20111004

Corpar



Esta é uma parte de  uma conferência que faz parte do livro 'Vínculos' de Stanley Keleman (pág 132 e 133).


Keleman oferece uma descrição objetiva e clara dos processos conscienciais, mentais e psicofísicos que acontecem ao longo de uma prática constante e viva de Hatha Yoga. A diferença fundamental é que o processo pelo Hatha Yoga tem pouca verbalização, e se quem está guiando a prática tiver formação em Iyengar Yoga, vai identificar e oferecer caminhos individuais para  reorganizar as distorções que acontecem nos aasanas em função da carga psicofísica de cada um que está praticando.
Neste texto ele também desenha o papel que o professor de Hatha Yoga assume enquanto ajudador/terapeuta.

Os Cinco Passos: somatizando o vínculo

PASSO UM: Peço ao cliente para descrever sua postura somática com relação a mim, por exemplo, ser submisso, ficar a postos para lutar ou tentar me agradar. Ele pode descobrir que seu estilo aplacador envolve a organização muscular de enrijecer o pescoço e sorrir, ou estufar o peito, uma postura psicológica de bravura exagerada ou sexualidade. Ele começa a reconhecer, no PASSO DOIS, seu padrão de contrações musculares. Ele vê como estão conectadas as lembranças, associações e sentimentos de mágoas passadas, em situações nas quais ele precisava defender a si mesmo muscular e psicologicamente. Ele reconhece o quanto está misturado ou imerso na sua história de mágoas e desapontamentos e como projeta as necessidades do passado no presente, fazendo do terapeuta uma figura de autoridade amedrontadora ou receptiva.

Quando desafiado a desorganizar seu padrão, lentamente desmanchando sua organização emocional e muscular, PASSO TRÊS, o cliente começa a sentir o medo de estar sem estrutura. Ele pode se lembrar do terror ou do desamparo e senti-los internalizados. Separação e desorganização ajudam a criar uma distância daquilo que foi internalizado e cindido do autoconhecimento. Por exemplo, o pescoço rígido de aplacação esconde sentimentos de terror, associados à rejeição do outro. No PASSO TRÊS, desorganização, o terror é transferido para o terapeuta, que é chamado a não agir como OS pais ou as autoridades do passado. Além disso, o desamparo do cliente pode transformar-se em raiva ou choro. Como terapeuta, você lida com sua própria reação ao terror, ao desamparo, à raiva ou às lágrimas do cliente e tenta ensinar-lhe que a desorganização não precisa ser associada ao desamparo do passado. Assim, ele pode aprender a conviver com a sua desorganização emocional.

Quando formas internalizadas de vínculos passados são desorganizadas, o cliente entra num estágio sem forma, o PASSO QUATRO. Aqui, as imagens e sentimentos passados incubam e o cliente aprende a integrar as lições da sua dor de modo diferente. Esse lugar da restauração emocional, muscular, psicológica, dá surgimento aos sentimentos e Insights que capacitam o cliente a fazer outro tipo de vínculo com pessoas significativas, o PASSO CINCO. Esse passo demanda uma atitude responsiva e interativa por parte do terapeuta. Formar um novo vínculo não é somente um ato da imaginação ou do sentimento; envolve as maneiras pelas quais o cliente pratica usar seu cérebro e músculos para integrar a aprendizagem emocional, imaginativa, com uma conexão de contato que ele possa controlar ou gerenciar.

Esse processo dos cinco passos do vínculo, desmanchar o vínculo e revincular, é um padrão pulsatório de expansão e contração, organização e desorganização. É semelhante ao embrião mudando de forma em 280 dias, ou a uma criança aprendendo a se vincular com a mãe e, depois, alterando esse vínculo para entrar na adolescência e na condição adulta. Todo pessoa se vincula e desmancha vínculos muitas vezes — como embrião, bebé, criança, adolescente, adulto, idoso, e na morte. A pulsação entre os pólos da existência envolve a vinculação e a mudança de vínculos, e é o que um terapeuta acompanha, à medida que seus clientes tentam reviver esses estágios e reconhecer e formar os sentimentos que foram cindidos. Os Cinco Passos contêm a esfera de ação do experienciar humano, o processo básico do como internalizamos o mundo e, depois, o projetamos para fora. Nesse processo, produzimos nossa própria forma. Quando um cliente pode aceitar que, em qualquer situação dada, seu próprio self vem à superfície, ele não tem mais medo de sua vida ou do que a vida lhe trará, seja o que for. Esse é o objetivo central da terapia somática.

O terapeuta alinha aos Cinco Passos à história ou situação do cliente, ao modo como ele a organiza, como vai desorganizá-la, o que acontecerá se ele não fizer nada e como ele vai usar essas experiências para se vincular novamente. Um ajudador que trabalha na linha somática fica atento ao modo como um cliente exagera sua situação, ao modo corno ele desestrutura esse exagero, ao modo como ele repousa nos lagos naturais do fluxos e refluxos e ao modo como se organiza para surgir novamente com seus insights. Esses são os Cinco Passos.

Os Cinco Passos são a maneira pela qual o cliente corporifica sua experiência e desestrutura seu passado. O ajudador se une ao cliente para desestruturar sua experiência passada ou organizar uma estrutura para as suas experiências presentes, embora haja envolvimento do passado. Estabelecer e desmanchar vínculos tem a ver com organizar uma identidade. Para entender melhor um cliente, um terapeuta deveria se perguntar se ele está desorganizando, dando sustentação ou reorganizando uma forma.

.:.

Ao longo de cada prática, ou de cada aula, passamos por vários aasanas que explicitam nossa intenção por trás de cada gesto (agressividade, submissão, superficialidade, falsidade, inchaço, colapso, ...) e por vezes, nos colocam em contato com as emoções que nutrem e sustentam estes estados. Cada aasana é uma chave psicofísica que desmonta um estado mental-emocional-físico perverso, é presenciando este processo que o praticante/aluno adquire Consciência.

O papel do professor é ficar atendo ao desenrolar da 'história ou situação do cliente, ao modo como ele a organiza, como vai desorganizá-la, o que acontecerá se ele não fizer nada e como ele vai usar essas experiências para se vincular novamente. Um ajudador que trabalha na linha somática fica atento ao modo como um cliente exagera sua situação, ao modo corno ele desestrutura esse exagero, ao modo como ele repousa nos lagos naturais do fluxos e refluxos e ao modo como se organiza para surgir novamente com seus insights.'

Nenhum comentário:

Postar um comentário