidade pode romper o equilíbrio. Um pedacinho de comida a mais, ou a menos, prejudicará todo o sistema, até que se obtenha perfeito controle e se possa comer o que se deseja. Quando uma pessoa começa a se concentrar, a queda de um simples alfinete soará, no cérebro, como um estrondo. Os órgãos vão se tornando mais finos e também as percepções. Estes, os estágios através dos quais temos de passar. Todos aqueles que perseveram, obtêm resultado. Abandonai toda discussão e outras distrações. O que pode haver em uma querela intelectual seca? Só tira a mente de seu equilíbrio e a prejudica. As coisas dos planos mais sutis devem ser realizadas. A mera conversa poderá consegui-lo? Abandonai toda conversa fútil. Lede somente livros escritos por pessoas que tiveram experiências espirituais.

Sede como a ostra que produz a pérola. Unia linda fábula hindu diz que, quando uma gota de chuva cai numa ostra, estando a estrela Swati no ascendente, aquela gota se torna em pérola. As ostras sabem disso; vêm então à superfície quando surge a estrela e aguardam as gotas preciosas. Quando uma gota cai dentro delas, fecham rapidamente as carapaças e mergulham, para o fundo do mar, onde pacientemente transformam a gota em pérola. Deveis ser assim. Primeiro ouvi, depois entendei, e deixando de lado toda distração, cerrai vossas mentes às influências externas e dedicai-vos a desenvolver a verdade dentro de vós. Há o perigo de desperdiçar as energias pelo fato de tomar uma idéia só pela sua novidade, abandonando-a por outra mais nova. Tomai uma coisa seriamente, segui-a, ide até o fim e enquanto não o fizerdes, não a abandoneis. Aquele que pode se tornar louco com uma idéia, verá a luz. Aqueles que apanham uma migalha aqui, outra ali, nunca chegarão a nada. Podem excitar seus nervos uni momento, mas param aí. Serão escravos nas mãos da natureza e nunca irão além dos sentidos.

Os que realmente desejam ser yoguis devem renunciar, urna vez por todas, esse mendigar de coisas. Apoderai-vos de uma idéia; fazei dela a vossa vida, pensai nela, sonhai com ela, vivei dela. Que cérebro, músculos, nervos, cada parte de vosso corpo se encha dessa idéia. Deixai de lado toda as outras. Eis o caminho do sucesso, o único que constrói gigantes espirituais. Outros são meros gramofones. Se realmente queremos ser abençoados e tornar os outros abençoados, devemos ir mais fundo.

O primeiro passo é não perturbar a mente, não nos ligarmos a pessoas cujas idéias possam nos inquietar. Todos sabeis que certas pessoas, certos lugares, certos alimentos, vos repugnam. Evitai-os; os que desejam realizar o mais elevado devem evitar companhia, boa ou má. Praticai firmes; se viveis ou morreis, tanto faz, Deveis mergulhar, e trabalhar sem almejar o resultado. Sede valentes e em seis meses vos tomareis perfeitos yoguis. Mas aqueles que tomam uni pouquinho disso e um tanto do restante, não progridem. De nada vale só o assistir a uma série de aulas. Aqueles que são cheios de tamas, ignorantes e inertes, cujas mentes jamais se fixam sobre qualquer idéia, que buscam sempre algo que os divirta, a religião e a filosofia são simples objetos de entretenimento.estes são os que não perseveram. Ouvem uma palestra, acham-na interessante, e depois vão para casa e se esquecem dela. Para obter sucesso é necessário tremenda perseverança, vontade extraordinária. “Beberei o oceano e à minha vontade as montanhas ruirão”, diz a alma perseverante. Enchei-vos dessa energia, dessa vontade. Trabalhai duro. E chegareis à meta.'

20111004

Filosofias da Forma: Stanley Keleman

Corpar



Esta é uma parte de  uma conferência que faz parte do livro 'Vínculos' de Stanley Keleman (pág 132 e 133).


Keleman oferece uma descrição objetiva e clara dos processos conscienciais, mentais e psicofísicos que acontecem ao longo de uma prática constante e viva de Hatha Yoga. A diferença fundamental é que o processo pelo Hatha Yoga tem pouca verbalização, e se quem está guiando a prática tiver formação em Iyengar Yoga, vai identificar e oferecer caminhos individuais para  reorganizar as distorções que acontecem nos aasanas em função da carga psicofísica de cada um que está praticando.
Neste texto ele também desenha o papel que o professor de Hatha Yoga assume enquanto ajudador/terapeuta.

Os Cinco Passos: somatizando o vínculo

PASSO UM: Peço ao cliente para descrever sua postura somática com relação a mim, por exemplo, ser submisso, ficar a postos para lutar ou tentar me agradar. Ele pode descobrir que seu estilo aplacador envolve a organização muscular de enrijecer o pescoço e sorrir, ou estufar o peito, uma postura psicológica de bravura exagerada ou sexualidade. Ele começa a reconhecer, no PASSO DOIS, seu padrão de contrações musculares. Ele vê como estão conectadas as lembranças, associações e sentimentos de mágoas passadas, em situações nas quais ele precisava defender a si mesmo muscular e psicologicamente. Ele reconhece o quanto está misturado ou imerso na sua história de mágoas e desapontamentos e como projeta as necessidades do passado no presente, fazendo do terapeuta uma figura de autoridade amedrontadora ou receptiva.

Quando desafiado a desorganizar seu padrão, lentamente desmanchando sua organização emocional e muscular, PASSO TRÊS, o cliente começa a sentir o medo de estar sem estrutura. Ele pode se lembrar do terror ou do desamparo e senti-los internalizados. Separação e desorganização ajudam a criar uma distância daquilo que foi internalizado e cindido do autoconhecimento. Por exemplo, o pescoço rígido de aplacação esconde sentimentos de terror, associados à rejeição do outro. No PASSO TRÊS, desorganização, o terror é transferido para o terapeuta, que é chamado a não agir como OS pais ou as autoridades do passado. Além disso, o desamparo do cliente pode transformar-se em raiva ou choro. Como terapeuta, você lida com sua própria reação ao terror, ao desamparo, à raiva ou às lágrimas do cliente e tenta ensinar-lhe que a desorganização não precisa ser associada ao desamparo do passado. Assim, ele pode aprender a conviver com a sua desorganização emocional.

Quando formas internalizadas de vínculos passados são desorganizadas, o cliente entra num estágio sem forma, o PASSO QUATRO. Aqui, as imagens e sentimentos passados incubam e o cliente aprende a integrar as lições da sua dor de modo diferente. Esse lugar da restauração emocional, muscular, psicológica, dá surgimento aos sentimentos e Insights que capacitam o cliente a fazer outro tipo de vínculo com pessoas significativas, o PASSO CINCO. Esse passo demanda uma atitude responsiva e interativa por parte do terapeuta. Formar um novo vínculo não é somente um ato da imaginação ou do sentimento; envolve as maneiras pelas quais o cliente pratica usar seu cérebro e músculos para integrar a aprendizagem emocional, imaginativa, com uma conexão de contato que ele possa controlar ou gerenciar.

Esse processo dos cinco passos do vínculo, desmanchar o vínculo e revincular, é um padrão pulsatório de expansão e contração, organização e desorganização. É semelhante ao embrião mudando de forma em 280 dias, ou a uma criança aprendendo a se vincular com a mãe e, depois, alterando esse vínculo para entrar na adolescência e na condição adulta. Todo pessoa se vincula e desmancha vínculos muitas vezes — como embrião, bebé, criança, adolescente, adulto, idoso, e na morte. A pulsação entre os pólos da existência envolve a vinculação e a mudança de vínculos, e é o que um terapeuta acompanha, à medida que seus clientes tentam reviver esses estágios e reconhecer e formar os sentimentos que foram cindidos. Os Cinco Passos contêm a esfera de ação do experienciar humano, o processo básico do como internalizamos o mundo e, depois, o projetamos para fora. Nesse processo, produzimos nossa própria forma. Quando um cliente pode aceitar que, em qualquer situação dada, seu próprio self vem à superfície, ele não tem mais medo de sua vida ou do que a vida lhe trará, seja o que for. Esse é o objetivo central da terapia somática.

O terapeuta alinha aos Cinco Passos à história ou situação do cliente, ao modo como ele a organiza, como vai desorganizá-la, o que acontecerá se ele não fizer nada e como ele vai usar essas experiências para se vincular novamente. Um ajudador que trabalha na linha somática fica atento ao modo como um cliente exagera sua situação, ao modo corno ele desestrutura esse exagero, ao modo como ele repousa nos lagos naturais do fluxos e refluxos e ao modo como se organiza para surgir novamente com seus insights. Esses são os Cinco Passos.

Os Cinco Passos são a maneira pela qual o cliente corporifica sua experiência e desestrutura seu passado. O ajudador se une ao cliente para desestruturar sua experiência passada ou organizar uma estrutura para as suas experiências presentes, embora haja envolvimento do passado. Estabelecer e desmanchar vínculos tem a ver com organizar uma identidade. Para entender melhor um cliente, um terapeuta deveria se perguntar se ele está desorganizando, dando sustentação ou reorganizando uma forma.

.:.

Ao longo de cada prática, ou de cada aula, passamos por vários aasanas que explicitam nossa intenção por trás de cada gesto (agressividade, submissão, superficialidade, falsidade, inchaço, colapso, ...) e por vezes, nos colocam em contato com as emoções que nutrem e sustentam estes estados. Cada aasana é uma chave psicofísica que desmonta um estado mental-emocional-físico perverso, é presenciando este processo que o praticante/aluno adquire Consciência.

O papel do professor é ficar atendo ao desenrolar da 'história ou situação do cliente, ao modo como ele a organiza, como vai desorganizá-la, o que acontecerá se ele não fizer nada e como ele vai usar essas experiências para se vincular novamente. Um ajudador que trabalha na linha somática fica atento ao modo como um cliente exagera sua situação, ao modo corno ele desestrutura esse exagero, ao modo como ele repousa nos lagos naturais do fluxos e refluxos e ao modo como se organiza para surgir novamente com seus insights.'