20081125

Leitura de Cabeceira

Essas cadeias são "cadeias de comunicação e de trocas" no interior do corpo e com o exterior. Se meus tornozelos ignoram meus joelhos, se meus quadris não protegem minhas vértebras lombares e solicitam excessivamente as articulações sacro-ilíacas, se minha primeira junta cervi­cal não funciona harmoniosamente com a bacia, se minha mão direita não se coordena facilmente com o pé esquerdo etc., meu corpo está efetivamente em dificuldade, dificuldade de comunicação.

Este corpo cujos segmentos se isolam, como diriam os orientais, é "um corpo em que a ENERGIA não flui". Em todo caso, é um corpo cu­ja unidade está comprometida; as trocas deixam de acontecer em suas estruturas.

Além disso, se, para olhar para trás, for preciso mover todo o tron­co porque o pescoço está fixo, psíquica e/ou fisicamente, se os quadris não deslizam nas articulações coxo-femurais mas parecem se articular com a coluna lombar, quando a criança não vê o adulto utilizar seu cor­po em curvas e espirais, quando o cotidiano se limita a gestos rígidos, li­mitados, ela também, conformando-se ao modelo que observa, atrofiará seu próprio gestual.

Como então se efetuará a comunicação com o outro? Com qual linguagem corporal, quais expressões, qual gestual mecanizado, estereotipa­do... até mesmo no esporte?

Curiosa e paradoxalmente nossa época atingiu o ponto máximo da COMUNICAÇÃO, mas não se comunica com o corpo, de pessoa para pessoa. Nossa época facilita, amplia, favorece as trocas por meio de máquinas, aparelhos interpostos. O corpo, maravilhoso instrumento de co­municação, se contenta com próteses. É isso o progresso?

E, precisamente, essa ENERGIA de que falam misteriosamente os orientais, não seria ela algo que, em nós e ao nosso redor, poderíamos chamar de CALOR HUMANO?

Não seria ela simplesmente a VIDA que circula em nossos tecidos e se comunica graças a um olhar, a uma relação viva, pelos CONTATOS HUMANOS?

Esses contatos e interações acontecem em nós, conosco e com o meio, a partir de um corpo vivido, humanizado, concretizado e que fala! Que se expressa com a ajuda desses conjuntos psiconeuromusculares que mobilizam as cadeias ósseas e articulares e que ativam e vitalizam aquilo que a estrutura humana contém e protege. Com a ajuda de um corpo cujas "cadeias" ainda flexíveis circulam de uma ponta à outra, da cabeça às mãos e aos pés, para fazer e desfazer as posturas, a mímica e os gestos em múltiplas expressões, ricas em mobilidade, vida e sentido.


Godelieve Denis-Struyf, em 'Cadeias Musculares e Articulares' - O Método G.D.S.
pág. 17., caixa alta da autora.

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