20081130

Leituras de Domingo


Pegue sua cama de faquir, o tema faz pinicar:

Verdade, mentira, falácia, sofisma e paradigma.

O Poeta Carlos Drummond de Andrade é quem melhor explica nossa habitual habilidade em investir na verdade. Ou contra ela...


Verdade


A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.


O Poeta nos alerta: já foi ao oftalmologista este ano?
Também fala de AMORR como poucos, o poeta.
( AMORRR preenche todos os espaços, apessar de não ser o foco, o tema nesta hora...)
E é o ' segundo mandamento ' dos praticantes de Yoga: Satya.


Mentira [men.ti.ra(lat mentita, com dissimilação) sf 1 Ato de mentir; afirmação contrária à verdade, engano propositado. 2 Hábito de mentir. 3 Engano da mente, engano dos sentidos, falsa persuasão, juízo falso. Antôn: verdade.] contrário da verdade [ver.da.de(lat veritate) sf 1 Aquilo que é ou existe com toda a certeza. 2 Conformidade das coisas com o conceito que a mente forma delas. 3 Concepção clara de uma realidade. 4 Sinceridade, boa-fé. 5 Juízo ou proposição que não se pode negar.], e o mito é a verdade com a roupa da mentira, já que pouquíssimos suportam mirar (n)a verdade.

A mentira pode ferir, denigrir, arruinar. (Parte 1) (Parte 2)

Você acredita piamente em tudo que ouve ou lê?
Você se faz as perguntas básicas quando ouve/lê algo:
  • Quem é a pessoa que está falando/escrevendo?
  • Para quem esta pessoa fala/escreve? Para si, para alguns, para todos?
  • Por que esta pessoa fala/escreve?
  • Como essa pessoa fala/escreve?
  • O que a pessoa fala/escreve faz sentido?
  • A pessoa fala/escreve respirado, com frescor, vivacidade ou repete feito papagaio?

Falácia e Sofisma se parecem: são argumentos falhos ou falsos usados como verdade, ou ainda, argumentos mal conduzidos ou mal direcionados. O que faz a diferença entre uma e a outra é a intenção de quem faz uso delas: sofismantes (=amantes do sofisma) visam obscurecer o entendimento das pessoas com quem resolvem dividir o 'conhecimento'.


Veja aqui como somos pródigos em gerar falácias, e a partir de agora, vigie ao menos suas palavras (bacanérrimo se conseguir vigiar também os pensamentos e escolher suas atitudes), pois no mais das vezes, estamos educando outras pessoas pelas nossas atitudes e palavras, mesmo quem não é educador natural (mãe, pai, familiares) ou institucional (professor, instrutor, monitor).


Paradigma [pa.ra.dig.ma(gr parádeigma) sm Modelo, padrão.] são todas as afirmações, regras, prescrições, comportamentos, ações, pensamentos que aceitamos como verdade absoluta para cada um de nós sem comprovação prévia, sem experimentar.



Lembre-se: para experimentar sem culpa, é do Bem que você se dê a possibilidade de se bancar, que você tenha posse de si mesmo.

20081129

Massagem


O toque de um professor de ioga no corpo não é como o toque de uma massagem. E mais que massagem - é um auto-ajustamento que a massagem não consegue produzir. O efeito desse toque é permanente porque fazemos a pessoa entender de modo subjetivo o que está ocorrendo em seu corpo. Na massagem, você não pode fazer isso. Você usa força, e o efeito só é momentâneo. O princípio é o mesmo, mas o efeito não dura.

Vocês não devem misturar massagem com ioga. Se fizerem, bem-feito, um pouco de ioga e depois massagem, perceberão no dia seguinte o que aconteceu. Estarão esgotados fisicamente! A massagem relaxa, mas é um relaxamento forçado, que vem da manipulação externa. O ioga é alongamento - um alongamento que dá ao corpo liberdade para relaxar por si. Esse é o relaxamento natural.

B. K. S. Iyengar - A Árvore do Ioga – A eterna sabedoria do Ioga aplicada à vida diária, pág 79


Bem, não sei a repeito de qual tipo de massagem Iyengar se refere.

Já recebi vários tipos de massagem, todas elas relacionadas com técnicas de consciência corporal e que sempre trouxeram luz e novo entendimento sobre a textura e os limites de meu corpo. E em menhuma das vezes, prejudicou minha prática de Yoga (sadhana), muito pelo contrário.

Atualmente, recebo regularmente a Yoga-Massagem-Ayurvédica, desenvolvida por Kusum Modak, que foi aluna de Iyengar durante cerca de 20 anos.

É uma técnica de massagem que une o Yoga e a tradicional massagem ayurvédica, que trabalha de forma intensa e correta a direção óssea, o espaço articular e as cadeias musculares, usa de alongamentos e das trações baseadas no Hatha Yoga e no Método Iyengar onde o massageado permanece ativo e interagente na execução da massagem.

É profunda, tanto físicamente, onde ficam claros os volumes, a densidade e a interação de cada parte do corpo e a influência dos padrões da respiração entre as partes do corpo, quanto psiquicamente, onde podemos redesenhar o tamanho e os limites do Self, redefinir suas cores.

Benefícios:

Em nenhuma das vezes saí esgotada fisicamente, e as práticas de Yoga que fiz após receber a massagem, respeitando o tempo de 2 horas de repouso entre uma técnica outra (massagem e Yoga) foram profundas, das mais provocativas e perceptivas de todo meu sadhana.

Também fiz prática de Yoga antes de receber a massagem e não me senti exaurida depois, a massagem apoiou e reforçou a conquista e a conscientização dos novos espaços internos no corpo e na mente .


Alguém tem sabe se Iyengar mudou essa escrita?
Alguém sabe se Iyengar conhece a técnica da Kusum?
Ambos residem em Pune...

Solidário

As pessoas em Santa Catarina precisam de:

Você pode se juntar aos que já estão organizados e ativos:

Site oficial da Defesa Civil da Santa Catarina

Se souber de outras ações corretas, deixe o contato nos comentários.

20081127

Dhyana

O texto que segue é o seminário sobre Dhyana apresentado por Flávia, Luiz e Sabina, na disciplina de Filosofia em novembro de 2008 do Curso de Formação de Professores de Iyengar do Yoga Dham, que foi gentilmente cedido por eles.

Dhyana

Definições,cantos e sutras:

Dhyana é contemplar, meditar.

Para Patanjali, a meditação representa a continuidade de um estado de concentração unidirecionada e profunda da consciência; é a porta de acesso à experiência de integração

Georg Feuerstein explica assim a meditação: “Todas as idéias que surgem giram em torno do objeto de concentração e são acompanhadas por uma disposição emocional calma e pacífica. Não se perde a lucidez; muito pelo contrário, a impressão que se tem é de estar-se ainda mais desperto, embora a consciência do ambiente externo seja pouca ou nenhuma”.

Para o psicólogo britânico John H.Clark, a meditação é um método pelo qual a pessoa se concentra cada vez mais em cada vez menos coisas, com o objetivo de esvaziar a mente sem perder, paradoxalmente, o estado de alerta.

Yoga sutras que dizem respeito à Dhyana:


1.39 (yatha abhimata dhyanat va)

Ou pela contemplação ou concentração em qualquer objeto ou atitude que se goste, ou em direção ao que se tem predileção, a mente se torna estável e tranquila.

* yatha = de acordo com
* abhimata = sua própria predisposição, escolha, desejo, vontade, gosto, familiaridade, preferência.
* dhyanat = medite em
* va = ou outras práticas dos sutras(1.34-1.39)

Este sutra torna claro que a chave principal para a estabilização da mente e a remoção dos obstáculos é ter apenas um foco para a concentração. A escolha deste foco será dada pela própria percepção e inteligência da pessoa.

Todos sabemos que o princípio de focar em algo agradável significa estabilizar a mente. Entretanto, a conveniência do objeto escolhido é outro assunto. Ver TV, jogar, ouvir música, conversar, etc., podem ser eficazes para sossegar parcialmente a agitação mental das atividades do dia. O foco está em cada uma dessas atividades e pode haver algum benefício, mas aquele que medita aprenderá a escolher objetos mais sofisticados para estabilizar a mente para a meditação.
Este sutra fala apenas da estabilização e clareza da mente e não da meditação profunda. Nesse nível o foco fornece uma base sólida para a prática mais refinada, mais sutil de meditação.


2.11 (dhyana heyah tat vrittayah)

Quando as flutuações mentais ainda têm algum potencial de coloração, elas são trazidas para o estado de simples latência através da meditação.

* dhyana = meditação
* heyah = é reduzida, abandonada, destruída
* tat = que
* vrittayah = atividades, flutuações, modificações mentais

Este sutra descreve o processo pelo qual algumas flutuações mentais reduzidas, são ainda mais enfraquecidas ou abandonadas pela meditação. Este processo funciona mais ou menos assim:

1. Estabilização da mente;
2. Redução da maior parte das flutuações mentais;
3. Transformá-las numa semente ;
4. Desintegrando-as de volta para o campo mental.

É uma linha divisória entre o trabalho mental em níveis grosseiros e as explorações mais sutis da mente. Ele pode ajudar muito na compreensão geral dos yogasutras.

3.2 (tatra pratyaya ekatanata dhyanam)

A permanência ou ininterrupção do fluxo neste foco único é chamado de absorção na meditação. O objeto ou a área do corpo interiorizado preenche todo o espaço da consciência.

* tatra = aí,neste lugar
* pratyaya = a causa, a sensação, o princípio causal ou cognitivo, noção, idéia apresentada
* ekatanata = eka = um; tanata = fluxo continuo de atenção ininterrupta
* dhyanam = meditação

Absorção no objeto - A concentração contínua em um foco é meditação. Normalmente, quando não há distração, há um momento de concentração. No momento seguinte vem a desatenção, e depois a atenção volta ao objeto da concentração. Quando a distração não mais ocorre, acontece a meditação.

Outro jeito de descrever o processo de meditação é que há uma contínua série de concentrações individuais num mesmo objeto ao invés de uma concentração contínua.

A meditação é decorrente de uma técnica que exige um longo e perseverante aprendizado. Neste estágio, a paciência e a determinação têm grande importância pois, no início, os exercícios de meditação parecem monótonos.

Dhyana não pode ser praticada por quem está estressado, possui corpo frágil, tem a coluna envergada, a mente agitada ou timidez. Ela está relacionada com uma faculdade mental superior, que exige preparo. A meditação não remove o estresse, não fortalece o corpo nem endireita a coluna. É necessária uma preparação no sentido de remover as condições inadequadas do corpo e da mente antes de iniciar a meditação.

Para Iyengar, é por meio do ássana que conseguimos relaxar o cérebro. Em geral, identificamos o cérebro com a cabeça. No ássana, a consciência se espalha pelo corpo e se irradia para cada célula deste corpo, criando uma percepção completa. Assim, o pensamento carregado de estresse é esvaziado e a mente focaliza o corpo, a inteligência e a percepção como um todo. O cérebro fica mais receptivo e a concentração se torna natural.

Em “A Luz da Yoga” o mestre ensina: “o yogue conquista o corpo pela prática de ássanas, tornando-o um veículo adequado para o espírito” e, sabiamente conclui, “uma alma sem um corpo é como uma alma sem seu poder de voar”.

Nós, praticantes de Iyengar yoga, sabemos por nossa própria experiência, que as condições inadequadas do corpo, como a fragilidade e a coluna envergada, são naturalmente dissipadas pela prática correta e constante dos ássanas.

Dessa maneira, aprendemos que Dhyana está relacionada com uma faculdade mental superior que exige preparação. Se o professor diz ao aluno: “relaxe o cérebro!” obviamente não conseguirá seu intento, mas, se colocá-lo em uma posição de halássana, o cérebro naturalmente se aquietará. É deste modo que podemos utilizar o corpo para cultivar a mente.

E, em seu visitadíssimo blog do yogue, o professor Sandro Bosco compartilha com os internautas seu vasto conhecimento: “A meditação na postura é fruto de uma atenção plena no corpo físico. É o caminho da percepção, segundo a segundo, da unidade de todas as partes do corpo que controem a postura. São lampejos de liberdade que se prolongam com a prática regular. Isto traz o yoga rasa, o néctar do yoga!”


3.4 (trayam ekatra samyama)

Os 3 processos de concentração, meditação e samadhi usados juntos num mesmo objeto, lugar ou ponto denominam-se samyama

* trayam = os três
* ekatra = junto, como um só
* samyama = dharana concentração, dhyana–meditação e samadhi juntos

Dharana, Dhyana e Samadhi são os 3 últimos degraus do yoga e juntos denominam-se samyama.

A interiorização da atenção é feita através de 3 estágios:
* A atenção perfeitamente centrada e dirigida leva à concentração
* A concentração leva à meditação
* A meditação leva ao samadhi

No samyama, o objeto de dharana, dhyana e samadhi é um só. Através dele, a verdadeira natureza do objeto é vista e ele é afastado com desapego.


3.11 (sarvarathata ekagrata ksaya udaya chittasya samadhi-parinamah)

O domínio denominado Samadhi-parinamah é a transição por meio da qual a tendência da dispersão cede, enquanto que a tendência do foco em um só ponto aparece.

* sarvarathata = vários focos, todos os pontos
* ekagrata = um foco
* ksaya = decrescer, destruir, decair
* udaya = cresce, eleva
* chittasya = da consciência do campo mental
* samadhi-parinamah = transição para Samadhi, estado de perfeita concentração, nível mais elevado de meditação.

O estado de vários focos de pensamento refere-se à tendência da mente ser puxada em diversas direções, em samadhi-parinamah essa tendência cede, diminui, quando a mente se concentra ou foca em um só ponto. Todos nós experienciamos estas duas tendências no dia-a-dia. Este sutra nos orienta sobre o surgimento deste foco em um único ponto. Neste samadhi-parinamah há o testemunho da transição para o samadhi.

Ocorre a concentração extrema. Quando, em dharana, a atenção chega a seu ápice, nesse momento, o objeto de observação e o observador se fundem em pura consciência, tornando-se um só.


3.12 (tatah punah shanta-uditau tulya-pratyayau chittasya ekagrata-parinimah)

O controle denominado ekagrata-parinamah é a transição em que o mesmo foco se eleva e diminui sucessivamente.

* tatah = então
* punah = de novo, sucessivamente
* shanta-uditau = diminuição e elevação, passado e presente
* tulya-pratyayau = assemelhar-se
* chittasya = da consciência da mente
* ekagrata-parinimah = transição do foco único

O sutra anterior descreve que os diversos focos diminuem e o foco único aflora. Agora, neste sutra, o foco único diminui apenas para crescer novamente. Não há diversos focos, apenas vários ciclos de um único ponto. É a transição sendo experienciada.

A experiência e domínio sobre as próprias transições fornece o domínio sobre o processo do pensamento para ir além e vivenciar o centro da consciência.


4.6 (tatra dhyana jam anasayam)

No campo das consciências individuais da mente, a que surge da meditação é livre de impressões latentes que poderiam produzir karma. A consciência gerada pela meditação é livre de depósitos, portanto, de desejos e aflições.

* tatra = destas
* dhyana = meditação
* jam = nasce
* anasayam = livre de impressões depositadas ou de veículos kármicos, sem depósito de influências passadas.

MEDITAÇÃO

Dhyana



É a condução da mente complexa a um estado de simplicidade e inocência sem ignorância.
É a totalidade experimentada do centro para a periferia.
É o caminho para eliminar o Klesas, que nada mais é que as 5 aflições naturais e inatas que afligem a todos nós.
Klesas :
1. Avidya => ignorância
2. Asmita => orgulho
3. Raga => apego/desejo
4. Dvesa => aversão
5. Abhinivesa=> medo da morte

A maioria das pessoas começa a praticar as posturas da yoga por questões práticas, poucas procuram por meio da iluminação espiritual.

Iyengar também não conhecia a glória do yoga, também estava atrás de benefícios físicos. E foi quando descobriu que a prática o levou da enfermidade para saúde, da fraqueza para a força.Seu corpo foi laboratório e testemunha das vantagens da yoga.

Quando reconhecemos os benefícios sentimos que algo está começando a acontecer, como uma nova sensação de leveza, calma e alegria, trazendo conhecimento que eleva a sabedoria. Conhecer a si mesmo é conhecer seu corpo, sua mente, sua alma. Esta jornada interior permitirá uma integração dos aspectos da existência como:

Estas camadas do nosso ser incorporam as oito pétalas da yoga que se revelam gradualmente.

1) Yama = ética externas
2) Niyama= observância, éticas internas
3) Asana= posturas
4) Pranayama= controle da respiração
5) Pratyahara= controle e recolhimento dos sentimentos
6) Dharana= concentração
7) Dhyana= meditação
8) Samadhi= absorção no êxtase

CÓDIGO DE COMPORTAMENTO


A medida que viajamos do exterior para o interior exploramos cada uma delas. Aprendemos a desenvolver controle sobre nossas ações no mundo externo e nos ajudam a desenvolver a autodisciplina. Todos sabemos que a mente afeta o corpo e quando os sentidos da percepção se voltam para dentro experimentamos o controle, o silêncio e a quietude da mente.

As três últimas pétalas constituem a integração final da yoga, mas que só se entra em um estado meditativo quando se tem alicerce e para isto existem duas principais práticas importantes que favorecem esse estado (asana- trabalha a expansão e extensão dos nervos e músculos libertando das tensões do corpo por meio de movimento, pranaiama- irrigação de energia), tornando-se o caminho para a cura do estresse, tensão e a pressa. Essas duas práticas são o meio de nos encaminhar para a sabedoria, conhecimento de si e do mundo, bem como a devoção, relaxando e libertando-nos da ansiedade, embora a yoga inicie-se com “culto ao corpo”, mas só aprendendo a relaxar o cérebro é que se remove o estresse.

Iyengar define ainda a meditação como contenção da consciência, da turbulência à calma absoluta. O indivíduo quer responder as questões, Quem sou eu? Qual é a origem de minha existência? Há um Deus que posso conhecer?

A prática da meditação se estende em torno do samadhi absorção e imersão total da existência ou divindade universal.

A Yoga é uma escada que subimos, estamos no sétimo degrau e todo nosso peso repousa sobre ele e igualmente nas pétalas anteriores, pois todos serviram para treinar e nos colocar na melhor forma.

É necessário refinar o que já se realizou, por isto devemos continuar nos questionando, pois onde há orgulho a ignorância estará sempre presente.


PRÁTICA DE MEDITAÇÃO (DHYANA)

Muitas pessoas, erroneamente, acreditam que a meditação produz resultados instantâneos: pensam que basta se sentar e aguardar que o processo funcionará como um passe de mágica, encantando o meditador e levando-o a um mundo sem pensamentos, pleno de bem-aventurança, quietude e brilho. Quando essas experiências não acontecem nas primeiras semanas de meditação, os novos praticantes crêem que estão fazendo alguma coisa errada ou que a sua técnica é ineficaz. Consequentemente, devido a esse entendimento errôneo, eles interrompem a prática.

O que se deve esperar das primeiras semanas de meditação? A mente é como um macaco enlouquecido por picadas de escorpiões, disse o grande iogue Ramakrishana, e as pessoas que começam a meditar e tentam concentrar-se sabem que isso é verdade. Principalmente no começo, a mente é insubordinada e incontrolável. Quando você se senta para meditar, muitos pensamentos surgem e sua mente vagueia, por vários motivos: sons e ruídos externos desviam sua concentração, seu corpo não fica quieto e você finalmente se levanta pensando que nada aconteceu.

Mas algo mudou! Com a prática regular você desenvolve a capacidade de manter a mente firme. Assim como o corpo de um atleta adquire grande força física e vitalidade com o treinamento diário, a pessoa que medita com dedicação desenvolve força mental e capacidade para concentrar-se. Somente com o passar do tempo é que surge o estágio em que conseguimos verdadeiramente fixar nossa mente no objeto da meditação e permanecer nele – então a verdadeira meditação é realizada. A função da meditação é trabalhar o interior da mente e eliminar todas as reações de ações passadas, registradas em nosso subconsciente. É como limpar uma casa. No meio do processo, a casa pode parecer mais suja do que no inicio, mas perseverando e não desistindo no meio, conseguimos limpá-la. Da mesma forma, perseverando na meditação, a mente se purifica cada vez mais.

Meditação é o esforço para controlar e desenvolver a mente, a fim de realizar a verdadeira natureza do ser humano. É o meio através do qual podemos desenvolver todo o nosso potencial em todos os níveis da existência: físico, mental e espiritual.

Ioga é meditação e meditação é ioga
O Presente é o estado de meditação
Meditação pertence a todos está inerente em cada um de nós
Tudo está dentro de você
Testemunhar o Pensamento (Observar)
Meditar sem expectativas
Meditar é o silêncio interior

Sugestões para a prática:

* Manter o corpo confortável
* Limpeza interna (observar suas negatividades)
* Limpeza externa (higiene do corpo)
* Alimentação (não comer demais, nem de menos)
* Roupa confortável
* Manta ou cobertor para se manter aquecido
* Foco para a mente não julgar
* Mantra (libera a mente) ou uma palavra com significado pessoal (amor, paz).

Preparação do local:

* Desligar tudo que leva sua atenção para fora
* Local ventilado e inspirador
* No inicio não ser rígido com tempo e horário
* Manter o compromisso
* Diário: depois de meditar, escrever o que você viu ou sentiu
* Ásanas que preparam o corpo: Baddhakonasana (abertura do quadril), Uttanasana, Upavista konasana (afastamento das pernas)
* Asanas de meditação: Padmásana (Lótus), Sukasana, Siddhásana
* Apoio do quadril – os joelhos não podem ultrapassar a linha do quadril, ajustar a altura do apoio para não ficar com nenhuma tensão muscular.

Aspectos fisiológicos:

* Alteração do metabolismo
* Redução da taxa metabólica
* Redução do consumo de oxigênio
* Redução do Lactato
* Diminuição dos batimentos cardíacos
* Baixa da pressão arterial em até 20%

Técnicas que serão aplicadas na parte prática do seminário:

1. Visualizar um campo e prestar atenção ao primeiro pensamento que vier
2. Ontem e amanhã. Deixar os pensamentos virem e apenas “rotular” como passado ou futuro.
3. Observar a respiração, na entrada e saída do ar.

Fontes:
B.K.S.Iyengar – A Luz da Yoga; Luz na Vida.
Georg Feuerstein – A tradição do Yoga .
John H.Clark - Um Mapa dos Estados Mentais.
Swamij.com/yoga-sutras.htm
http://blogdoyogue.blog.uol.com.br/
Avadhútika Ánandamitra Ácarya - Yoga para a Saúde Integral
Pedro Kupfer - Guia de Meditação
Shrii Shrii Anandamurti (P.R.Sarkar) - A Liberação da Mente através do Tantra Yoga
Cantos: por Mark Giubarelli no site www.patanjali.sutras.com

Ássana

O texto que segue é o seminário sobre Ássana apresentado por Maria Aparecida Fernandes e Tábita Pacheco Costa, na disciplina de Filosofia em setembro de 2008 do Curso de Formação de Professores de Iyengar do Yoga Dham, que foi gentilmente cedido por elas.

ÁSSANA


1. Definição de Ássana por B. K. S. Iyengar

Ássana é o terceiro estágio dos oito passos de Patanjali. Iyengar o define como uma das mais significantes ferramentas que ajuda o aluno a se desenvolver fisicamente e espiritualmente. Enfatiza que é necessário colocar o coração na prática do ássana para se tornar mestre das circunstâncias, da vida e do tempo.

A prática do ássana traz estabilidade, saúde e leveza ao corpo, não é um mero exercício físico, pois trabalha com cada músculo, nervo e glândula do corpo, garantindo um físico harmonioso, forte e elástico, mantendo-o livre de doenças. Treina, disciplina e esculpe a mente.

Em o “Luz na Vida”, Iyengar conta como iniciou sua jornada na yoga, que como a maioria das pessoas, foi pela procura dos benefícios físicos. Foi uma pessoa que nasceu com muitas enfermidades e se fortaleceu com a prática do ássana, mas descobriu que a yoga traz a realização espiritual. Ele cita que a maioria das pessoas que procuram a yoga por benefícios físicos, são pessoas de vida prática, anseios práticos, logo a yoga faz uma espécie de jogo com o corpo e com o eu e é se jogando que se aprendem as regras. Como o corpo é o veículo da alma, é preciso um corpo saudável para alcançar a libertação.

Não pode haver realização espiritual e existencial sem o suporte do veículo encarnado da Alma, o corpo de carne e osso, desde os ossos até o cérebro. Todos temos alguma percepção do que é o comportamento ético,mas, para chegar aos níveis mais profundos de yama e niyama, devemos cultivar a mente. Necessitamos de contentamento, tranqüilidade, serenidade, altruísmo, qualidades que precisam ser conquistadas. É o ássana que nos ensina a fisiologia dessas virtudes.

Para a execução de um ássana é necessário estar absorvido, com devoção, dedicação, atenção, honestidade na abordagem e apresentação. Tem de ter , coragem, determinação e consciência. Para Iyengar o ássana é uma arte de posicionar o corpo todo com atitude física, mental e espiritual.

A prática das posturas protege dos perigos e vicissitudes dos extremos. É preciso construir no corpo e na mente uma força moral que permita ter um controle sensato sobre si.
O capítulo 2 trará a definição de ássana e os efeitos da prática pelos sutras de Patanjali.

2. Sutras de Patanjali

II.46 sthira sukham āsanam

Tradução do Iyengar:
sthira: firme, fixo, constante, estável
sukham: felicidade, prazeroso
āsanam: posturas

Ássana é a perfeita firmeza do corpo, estabilidade da inteligência e benevolência do espírito.”

Iyengar interpreta este sutra da forma como o ássana deve ser executado: sentimento de firmeza, estabilidade e permanência no corpo trazendo inteligência à mente e contentamento ao coração.

Atenção e disciplina devem ser aplicados na prática de cada ássana para penetrar as camadas mais profundas do corpo. O ássana meditativo deve ser cultivado pelas fibras, células, juntas e músculos em cooperação com a mente.

Na execução de qualquer ássana o corpo precisa estar firme para a mente se tornar serena e harmoniosa. Mas o ássana não deve ser executado com agressividade no alongamento dos músculos ou dos tecidos da pele. O espaço deve ser criado para que a pele receba as ações dos músculos, juntas e ligamentos. Com isso a pele envia mensagens para o cérebro, mente e inteligência com julgamento apropriado das ações. É quando a ação e a reação se harmonizam.

A prática de ássanas dá clareza ao sistema nervoso, fazendo a energia fluir por todos os outros sistemas do corpo sem obstrução.

Cada ássana tem cinco funções de execução: conativo, cognitivo, mental, intelectual e espiritual. No livro a Árvore do Ioga”, Iyengar explica as cinco funções da seguinte maneira:

O termo conatus significa esforço, impulso, o aspecto ativo da mente, que inclui desejo e volição. Ação conativa é apenas a ação física no seu nível mais direto. A ação cognitiva é quando os órgãos de percepção – pele, olhos, ouvidos e nariz – sentem o que está acontecendo com a carne na postura fisicamente realizada. A ação de comunhão acontece quando a mente observa o contato entre a cognição da pele e a ação conativa da carne, chegando assim à ação mental do ássana. A mente age como ponte entre o movimento muscular e a ação dos órgãos de percepção, introduzindo o intelecto e ligando-o com todas as partes do corpo – fibras, tecidos, células – com isso surge uma nova percepção. Quando a mente analisa todas as partes do corpo vindas da ação, então se alcança o estágio de ação reflexiva. A prática espiritual da yoga é quando há a reunião total, sem flutuações da ação conativa, cognitiva, mental e reflexiva, compondo a conscientização plena.

Ocorre integração quando existe unidade da célula ao eu, do corpo físico ao âmago, do ser, quando a postura se torna contemplativa no seu estado mais elevado.

Tradução de Satchidananda:
Asana é uma postura firme e confortável.
- qualquer posição que traga conforto e estabilidade é um asana;
- basta dominar com perfeição um asana;
- para isso é preciso que o corpo esteja livre de toxinas físicas e mentais, pois estas criam enrijecimento e tensão;
- para conseguirmos uma postura meditativa é que foi criado o Hatha Yoga;
- através da prática dos asanas é possível livrar-se das toxinas;
- as verdades do Hatha Yoga são como ouro, outras coisas perdem o valor, mas o ouro é sempre o mesmo.

Tradução de Taimni:
A postura (deve ser) estável e confortável.

- os estudantes da filosofia do yoga devem compreender a diferença da prática de posturas no Hatha-Yoga e no Raja-Yoga;
- o Hatha-Yoga é baseado no princípio de que é possível produzir mudanças na consciência colocando em movimento correntes de certos tipos de forças sutis (prana e kundalini) a partir do corpo físico;
- para tal o corpo deve estar completamente saudável e pronto para o influxo e a manipulação dessas forças;
- em Raja-Yoga o método adotado para operar mudanças na consciência é controlar a mente pela vontade, suprimindo as citta-vrttis;
- o yogue deve eliminar completamente as perturbações provenientes do corpo físico;
- o yogue deve escolher qualquer uma das posições conhecidas como adequadas à meditação (padmasana ou siddhasana) e permenecer nessa postura por longos períodos sem fazer o menor movimento;
- com o tempo o yogue torna-se capaz de manter a postura indefinidamente a ponto de se esquecer completamente do corpo;
- para Taimni estável significa imóvel no sentido de fixar o corpo em determinada postura e manté-lo completamente imobilizado com relaxamento;
“Um determinado asana é considerado dominado quando o sadhaka pode mantê-lo estável (...) por quatro horas e vinte minutos”.


II.47 prayatna śaithilya ananta samāpattibhyām

prayatna: perseverança no esforço, aplicação contínua, empenho
śaithilya: relaxamento
ananta: infinito, ilimitado, eterno
samāpattibhyām: assumindo forma original, conclusão

Tradução do Iyengar:
A perfeição em um ássana é alcançada somente quando o esforço para executá-lo se torna sem esforço e o estado de infinito íntimo é alcançado.”

Perfeição no ássana é alcançada somente quando o esforço cessa, transborda a infinita estabilidade e permite que o veículo finito, o corpo, emerja ao observador.

O sādhaka pode estar firme na sua postura sem que haja necessidade de grandes esforços. Com a estabilidade ele pode penetrar dentro da mais profunda camada do corpo. Ele alcança o relaxamento mantendo a firmeza e a extensão do corpo. Daí é capaz de ler, pensar, escutar e penetrar no infinito, pois está imerso e indivisível com o universo. Alguns acreditam que é possível se tornar mestre do ássana rendendo-se a Deus.

Quando o sādhaka alcança o estado de equilíbrio, atenção, extensão, difusão e relaxamento, toma lugar simultaneamente no corpo a inteligência e eles emergem no assento da alma. Este é o sinal da libertação das dualidades entre o prazer e a dor, contração e extensão, calor e frio, honra e deshonra, etc.
Perfeição no ássana traz felicidade e beatitude.

O verdadeiro asana é aquele em que o pensamento de Brahman flui sem o menor esforço e incessantemente através da mente do sadhaka.” (Iyengar)

Tradução de Satchidananda:
Pela diminuição da tendência natural à intranqüilidade e pela meditação sobre o infinito, tem-se o domínio da postura.
- os sentidos querem experimentar muitas coisas, assim sendo nosso organismo fica muito poluído com as toxinas que nele penetram;
- para nos tranqüilizarmos devemos pensar em coisas estáveis;
- na tradição hindu costuma-se pensar em Adisesha, a serpente de mil cabeças que sustenta o mundo;
- essa imagem não deve ser entendida literalmente, mas devemos entender que a naja é uma imagem da força por conseguir manter a maior parte de seu corpo no ar;
- é através da quietude do corpo que dominaremos a intranqüilidade da mente;
- um dos mestres de Satchidananda costumava dizer: “Você não precisa repetir quaisquer orações ou mesmo praticar japa. Apenas sente-se tranqüilamente durante três horas a fio sem qualquer movimento que seja, sem nem mesmo piscar e tudo será então conseguido”;
- a importância de se fazer um voto e se manter inabalável no cumprimento desse voto (exemplo p. 159) como forma de dominar a mente.

Tradução de Taimni:
Pelo relaxamento do esforço e da meditação no “Infinito” (a postura é dominada.
- a manutenção de uma postura por longos períodos de tempo requer uma enorme força de vontade e para isso a mente deve ser dirigida constantemente para o corpo para impedir que este se movimente;
- Patanjali oferece duas alternativas para libertar a mente do corpo
- a primeira: para conseguir libertar a mente da consciência do corpo, o sadhaka deve aos poucos ir relaxando o esforço e transferindo o controle do corpo da mente consciente para a mente subconsciente;
- a segunda: meditar sobre ananta, a grande serpente que sustenta a terra, o que significa compreender que ananta é uma metáfora da força que mantém o equilíbrio da Terra.


II.48 tatah dvandvāh anabhighātah

tatah: então
dvandvāh: dualidades, oposições
anabhighātah: retenção das perturbações

Tradução do Iyengar:
Então, o sādhaka não é perturbado pelas dualidades.”

O propósito do ássana é pôr um fim às dualidades ou diferenciações entre corpo e mente, mente e alma. O sādhaka se torna único entre corpo, mente e alma.

Quando corpo, mente e a alma se unem através da execução de uma postura com perfeição, o sādhaka se encontra em um estado de beatitude. Neste estado, a mente que, é a raiz da percepção dual, perde sua identidade e cessam as perturbações. Isso é a unidade entre corpo, mente e alma. Não há contentamento ou sofrimento, calor ou frio, honra ou desonra, dor ou prazer. Esta é a perfeição na ação e liberdade na consciência.
Desaparecendo as dualidades através do domínio dos ássanas, o sādhaka está apto ao próximo passo, o pranaiama o quarto estágio da yoga.

Tradução de Satchidananda:
Conseqüentemente, alguém jamais é perturbado pelas dualidades.
- em uma postura firme e confortável não somos afetados pelas dualidades porque a mente está sob controle;
- mesmo, às vezes, ao nos irritarmos não perderemos o controle da situação.

Tradução de Taimni:
Então não há ataque dos pares de opostos.
- aqui o sadhaka ganha resistência aos pares de opostos existentes tanto no ambiente externo como no ambiente interno do corpo, que fazem a nossa vida oscilar constantemente;
- os pares de opostos, que produzem a distração (viksepa), podem ser, como por exemplo, o calor e frio, que afetam o nosso corpo físico ou como a alegria e a tristeza que afetam a nossa mente;
- outros benefícios: um corpo saudável e resistente à fadiga e à tensão;
- adquirir aptidão para a prática de pranayama e o desenvolvimento da força de vontade.


III.45 sthūla svarūpa sūkşma avaya arthavatva samyamāt bhūtajayah

sthūla: densidade
svarūpa: forma, atributos
sūkşma: sutil
avaya: total penetração, comunhão
arthavatva: propósito, totalidade
samyamāt: por contenção, restrição
bhūtajayah: maestria sobre os elementos

Tradução do Iyengar:
Pelo controle dos elementos da natureza – suas massas, formas, corpos sutis, comunhão e propósito, o yogue se torna Senhor sobre todos eles.”

Por contenção, o yogue ganha controle sobre a densidade e os elementos sutis da natureza, suas formas e gunas, tanto como seu propósito.

O Universo é constituído de elementos básicos da natureza (prakrti): terra, água, fogo, ar e éter. Cada elemento possui cinco atributos: massa, corpo sutil, forma, total penetração ou não, propósito.

A característica da forma corpórea dos elementos é: sólida, fluídica, calor, mobilidade e volume. Destes corpos, formam-se olfato, paladar, visão, tato e audição. Destas inter relações estão os três gunas, cujo o propósito é a liberdade ou beatitude.

O elemento terra tem cinco propriedades: som, tato, visão, paladar e cheiro. A água tem quatro: som tato, visão e sabor. O fogo três: som tato e visão. O ar tem som e tato e o éter tem uma única qualidade que é a do som.

Tradução de Satchidananda:
Por meio do samyama sobre os elementos grosseiros e sutis, e sobre a sua natureza essencial, correlações e objetivos, adquire-se o domínio sobre eles.

Tradução de Taimni:
Domínio dos panca-bhutas (é obtido) pela aplicação de samyama aos seus estados denso, constante, sutil, inter-penetrante e funcional.
- panca-bhutas são as diferentes qualidades ou princípios corporificados, em diversos graus, em uma determinada coisa e que tornam essa coisa única, diferente de todo o resto;
- o domínio dos panca-bhutas só é obtido através do conhecimento direto, ou seja, da unificação da consciência com a coisa em si, o que só ocorre em samadhi.


III.46 tatah animādi prādurbhāvah kāyasampat taddharma anabhighātah ca

tatah: daí
animādi: poder de se tornar mínimo e tão forte
prādurbhāvah: manifestação, aparência
kāya: do corpo
sampat: perfeição
tad: deles
dharma: atribuição, função
anabhighātah: não resistência não obstrução, indestrutível
ca: e

Tradução do Iyengar:
Da perfeição do corpo nasce (ou surge) a habilidade de resistir ao jogo dos elementos e (obter) poderes como anima (ou a capacidade de tornar-se bem pequeno)”.

O yogue pode reduzir ou expandir sua forma conscientemente. Pode se tornar leve ou pesado, pode perfurar rochedos e ter maestria e acesso a tudo.

Este sutra indica que pela conquista dos elementos, um yogue ganha maestria em três campos. O primeiro é a aquisição dos oito poderes supernaturais. O segundo é a perfeição do corpo no qual a terra não o suja, a água o umedeça e o fogo o queime. O vento não pode movê-lo e o espaço não pode ocultar seu corpo em qualquer lugar e em qualquer tempo.. O terceiro é a imunidade de lidar com os elementos e suas características e suas obstruções e distúrbios nos quais são criados.

Tradução de Satchidananda:
Daí vem a conquista de anima e outros siddhis, perfeição corporal e a não obstrução de funções corporais pela influência dos elementos.

(NOTA: Os oito principais siddhis que aqui se alude são: anima (tornar-se muito pequeno); mahima ( tornar-se muito grande); laghima (muito leve); garima (pesado); prapti (chegar a qualquer lugar); prakamya (realizar todos os desejos de alguém); isatva (capacidade para criar qualquer coisa); vasitva (capacidade para comandar e controlar tudo).

Tradução de Taimni:
Daí a obtenção de animan etc., a perfeição do corpo e a não obstrução de suas funções pelo poderes (dos elementos).
- como o primeiro resultado do domínio dos panca-bhutas advém os oito poderes ocultos ou maha-siddhis;
- os maha-siddhis são: animan, laghiman, gariman, prapti, prakamya, isatva, vasitva;
- o segundo resultado é a perfeição do corpo físico;
- o terceiro resultado é a imunidade da ação natural dos panca-bhutas; assim o yogue pode, por exemplo, atravessar o fogo sem se queimar e ainda obter outros poderes extraordinários e inacreditáveis;
- portanto, quem se torna senhor dos panca-bhutas também se torna senhor de todos os fenômenos naturais, ou seja, torna-se uno com a Consciência Divina.


III.47 rūpa lāvaņya bala vajra samhananatvāni kāyasampat

rūpa: forma graciosa, aparência
lāvaņya: graça, beleza, charme
bala: força
vajra: um raio, adamantino, duro, diamante, impenetrável
samhananatvāni: firmeza, compactação
kāya: corpo
sampat: perfeição, forma

Tradução do Iyengar:
Perfeição do corpo consiste em beleza na forma, graça, alongamento, compactação, dureza e brilho de um diamante.”

Tradução de Satchidananda:
Beleza, graça, força e dureza adamantina constituem a perfeição do corpo.

Tradução de Taimni:
Beleza, compleição excelente, força e solidez adamantina constituem a perfeição do corpo.
- o domínio dos bhutas levará o sadhaka a dquirir todos as qualidades que dependem da ação dos bhutas;
- a fealdade e as imperfeições no corpo físico advém das desarmonias, das obstruções e dos karmas;
- portanto, o corpo físico, mesmo sendo o mais rude dos nossos instrumentos, quando libertado atingirá a perfeição.


3 . Execução do Ássana por B. K. S Iyengar





O objetivo da prática de ássanas é a execução com o máximo de inteligência e amor.
A ioga visa à purificação do corpo e sua exploração, bem como o refinamento da mente. Isso requer força de vontade para suportar a dor física sem agravá-la. Sem uma certa dose de estresse, é impossível sentir o verdadeiro ássana, e a mente continuará com suas limitações e não avançará além das fronteiras existentes. Esse estado limitado da mente pode ser descrito como pequenez, mesquinhez.

Trikonasana é uma postura que Iyengar usou como exemplo em o “Luz na Vida” para demonstrar algumas armadilhas que prejudicam a perfeita execução do ássana. Se não houver dedicação para aprender os ajustes que permitirão ao corpo se abrir, a mente e a inteligência não se abrirão. Quando se pratica o ássana corretamente, o Eu se abre sozinho. Nesse ponto é o Eu que está fazendo o ássana, não o corpo nem o cérebro.

Iyengar faz uma analogia da execução do ássana com a arte de tiro ao alvo: “o corpo é o arco, o ássana é a flecha e a Alma o alvo.”

A definição de Herrigel em A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen, prática milenar, é bem parecida de como se deve praticar os ássana:

O tiro com o arco não tem como objetivo nem resultados práticos, nem o aprimoramento do prazer estético, mas exercitar a consciência, com a finalidade de atingir a realidade última. É harmonizar o consciente com o inconsciente. O domínio técnico é insuficiente. É necessário transcendê-lo, de tal maneira que ele se converta numa arte sem arte, emanada do inconsciente. Arqueiro e alvo deixam de ser entidades opostas, mas uma única e mesma realidade. O arqueiro não está consciente do seu “eu”, como alguém que esteja empenhado unicamente em acertar o alvo. Mas esse estado de não consciência só é possível alcançar se o arqueiro estiver desprendido de si próprio sem contudo desprezar a habilidade e o preparo técnico.

A busca espiritual exige que se desenvolva o corpo até que ele deixe de ser um obstáculo. As emoções e o intelecto devem ser desenvolvidos para propósitos divinos.

O ássana revela como o pensamento involuntário rouba o equilíbrio. O exemplo usado por Iyengar no livro “Luz na Vida” é o ássana ardha chandrasana. Basta ter um pensamento de comemoração em que alcançou o equilíbrio no ássana para que haja a queda na postura. É preciso ter a mente quieta para se manter estável na postura.

É preciso aprender reflexão e correção no equilíbrio, para descobrir a origem dos movimentos e suas alterações, com isso é possível adquirir sensibilidade que leva ao autoconhecimento – o limiar da sabedoria.

A prática do ássana traz inteligência para a superfície do corpo celular por meio do alongamento. Ao manter a postura, ela atinge o corpo fisiológico. Uma vez desperto, o corpo pode revelar seu aspecto dinâmico, sua capacidade de discernir. Por meio de avaliação e de ajuste preciso e cuidadoso do ássana, se atinge o equilíbrio, estabilidade e a mesma extensão em todas as partes do corpo, com isso aflora a capacidade de discernimento. “O discernimento é um processo de ponderação, que pertence ao mundo da dualidade. Quando se descarta o que está errado, resta apenas o que está correto. À medida que a inteligência se expande em consciência, o ego e a mente se contraem, assumindo as proporções adequadas. Deixam de se impor e passam a servir a inteligência. A memória agora, alia-se à inteligência que busca a liberdade, não à mente, que busca a servidão.”

A penetração é possível em qualquer ássana que se execute com razoável proficiência. Uns poucos ássanas bem feitos podem ser suficientes para levar o sādhaka mais para dentro.

4 .Entrevista India Questions Yogacharya B.K.S. Iyengar



ROY: Bem-vindos ao INDIA QUESTIONS. Há um homem que tornou o yoga conhecido no mundo todo... Quem é esse homem? B.K.S. Iyengar. A revista Time o colocou entre as cem pessoas mais influentes do mundo. Ele conta com milhares de escolas, penso que mais de duas mil escolas de yoga ao redor do globo, e milhares de pessoas praticam Iyengar Yoga, que ele não gosta que chamem de Iyengar Yoga e nós vamos descobrir porquê, embora esses praticantes continuem a chamá-lo assim mesmo. Mas ele não gosta de publicidade e penso que ele é menos conhecido do que deveria em seu próprio país. Por que o senhor não gosta de publicidade?

IYENGAR: Naquela época, quando iniciei, publicidade era uma coisa muito difícil (...) Por exemplo, embora eu ensinasse yoga desde 1935, meu nome apareceu pela primeira vez em 1954 quando um armênio se beneficiou...

ROY: Foi Iehudi Menuhim, o grande violinista...

IYENGAR: Sim, o grande violinista. Foi quando ele disse: “Eu sofria há vinte anos e não podia tocar meu violino e este homem me ensinou durante três dias e meus concertos se tornaram um sucesso”.

ROY: E Iehudi Menuhim ficou muito agradecido desde então...

IYENGAR: Até o final de sua vida.
ROY: Mas deixe-me dizer-lhe uma coisa, o senhor não precisa de nenhuma publicidade. Sabe por quê? O senhor tem noventa anos e está em ótima forma. Esta é a juventude da Índia e eu acho que o senhor está melhor que muitos deles. Certamente melhor do que eu...

IYENGAR: Eu acho que a juventude precisa mais do que nunca porque a vida está muito rápida e vibrante. Os jovens naturalmente têm essa vibração, mas ela não dura muito. Eu quero que esta vibração esteja sempre presente, como um rio que flui com velocidade da montanha em direção ao mar. Eu quero que meus jovens tenham essa velocidade...

ROY: Então o senhor não é contra essa velocidade, o senhor é favorável...

IYENGAR: (...) Patanjali diz que devemos mostrar força para aquietar a mente.

ROY: O que o senhor fez muitos anos atrás, cerca de 60 anos, foi reviver a tradição do yoga clássico.

IYENGAR: Sim.

ROY: O senhor documentou o yoga meticulosamente. Defina o seu yoga.

IYENGAR: Eu não digo que é o meu yoga, mas o que fiz foi dar qualidade a esse yoga. Veja, quando comecei a praticar, naquela época... a primeira coisa que o senhor deve saber é que eu estava com tuberculose, em 1928 foi diagnosticado com TB. Os médicos acharam que eu viveria por mais quatro ou cinco anos, mas eu ainda estou sobrevivendo e isso eu atribuo ao yoga. O que aconteceu foi que...

ROY: Malária também e tifo...

IYENGAR: Sim, tifo e malária, gripe... Então eu pratiquei yoga para ganhar saúde e felizmente a células más foram destruídas e cada célula passou a tocar o sino do yoga. Eu cheguei a esse nível. Aí, em 1935, quando comecei a ensinar yoga li alguns livros (...) Havia cinco professores de yoga e o yoga não era reconhecido. Eu achava que não deveria se assim em meu próprio país, o yoga era para aqueles entusiastas que se despiam, abandonavam seus pais, deixavam suas casas. Era essa a idéia dos indianos em 1935. Poucos professores de yoga.

ROY: Poucos professores!

IYENGAR: Eu estava em Puna, havia também em Kaivaliadam e Santa Cruz, apenas três instituições em toda a Índia... (?)

ROY: Mesmo!

IYENGAR: Então pensei que deveria dar qualidade ao yoga (...)
Havia muitos livros e nenhum deles mencionava que deveríamos alinhar a mente ao corpo e a cada músculo. Pensei que deveria alinhar a partir do corpo externo... a parte externa do corpo, como levar a mente a cada parte do corpo para que este fluísse como uma energia.

ROY: Deixe-me entender. O senhor está dizendo que queria que sua consciência chegasse a cada parte de seu corpo...

IYENGAR: Eu queria que a minha consciência chegasse a cada parte do corpo como o fluir da água. Pensei que em meu corpo a energia deveria fluir até a sola do pé, até o arco do dedão (...)
Eu queria que a minha consciência estivesse igualmente presente até o arco do dedão...

ROY: Até no arco do dedão o senhor queria sua consciências. Fascinante!

IYENGAR: Talvez vocês não saibam que temos dois arcos nos pés.

ROY: Não fazia idéia...

IYENGAR: Disse então que tinha que conseguir esse alinhamento. Assim está no Gita, (citação em sânscrito). O Senhor Krishna disse samakaya*, o que significa que o lado direito do corpo e o lado esquerdo do corpo devem estar exatamente alinhados do topo da cabeça até o períneo, passando pelo centro da garganta. Isso me deu a idéia de que eu deveria alinhar todas as partes do corpo de forma a não ocorrer nenhum desvio, refração ou contração
(...)... Dessa forma eu esculpi essa arte.

ROY: Posso fazer uma pergunta? Hoje, depois de sessenta nos de yoga, o senhor está com noventa anos...

IYENGAR: Estou ensinando há 75 anos...

ROY: Ensinando há 75 anos... O senhor recentemente afirmou que algumas partes o senhor ainda não conseguiu atingir... E nós então?

IYENGAR: O que é conhecido eu posso explicar. O que é desconhecido eu não posso explicar. Assim continuo explorando o corpo como o templo da alma e é assim que devemos explorá-lo para que esteja limpo, pois se não está limpo ninguém pode entrar.

ROY: Certo!

IYENGAR: Assim sendo, decidi que queria que a minha consciência estivesse em todas as partes (...). Usei minha inteligência dessa forma, vou fazer uma analogia: você tem a linha e você tem a agulha (...). A agulha é a consciência, o buraco da agulha é a inteligência e a ponta da linha é a mente. No momento em que a ponta da linha entra no buraco da agulha a mente desaparece, ela se dissolve. Não há mente.

* Sama-kaya: (“corpo inalterável”) um dos resultados do yoga correto e um dos sinais (cihna) positivos.


5 . Ksurika Upanishad – Upanishad que resume a essência de todas as formas da yoga

1 . Eu vou expor sobre a Navalha
que é, de fato, a concentração da mente
para realizar o Yoga;
o yogin que a pratica
estará seguro que não mais renascerá:

2 . está aí a razão de ser
e o propósito das Escrituras Védicas
como a disse o senhor Svayambu, Ele mesmo!
Para ter êxito, o yogin
deve escolher um lugar calmo
fazendo lá a sua morada;
fixando-se em uma postura
ele retrai os sentidos em si mesmo

3 . como uma tartaruga retrai seus membros,
fechando o seu espírito em seu coração
Graças ao Yoga de doze posturas
e ao uso da sílaba Om
ele enche de ar, progressivamente,
seu ser todo inteiro.

4 . Fechando as portas do seu corpo
ele retém o ar inspirado
depois expira pouco a pouco
para o alto para as narinas.

5 . Tendo assim dominado seus sentidos,
tornando-se mestre de si mesmo,
ele pratica o controle da respiração
com o seu polegar e os outros dedos;

6 . depois o ar ele inspira suave
em direção à parte baixa do seu corpo,
fazendo-o entrar dentro das cavidade
e refluindo-o até as panturrilhas.

(....)

13. Praticando o Yoga com constância,
o yogin concentra sua mente
com delicadeza sobre o Ponto Vital
até cortá-lo pouco a pouco,
como Indra, na sua Ira
decepou a cabeça de Vrta!

(...)

21. Tendo dominado seu espírito
graças ao ardor do seu Yoga,
tendo rejeitado todo apego,
conhecendo a fundo o Yoga,
o yogin consciente consegue, em sua solidão,
ficar livre dos desejos.

22. Como um pássaro
preso numa rede,
voaria para o céu
após haver cortado os fios,
o Atman do yogin,
libertado das malhas do desejo
pela navalha do Yoga,
escapa para sempre
da prisão do samsara!

23. Como uma tocha
na hora da sua extinção
cessa de brilhar quando termina
de queimar o óleo que continha,
o yogin desaparece
quando termina de queimar
os resíduos das suas ações.

24. Sim, quando a navalha
da concentração da mente
afiada pela retenção do alento
amolada sobre a pedra da renúncia,
cortou a trama da vida,
o yogin fica para sempre
liberto das suas amarras.

25. Livre de todo desejo,
ele se torna imortal
liberto das tentações
tendo cortado a trama
da mundanidade,
ele não está mais nas amarras
da transmigração.

Tal é a Upanishad.


6 . Trechos do Bhagavad Gita

“Para não caíres em confusão, discerne bem o uso destes termos. Só se abstém verdadeiramente, aquele que não odeia a ação, nem por ela se apaixona; assim é que ele pratica a renunciação, nada odiando e nada desejando. Quem está acima dos contrastes e conserva-se calmo e contente, sempre pronto a cumprir a sua tarefa e, contudo, sem apegar-se à obra, facilmente se liberta do vínculo da ilusão.”

“Ambos estes caminhos conduzem ao mesmo fim, e os que seguem um deles chegam ao mesmo ponto que os que vão pelo outro. Quem tem a reta percepção vê que o conhecimento e a atividade, ou – por outras palavras – a renúncia e aprática são uma coisa só, em sua essência.”

“O yogi, tendo-se libertado de todo o apego, executa as ações do corpo, da mente e do intelecto, e até dos sentidos, sempre com o fim de purificar a mente, e sem qualquer motivo egoísta.”

“Vivendo em harmonia com a Natureza, tendo abandonado o desejo e a esperança de recompensa pelas ações, alcança a Paz. Ao contrário, o homem que não vive em tal harmonia e que nutre desejos de recompensa por suas ações, é turbado, inquieto e descontente.”

“Aquilo que chamas corpo ou teu eu pessoal, ó Arjuna! Alguns filósofos denominam ‘o Campo’. A quem o conhecem os Sábios o chamam ‘Conhecedor do Campo’.”
“Sabe que Eu sou o Conhecedor do Campo em todos os Campos. A mim o discernimento entre o Campo e o Conhecedor do Campo é a verdadeira Sabedoria.”

“Com o nome de Natureza Material designam-se os elementos materiais, a consciência de personalidade, o intelecto, a força vital, os centros dos sentidos, a mente, os órgãos dos sentidos.”

“O amor e o ódio, o prazer e a dor, a multipliciadade, sensibilidade e coesão.”

“A Sabedoria Espiritual consiste em: modéstia, sinceridade, inocência, paciência, retidão, respeito para com os superiores, castidade, constância, domínio de si próprio.”

“Ausência de sensualidade, ausência de orgulho e vaidade, conhecimentos dos males de nascimento e morte, velhice, doença e sofrimentos.”

“Ela ensina a libertar-se dos vínculos pessoais entre o possuidor da sabedoria e sua mulher, seus filhos, sua casa. Dá constante equanimidade e tranqüilidade de espírito, tanto na ventura como na desventura.”
Referências Bibliográficas

FEUERSTEIN, Georg. Enciclopédia do yoga da Pensamento. São Paulo: Pensamento, 2005.

HERRIGEL, Eugen. A arte cavalheiresca do arqueiro zen. São Paulo: Pensamento, 1975.

IYENGAR, B. K. S. A árvore do ioga: a eterna sabedoria do ioga aplicada à vida diária. São Paulo: Globo, 2001.

IYENGAR, B. K. S. Light on yoga sutras of Patanjali. Great Britain: Thorsons, 2002.

IYENGAR, B. K. S. A luz da ioga: uma edição concisa do clássico de B. K. S. Iyengar Light on Yoga. São Paulo: Cultrix, 1980.

IYENGAR, B. K. S. Luz na vida: a jornada da ioga para a totalidade, a paz superior e a liberdade suprema. São Paulo: Summus, 2007.

IYENGAR, B. K. S. Yoga: the path to holistic health. 2. ed. Great Britain: DK UK, 2008.

LORENZ, Francisco Valdomiro. Bhagavad gita: a mensagem do mestre. São Paulo: Pensamento, 2006.

TAIMNI, I.K. A ciência do yoga: comentários sobre os yoga-sutras de Patanjali à luz do pensamento moderno. São Paulo: Teosófica , 2004.

TINOCO, Carlos Alberto. As upanishads da yoga: textos sagrados da antiguidade. São Paulo: Madras, 2005.

SATCHIDANANDA, Swami. Yoga Sutra de Patanjali: transcrito e comentado. Belo Horizonte: Gráfica e Editora Del Rey, 2000.
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20081126

O conteúdo do texto dos Yoga Sutras ajuda ou atrapalha?


O texto que segue abaixo é a minha prova final do primeiro semestre de Filosofia do Curso de Formação de Professores de Iyengar do Yoga Dham, em 2008.

A proposta foi de escolher 4 tópicos (assinalados no texto em itálico) entre 10 para responder uma única questão:

Patanjali traz entendimento e orientações para a prática do Yoga?

Sim.

Abhyâsa (“estudo ou prática constante e determinado”, Iyengar, A Árvore da vida) pode ser comparado ao motor ou ao impulso que pode nos levar ao estado de Yoga.

Pelo estudo e pela prática contínuos e resolutos, é possível refinar o discernimento, que é “o fio da navalha do intelecto, que separa o verdadeiro do falso, a realidade da irrealidade”, que permite fazer “comparações significativas” e desenvolver “a análise perspicaz, que leva ao entendimento correto” capaz de discriminar as informações retidas na memória (smriti), onde as experiências do passado repousam a espera de lembrança e as experiências do presente se acumulam. “No começo, é um processo de tentativa e erro. Mais tarde, aprendemos a evitar o erro.” (Iyengar, Luz na Vida, pág. 199)

Quando aprendemos a direcionar os impulsos e a evitar o erro, a memória começa a deixar de ser um entrave e passa a ser uma ferramenta para alcançar o estado de Yoga. “(O) processo de avaliar os próprios instintos, pensamentos e atos é a prática da renúncia (vayrâgya).” (Iyengar, A árvore do Yoga pág.105).

A memória no presente ou a atenção constante ou a capacidade de concentração, que também é chamada smriti é uma das qualidades que nos leva a afiar a inteligência, discernindo o conteúdo das experiências registradas pela mente (memória ‘bruta’) e modificando-a em sabedoria (memória ‘educada’), que nos ajuda a manter o conhecimento correto. (Yoga Sutra 1:20 ‘shraddha virya smriti samadhi prajna purvakah itaresham’ = [O êxtase supraconsciente] dos outros [yogins cujo caminho é o especificado no aforismo 1.18] é precedido pela fé, pela diligência, pela atenção, pelo êxtase [consciente] e pela sabedoria. Comentário de Georg Feuerstein)

Com a prática de abhyâsa e vayrâgya construímos parte do conhecimento correto (pramana) atualizado através dos resultados obtidos pelo estudo e pela prática pessoal e pela dedução; uma outra parte é obtida através do testemunho de pessoas sábias e confiáveis.

O conhecimento correto é mantido vivificado, refrescado desde que seja sempre re-examinado, experimentado, estudado e refinado e que nele não sobrem experiências supérfluas retidas. Conforme vamos filtrando e minimizando o conteúdo do intelecto fruto das experiências registradas e estimulantes da mente, nos aproximamos do estado de Yoga.


Para ser sincera, Patanjali esclarece muito.

O maior obstáculo é ter pouco entendimento do Sânscrito, condição que se pode modificar de imediato recorrendo aos comentários sobre os Yoga Sutra de pessoas confiáveis (uma das formas de pramana).

Minha impressão atual como professora de Hatha Yoga é que sou uma estudante que estuda através das percepções do meu corpo e da observação dos corpos e dos relatos de meus alunos.

Tive a felicidade de experimentar abhyâsa e vayrâgya logo no início de minha prática pessoal.

Eu tinha muita vontade de experimentar praticar e através de abhyâsa, pude construir um repertório de sensações que depois demonstrou ser pramana e que me orientou no sentido de um entendimento pacífico entre meu corpo e minha mente (chitta), que viviam em discórdia antes que eu tivesse contato com o livro ‘Luz da Yoga’, Editora Pensamento e os textos do Yoga clássico. Fui prudente em agregar os conhecimentos obtidos através da prática e do estudo, o que também é, segundo Iyengar uma forma de vayrâgya.

Pude perceber quantos comportamentos, atos e pensamentos desnecessários (smriti) como memória que tudo retém e vira fonte de estímulos que perturbem chitta, memória depósito passiva) consumiam minha energia, e abandoná-los (vayrâgya) pareceu natural. Experimentei antes de estudar nos Yoga Sutra que a prática e o desapego são os meios para acalmar os movimentos da consciência, conforme o sutra 1:12 (‘abhyasa vairagyabhyam tat nirodhah’ = A prática e o desapego são os meios para acalmar os movimentos da consciência. Comentário de Iyengar)

E como sentia bem estar profundo praticando Yoga, minha prática de asanas foi se tornando mais extensa e eu abri espaço em outros momentos do meu dia para praticar e estudar. Criei meu círculo virtuoso: quanto mais abhyâsa, menos perturbação, conforme assegura o sutra 1:14 (‘sah tu dirgha kala nairantaira satkara asevitah dridha bhumih’ = A prática longa, initerrupta e alerta é a fundação firme para a contenção das flutuações. Comentário de Iyengar).

Procuro incentivar meus alunos que pratiquem sempre que puderem, e que se observem com qualidade de atenção, e que comentem suas impressões; procuro incentivar que estudem os textos clássicos e os textos de Iyengar; procuro situar algum comentário a respeito do Yoga Sutra, de Patanjali, dos livros de Iyengar em alguma parte das aulas e dedico cerca de 1/3 de uma aula por mês para falar a respeito dos 8 estágios do Yoga que Patanjali propôs. Proponho que se observem sem julgamento ou expectativa de desempenho, e que guardem na memória apenas o que for pessoalmente consistente e que estiver no presente relacionado com os textos comentados em aula e com a prática de cada um.

É importante perceber como uma dificuldade de um deles em compreender ou realizar um âsana, por exemplo, se transforma em abhyâsa para mim, para auxiliá-los no processo de praticar; bem como é interessante ouvi-los relatar de como estão deixando de lado gestos e/ou pensamentos desnecessários, que no meu entendimento é em parte de desapego (vayrâgya) e em parte a manifestação de uma memória (smriti) mais aguçada, que está sendo ‘educada’.

Vayrâgya também envolve a possibilidade de rever pontos de vista, como Iyengar fez ao afirmar que pranayama era algo para se fazer e tempos depois, corrigiu sua observação dizendo que pranayama é algo que pode acontecer ao nos disponibilizarmos para isso.

Dessa maneira, Iyengar modificou um conceito que deixou de ser correto, atualizando-o segundo a maturidade de sua abhyâsa. Nos deu exemplo de vayrâgya, pramana e smriti (no sentido de memória seletiva-ativa-no-presente).

Acredito que não praticar ou estudar descaracteriza totalmente o que conhecemos como Yoga: o professor perde seu frescor, sua firmeza e transforma os alunos tem teóricos mofados ou em praticantes de alongamento e alinhamento ósseo, sem contar que um(a) professor(a) educa principalmente pelo seu exemplo pessoal.

A falta do cultivo do conhecimento correto tem proporcionado pessoas que praticam Yoga de modo equivocado, como o fato observável de quem confunde vayrâgya com privação, ou como quem declama os textos sagrados sem envolvimento pessoal.

Se não filtramos os conteúdos da memória ‘bruta’, se não notamos que estes conteúdos retidos sem discriminação são em parte a fonte dos estímulos que nos tornam fragmentados em muitas direções buscando satisfação após outra, como vamos coordenar, controlar as flutuações da mente?

Na minha atual compreensão, abhyâsa, vayrâgya, pramana e smriti (no sentido de estar atento, memória no presente) formam um círculo virtuoso que, se observados constantemente e utilizados com ponderação, nos conduzem ao estado de Yoga.


Referências e Bibliografia Consultada

FEUERSTEIN, George. A tradição do Yoga. 1ª Edição São Paulo: Pensamento, 2006.

IYENGAR, B. K. S. A Árvore do Yoga. São Paulo: Globo, 2001.

IYENGAR, B. K. S. Luz na vida. São Paulo: Summus, 2007.

IYENGAR, B. K. S. Luz nos Yoga Sutras de Patanjali. Apostila cedida pela profª Che.

JNANESHVARA BHARATI, Swami.
Disponível em :http://www.swamij.com/.
Acesso em 09 de junho 2008.

KUPFER, Pedro. O Yoga Sutra de Patanjali: aforismos I:7. Cadernos de Yoga. n.05, p.91-93. verão/2005.

KUPFER, Pedro. O Yoga Sutra de Patanjali: aforismos I:10 e I:11. Cadernos de Yoga. n.08, p.71-75. primavera/2006.

KUPFER, Pedro. O Yoga Sutra de Patanjali: aforismos I:12 a I:14. Cadernos de Yoga. n.09, p.62-70. verão/2006.

KUPFER, Pedro. O Yoga Sutra de Patanjali: aforismos I:15 e I:16. Cadernos de Yoga. n.10, p.72-77. outono/2006.

KUPFER, Pedro. O Yoga Sutra de Patanjali: aforismos I:19 e I:20. Cadernos de Yoga. n.14, p.58-63. outono/2007.

20081125

Leitura de Cabeceira

Essas cadeias são "cadeias de comunicação e de trocas" no interior do corpo e com o exterior. Se meus tornozelos ignoram meus joelhos, se meus quadris não protegem minhas vértebras lombares e solicitam excessivamente as articulações sacro-ilíacas, se minha primeira junta cervi­cal não funciona harmoniosamente com a bacia, se minha mão direita não se coordena facilmente com o pé esquerdo etc., meu corpo está efetivamente em dificuldade, dificuldade de comunicação.

Este corpo cujos segmentos se isolam, como diriam os orientais, é "um corpo em que a ENERGIA não flui". Em todo caso, é um corpo cu­ja unidade está comprometida; as trocas deixam de acontecer em suas estruturas.

Além disso, se, para olhar para trás, for preciso mover todo o tron­co porque o pescoço está fixo, psíquica e/ou fisicamente, se os quadris não deslizam nas articulações coxo-femurais mas parecem se articular com a coluna lombar, quando a criança não vê o adulto utilizar seu cor­po em curvas e espirais, quando o cotidiano se limita a gestos rígidos, li­mitados, ela também, conformando-se ao modelo que observa, atrofiará seu próprio gestual.

Como então se efetuará a comunicação com o outro? Com qual linguagem corporal, quais expressões, qual gestual mecanizado, estereotipa­do... até mesmo no esporte?

Curiosa e paradoxalmente nossa época atingiu o ponto máximo da COMUNICAÇÃO, mas não se comunica com o corpo, de pessoa para pessoa. Nossa época facilita, amplia, favorece as trocas por meio de máquinas, aparelhos interpostos. O corpo, maravilhoso instrumento de co­municação, se contenta com próteses. É isso o progresso?

E, precisamente, essa ENERGIA de que falam misteriosamente os orientais, não seria ela algo que, em nós e ao nosso redor, poderíamos chamar de CALOR HUMANO?

Não seria ela simplesmente a VIDA que circula em nossos tecidos e se comunica graças a um olhar, a uma relação viva, pelos CONTATOS HUMANOS?

Esses contatos e interações acontecem em nós, conosco e com o meio, a partir de um corpo vivido, humanizado, concretizado e que fala! Que se expressa com a ajuda desses conjuntos psiconeuromusculares que mobilizam as cadeias ósseas e articulares e que ativam e vitalizam aquilo que a estrutura humana contém e protege. Com a ajuda de um corpo cujas "cadeias" ainda flexíveis circulam de uma ponta à outra, da cabeça às mãos e aos pés, para fazer e desfazer as posturas, a mímica e os gestos em múltiplas expressões, ricas em mobilidade, vida e sentido.


Godelieve Denis-Struyf, em 'Cadeias Musculares e Articulares' - O Método G.D.S.
pág. 17., caixa alta da autora.

20081124

DYS - Samadhi Pada - Sutra 1.1


1.1 atha yoganushasanam
atha = agora, neste momento auspicioso; nesta transição/iniciação abençoada; com a preparação necessária para iniciar este estudo teórico e prático vultoso
yoga = união, jungir, da raiz iuj que significa aderir ou integrar, shamadi

anusasanam = anu + shasanam

anu = que pertence a uma tradição; que necessita de um preparo anterior
shasanam = instrução, disciplina ou formação baseada na transmissão oral ao longo de gerações, no vínculo vivo (= ativo, ardente, duradouro, forte, brilhante, aceso) entre professor e aluno.




Agora, que os ruídos do mundo perderam a graça,
toda pessoa preparada física e mentalmente
pode compreender e experimentar a vivência
(da tradição) do Yoga.
Atenção,
o Yoga acontece a cada instante
onde se está (no) presente
.’


O Yoga Sutra é uma compilação dos ensinamentos do Yoga Clássico atribuída a Patanajali, onde cada Sutra condensa num pequeno número de palavras uma instrução do Yoga cujo sentido é luminoso e atemporal. É um guia para toda pessoa que tenha apreendido que a agitação do mundo exterior não tem todas as respostas nem satisfaz por inteiro, e que queira meios práticos de reduzir ou eliminar o sofrimento que surge em face do que é percebido como dificuldade em relação ao mundo e a si mesma, e que por fim, almeje realizar plenamente o potencial humano nos planos físico, psíquico, espiritual (mundo interno) incluso na esfera das relações sociais e ecológicas (mundo externo).

A tradição afirma que a compactação do Yoga Sutra ajuda a memorização, uma vez que tradicionalmente o conhecimento do Yoga vem passando oralmente do professor ou mestre ao aluno ou discípulo. Essa forma de transmissão do conhecimento do Yoga e a dedicação de notáveis praticantes ao longo de gerações mantêm a vivacidade do Yoga. Outra forma de olhar a apresentação compacta do Yoga Sutra suscita a possibilidade da absorção do significado de cada Sutra pela meditação, onde então, seu significado intrínseco e profundo seria revelado a partir de um estado de Yoga.

Face a esse texto compacto e estrangeiro, registrado em outra língua não usual nem mesmo no país de sua cultura de origem, para não nos apropriarmos superficialmente do Yoga, devemos fazer uso de comentários e textos de mestres, autores e estudiosos consagrados que nos auxiliem na aproximação gradual até o cerne dos conceitos envolvidos em cada palavra e assim, seguir o fio de cada Sutra. Também parece prudente um estudo anterior dos aspectos culturais ao longo do tempo e do espaço que originaram a compilação do Yoga Sutra.

Devemos fazer essa aproximação intelectual cuidadosamente, lembrando sempre que o Yoga é uma prática fundamentada e sustentada na experiência direta, de modo que, apenas o estudo acadêmico do Yoga Sutra, como se fosse uma obra da filosofia ocidental, o tornará vazio, morto e simulacro de sabedoria. Melhor será ter o fio+guia, ou seja, o Yoga Sutra e um professor que exemplifique, auxilie e estimule os alunos de forma adequada para que estes não acabem emaranhados nos fios, e que possam inserir a prática dos ensinamentos do Yoga Sutra no contexto cotidiano.

O primeiro aforismo do Yoga Sutra é um convite à prática constante, a tornar-se uma pessoa que busca manter um estado de ausência de distrações e que afirma a cada momento do dia:
‘Preste atenção, o Yoga começa agora.’


Referências e Bibliografia Consultada

EHLERS, Lucia. O Yoga Sutra de Patañjali: Aspectos introdutórios. Prana Yoga Journal. n.008, p.92-97. ago/2007.

JNANESHVARA BHARATI, Swami. Yoga Sutras of Patanjali – Interpretative Translation.
Disponível em :http://www.swamij.com/.
Acesso em 17 março 2008.

KNAK, Jorge Luis. O primeiro Passo. 2004.
Disponível em: www.yoga.pro.br/artigos.php?cod=397&secao=3047.
Acesso em 31 março 2008.

KUPFER, Pedro. Patañjali e o Yoga Sutra. Cadernos de Yoga. n.01, p.71-75. verão/2004.

KUPFER, Pedro. O Yoga Sutra de Patañjali: aforismos I:1 e I:2. Cadernos de Yoga. n.02, p.89-96. outono/2004.

A meta do yoga é realizar o potencial de cada um de nós dentro do seu contexto familiar ou social, na sua época.
http://www1.uol.com.br/vyaestelar/yoga.htm

Escrito em Abril/2008

20081120

Fachada

Satyam

Sivam

Sundaram

Satyam, sivam, sundaram

A diferença entre ioga e dança é que o ioga é uma arte perfeita em ação, ao passo que a dança é uma arte perfeita em movimento. Na dança, existe a expressão externa por meio dos movimentos, e no ioga, embora exista um intenso dinamismo interior, a impressão do observador que vê o praticante é estática. O movimento pode ser muito sutil, mas a ação é intensa.

Todos estamos enredados na teia do desejo, da raiva, da cobiça, da paixão, do orgulho e do ciúme. Todos esses abalos emocionais acontecem conosco em nossa vida diária. O dançarino usa essas emoções e as transforma em expressão artística. O iogue trabalha para conquistá-las, como recomendou Patanjali: "Maitrï karunã muditã upeksãnãm sukha duhkha punya apunya visayãnãm bhãvanãtah chittaprasãdanam" cultivar a amistosidade, a compaixão, a alegria e a indiferença perante a felicidade e o pesar, a virtude e o vício, conduz à paz mental (Yoga Sütras, I, 33).

O iogue, assim como o artista, precisa respeitar o corpo. Sem forma e contorno, sem elegância e força, não se consegue ser nem iogue nem dançarino. Se você é artista, lembre que sejam quais forem os temas que você está expressando com a sua manifestação artística, todos eles dependem das experiências interiores e das ações com as quais um iogue também trabalha. Se um artista praticar ioga - se vocêestá tambem em contato com os níveis internos de seu ser - desenvolverá uma vasta gama de expressões, e sua arte se tornará aquilo que é conhecido como "satyam, sivam, sundaram”, ou verdadeira, auspiciosa e bela. Então a arte se torna divina, a chamada ioga-kalã, a arte que promove o auspicioso. Sem essa profundidade interior, a arte é conhecida como bhoga-kalã, ou arte pelo prazer. Esta tem o seu valor, também, é claro, mas se a intensidade e a devoção desaparecerem, ela pode facilmente degenerar em kãma-kalã, ou a arte pela gratificação sensual.

É necessário que haja uma mescla de bhoga-kalã e ioga- kalã, Se há só bhoga-kalã, a arte é simplesmente sensual e elevada; se só existe ioga-kalã, é por demais elevada e austera para ter valor para a sociedade. Para mobilizar, educar e inspirar as pessoas, esses dois níveis da arte precisam estar combinados e mesclados, a fim de que todos possam viver na luz perfeita que ilumina a consciência. Existe uma vívida vibração que permite a cada um de nós viver no campo da alma, de modo que esse corpo mortal poderá beber o néctar da alma imortal e, enfim, a arte se tornará divina.

B. K. S. Iyengar, A Árvore do Ioga (sic), pág 220 e 221.

Esta é uma das salas de aula do novo endereço do
Estúdio em Cena,
onde Yoga e Dança
dialogam
com todas as pessoas
que se dispõem a experimentar.