20081127

Dhyana

O texto que segue é o seminário sobre Dhyana apresentado por Flávia, Luiz e Sabina, na disciplina de Filosofia em novembro de 2008 do Curso de Formação de Professores de Iyengar do Yoga Dham, que foi gentilmente cedido por eles.

Dhyana

Definições,cantos e sutras:

Dhyana é contemplar, meditar.

Para Patanjali, a meditação representa a continuidade de um estado de concentração unidirecionada e profunda da consciência; é a porta de acesso à experiência de integração

Georg Feuerstein explica assim a meditação: “Todas as idéias que surgem giram em torno do objeto de concentração e são acompanhadas por uma disposição emocional calma e pacífica. Não se perde a lucidez; muito pelo contrário, a impressão que se tem é de estar-se ainda mais desperto, embora a consciência do ambiente externo seja pouca ou nenhuma”.

Para o psicólogo britânico John H.Clark, a meditação é um método pelo qual a pessoa se concentra cada vez mais em cada vez menos coisas, com o objetivo de esvaziar a mente sem perder, paradoxalmente, o estado de alerta.

Yoga sutras que dizem respeito à Dhyana:


1.39 (yatha abhimata dhyanat va)

Ou pela contemplação ou concentração em qualquer objeto ou atitude que se goste, ou em direção ao que se tem predileção, a mente se torna estável e tranquila.

* yatha = de acordo com
* abhimata = sua própria predisposição, escolha, desejo, vontade, gosto, familiaridade, preferência.
* dhyanat = medite em
* va = ou outras práticas dos sutras(1.34-1.39)

Este sutra torna claro que a chave principal para a estabilização da mente e a remoção dos obstáculos é ter apenas um foco para a concentração. A escolha deste foco será dada pela própria percepção e inteligência da pessoa.

Todos sabemos que o princípio de focar em algo agradável significa estabilizar a mente. Entretanto, a conveniência do objeto escolhido é outro assunto. Ver TV, jogar, ouvir música, conversar, etc., podem ser eficazes para sossegar parcialmente a agitação mental das atividades do dia. O foco está em cada uma dessas atividades e pode haver algum benefício, mas aquele que medita aprenderá a escolher objetos mais sofisticados para estabilizar a mente para a meditação.
Este sutra fala apenas da estabilização e clareza da mente e não da meditação profunda. Nesse nível o foco fornece uma base sólida para a prática mais refinada, mais sutil de meditação.


2.11 (dhyana heyah tat vrittayah)

Quando as flutuações mentais ainda têm algum potencial de coloração, elas são trazidas para o estado de simples latência através da meditação.

* dhyana = meditação
* heyah = é reduzida, abandonada, destruída
* tat = que
* vrittayah = atividades, flutuações, modificações mentais

Este sutra descreve o processo pelo qual algumas flutuações mentais reduzidas, são ainda mais enfraquecidas ou abandonadas pela meditação. Este processo funciona mais ou menos assim:

1. Estabilização da mente;
2. Redução da maior parte das flutuações mentais;
3. Transformá-las numa semente ;
4. Desintegrando-as de volta para o campo mental.

É uma linha divisória entre o trabalho mental em níveis grosseiros e as explorações mais sutis da mente. Ele pode ajudar muito na compreensão geral dos yogasutras.

3.2 (tatra pratyaya ekatanata dhyanam)

A permanência ou ininterrupção do fluxo neste foco único é chamado de absorção na meditação. O objeto ou a área do corpo interiorizado preenche todo o espaço da consciência.

* tatra = aí,neste lugar
* pratyaya = a causa, a sensação, o princípio causal ou cognitivo, noção, idéia apresentada
* ekatanata = eka = um; tanata = fluxo continuo de atenção ininterrupta
* dhyanam = meditação

Absorção no objeto - A concentração contínua em um foco é meditação. Normalmente, quando não há distração, há um momento de concentração. No momento seguinte vem a desatenção, e depois a atenção volta ao objeto da concentração. Quando a distração não mais ocorre, acontece a meditação.

Outro jeito de descrever o processo de meditação é que há uma contínua série de concentrações individuais num mesmo objeto ao invés de uma concentração contínua.

A meditação é decorrente de uma técnica que exige um longo e perseverante aprendizado. Neste estágio, a paciência e a determinação têm grande importância pois, no início, os exercícios de meditação parecem monótonos.

Dhyana não pode ser praticada por quem está estressado, possui corpo frágil, tem a coluna envergada, a mente agitada ou timidez. Ela está relacionada com uma faculdade mental superior, que exige preparo. A meditação não remove o estresse, não fortalece o corpo nem endireita a coluna. É necessária uma preparação no sentido de remover as condições inadequadas do corpo e da mente antes de iniciar a meditação.

Para Iyengar, é por meio do ássana que conseguimos relaxar o cérebro. Em geral, identificamos o cérebro com a cabeça. No ássana, a consciência se espalha pelo corpo e se irradia para cada célula deste corpo, criando uma percepção completa. Assim, o pensamento carregado de estresse é esvaziado e a mente focaliza o corpo, a inteligência e a percepção como um todo. O cérebro fica mais receptivo e a concentração se torna natural.

Em “A Luz da Yoga” o mestre ensina: “o yogue conquista o corpo pela prática de ássanas, tornando-o um veículo adequado para o espírito” e, sabiamente conclui, “uma alma sem um corpo é como uma alma sem seu poder de voar”.

Nós, praticantes de Iyengar yoga, sabemos por nossa própria experiência, que as condições inadequadas do corpo, como a fragilidade e a coluna envergada, são naturalmente dissipadas pela prática correta e constante dos ássanas.

Dessa maneira, aprendemos que Dhyana está relacionada com uma faculdade mental superior que exige preparação. Se o professor diz ao aluno: “relaxe o cérebro!” obviamente não conseguirá seu intento, mas, se colocá-lo em uma posição de halássana, o cérebro naturalmente se aquietará. É deste modo que podemos utilizar o corpo para cultivar a mente.

E, em seu visitadíssimo blog do yogue, o professor Sandro Bosco compartilha com os internautas seu vasto conhecimento: “A meditação na postura é fruto de uma atenção plena no corpo físico. É o caminho da percepção, segundo a segundo, da unidade de todas as partes do corpo que controem a postura. São lampejos de liberdade que se prolongam com a prática regular. Isto traz o yoga rasa, o néctar do yoga!”


3.4 (trayam ekatra samyama)

Os 3 processos de concentração, meditação e samadhi usados juntos num mesmo objeto, lugar ou ponto denominam-se samyama

* trayam = os três
* ekatra = junto, como um só
* samyama = dharana concentração, dhyana–meditação e samadhi juntos

Dharana, Dhyana e Samadhi são os 3 últimos degraus do yoga e juntos denominam-se samyama.

A interiorização da atenção é feita através de 3 estágios:
* A atenção perfeitamente centrada e dirigida leva à concentração
* A concentração leva à meditação
* A meditação leva ao samadhi

No samyama, o objeto de dharana, dhyana e samadhi é um só. Através dele, a verdadeira natureza do objeto é vista e ele é afastado com desapego.


3.11 (sarvarathata ekagrata ksaya udaya chittasya samadhi-parinamah)

O domínio denominado Samadhi-parinamah é a transição por meio da qual a tendência da dispersão cede, enquanto que a tendência do foco em um só ponto aparece.

* sarvarathata = vários focos, todos os pontos
* ekagrata = um foco
* ksaya = decrescer, destruir, decair
* udaya = cresce, eleva
* chittasya = da consciência do campo mental
* samadhi-parinamah = transição para Samadhi, estado de perfeita concentração, nível mais elevado de meditação.

O estado de vários focos de pensamento refere-se à tendência da mente ser puxada em diversas direções, em samadhi-parinamah essa tendência cede, diminui, quando a mente se concentra ou foca em um só ponto. Todos nós experienciamos estas duas tendências no dia-a-dia. Este sutra nos orienta sobre o surgimento deste foco em um único ponto. Neste samadhi-parinamah há o testemunho da transição para o samadhi.

Ocorre a concentração extrema. Quando, em dharana, a atenção chega a seu ápice, nesse momento, o objeto de observação e o observador se fundem em pura consciência, tornando-se um só.


3.12 (tatah punah shanta-uditau tulya-pratyayau chittasya ekagrata-parinimah)

O controle denominado ekagrata-parinamah é a transição em que o mesmo foco se eleva e diminui sucessivamente.

* tatah = então
* punah = de novo, sucessivamente
* shanta-uditau = diminuição e elevação, passado e presente
* tulya-pratyayau = assemelhar-se
* chittasya = da consciência da mente
* ekagrata-parinimah = transição do foco único

O sutra anterior descreve que os diversos focos diminuem e o foco único aflora. Agora, neste sutra, o foco único diminui apenas para crescer novamente. Não há diversos focos, apenas vários ciclos de um único ponto. É a transição sendo experienciada.

A experiência e domínio sobre as próprias transições fornece o domínio sobre o processo do pensamento para ir além e vivenciar o centro da consciência.


4.6 (tatra dhyana jam anasayam)

No campo das consciências individuais da mente, a que surge da meditação é livre de impressões latentes que poderiam produzir karma. A consciência gerada pela meditação é livre de depósitos, portanto, de desejos e aflições.

* tatra = destas
* dhyana = meditação
* jam = nasce
* anasayam = livre de impressões depositadas ou de veículos kármicos, sem depósito de influências passadas.

MEDITAÇÃO

Dhyana



É a condução da mente complexa a um estado de simplicidade e inocência sem ignorância.
É a totalidade experimentada do centro para a periferia.
É o caminho para eliminar o Klesas, que nada mais é que as 5 aflições naturais e inatas que afligem a todos nós.
Klesas :
1. Avidya => ignorância
2. Asmita => orgulho
3. Raga => apego/desejo
4. Dvesa => aversão
5. Abhinivesa=> medo da morte

A maioria das pessoas começa a praticar as posturas da yoga por questões práticas, poucas procuram por meio da iluminação espiritual.

Iyengar também não conhecia a glória do yoga, também estava atrás de benefícios físicos. E foi quando descobriu que a prática o levou da enfermidade para saúde, da fraqueza para a força.Seu corpo foi laboratório e testemunha das vantagens da yoga.

Quando reconhecemos os benefícios sentimos que algo está começando a acontecer, como uma nova sensação de leveza, calma e alegria, trazendo conhecimento que eleva a sabedoria. Conhecer a si mesmo é conhecer seu corpo, sua mente, sua alma. Esta jornada interior permitirá uma integração dos aspectos da existência como:

Estas camadas do nosso ser incorporam as oito pétalas da yoga que se revelam gradualmente.

1) Yama = ética externas
2) Niyama= observância, éticas internas
3) Asana= posturas
4) Pranayama= controle da respiração
5) Pratyahara= controle e recolhimento dos sentimentos
6) Dharana= concentração
7) Dhyana= meditação
8) Samadhi= absorção no êxtase

CÓDIGO DE COMPORTAMENTO


A medida que viajamos do exterior para o interior exploramos cada uma delas. Aprendemos a desenvolver controle sobre nossas ações no mundo externo e nos ajudam a desenvolver a autodisciplina. Todos sabemos que a mente afeta o corpo e quando os sentidos da percepção se voltam para dentro experimentamos o controle, o silêncio e a quietude da mente.

As três últimas pétalas constituem a integração final da yoga, mas que só se entra em um estado meditativo quando se tem alicerce e para isto existem duas principais práticas importantes que favorecem esse estado (asana- trabalha a expansão e extensão dos nervos e músculos libertando das tensões do corpo por meio de movimento, pranaiama- irrigação de energia), tornando-se o caminho para a cura do estresse, tensão e a pressa. Essas duas práticas são o meio de nos encaminhar para a sabedoria, conhecimento de si e do mundo, bem como a devoção, relaxando e libertando-nos da ansiedade, embora a yoga inicie-se com “culto ao corpo”, mas só aprendendo a relaxar o cérebro é que se remove o estresse.

Iyengar define ainda a meditação como contenção da consciência, da turbulência à calma absoluta. O indivíduo quer responder as questões, Quem sou eu? Qual é a origem de minha existência? Há um Deus que posso conhecer?

A prática da meditação se estende em torno do samadhi absorção e imersão total da existência ou divindade universal.

A Yoga é uma escada que subimos, estamos no sétimo degrau e todo nosso peso repousa sobre ele e igualmente nas pétalas anteriores, pois todos serviram para treinar e nos colocar na melhor forma.

É necessário refinar o que já se realizou, por isto devemos continuar nos questionando, pois onde há orgulho a ignorância estará sempre presente.


PRÁTICA DE MEDITAÇÃO (DHYANA)

Muitas pessoas, erroneamente, acreditam que a meditação produz resultados instantâneos: pensam que basta se sentar e aguardar que o processo funcionará como um passe de mágica, encantando o meditador e levando-o a um mundo sem pensamentos, pleno de bem-aventurança, quietude e brilho. Quando essas experiências não acontecem nas primeiras semanas de meditação, os novos praticantes crêem que estão fazendo alguma coisa errada ou que a sua técnica é ineficaz. Consequentemente, devido a esse entendimento errôneo, eles interrompem a prática.

O que se deve esperar das primeiras semanas de meditação? A mente é como um macaco enlouquecido por picadas de escorpiões, disse o grande iogue Ramakrishana, e as pessoas que começam a meditar e tentam concentrar-se sabem que isso é verdade. Principalmente no começo, a mente é insubordinada e incontrolável. Quando você se senta para meditar, muitos pensamentos surgem e sua mente vagueia, por vários motivos: sons e ruídos externos desviam sua concentração, seu corpo não fica quieto e você finalmente se levanta pensando que nada aconteceu.

Mas algo mudou! Com a prática regular você desenvolve a capacidade de manter a mente firme. Assim como o corpo de um atleta adquire grande força física e vitalidade com o treinamento diário, a pessoa que medita com dedicação desenvolve força mental e capacidade para concentrar-se. Somente com o passar do tempo é que surge o estágio em que conseguimos verdadeiramente fixar nossa mente no objeto da meditação e permanecer nele – então a verdadeira meditação é realizada. A função da meditação é trabalhar o interior da mente e eliminar todas as reações de ações passadas, registradas em nosso subconsciente. É como limpar uma casa. No meio do processo, a casa pode parecer mais suja do que no inicio, mas perseverando e não desistindo no meio, conseguimos limpá-la. Da mesma forma, perseverando na meditação, a mente se purifica cada vez mais.

Meditação é o esforço para controlar e desenvolver a mente, a fim de realizar a verdadeira natureza do ser humano. É o meio através do qual podemos desenvolver todo o nosso potencial em todos os níveis da existência: físico, mental e espiritual.

Ioga é meditação e meditação é ioga
O Presente é o estado de meditação
Meditação pertence a todos está inerente em cada um de nós
Tudo está dentro de você
Testemunhar o Pensamento (Observar)
Meditar sem expectativas
Meditar é o silêncio interior

Sugestões para a prática:

* Manter o corpo confortável
* Limpeza interna (observar suas negatividades)
* Limpeza externa (higiene do corpo)
* Alimentação (não comer demais, nem de menos)
* Roupa confortável
* Manta ou cobertor para se manter aquecido
* Foco para a mente não julgar
* Mantra (libera a mente) ou uma palavra com significado pessoal (amor, paz).

Preparação do local:

* Desligar tudo que leva sua atenção para fora
* Local ventilado e inspirador
* No inicio não ser rígido com tempo e horário
* Manter o compromisso
* Diário: depois de meditar, escrever o que você viu ou sentiu
* Ásanas que preparam o corpo: Baddhakonasana (abertura do quadril), Uttanasana, Upavista konasana (afastamento das pernas)
* Asanas de meditação: Padmásana (Lótus), Sukasana, Siddhásana
* Apoio do quadril – os joelhos não podem ultrapassar a linha do quadril, ajustar a altura do apoio para não ficar com nenhuma tensão muscular.

Aspectos fisiológicos:

* Alteração do metabolismo
* Redução da taxa metabólica
* Redução do consumo de oxigênio
* Redução do Lactato
* Diminuição dos batimentos cardíacos
* Baixa da pressão arterial em até 20%

Técnicas que serão aplicadas na parte prática do seminário:

1. Visualizar um campo e prestar atenção ao primeiro pensamento que vier
2. Ontem e amanhã. Deixar os pensamentos virem e apenas “rotular” como passado ou futuro.
3. Observar a respiração, na entrada e saída do ar.

Fontes:
B.K.S.Iyengar – A Luz da Yoga; Luz na Vida.
Georg Feuerstein – A tradição do Yoga .
John H.Clark - Um Mapa dos Estados Mentais.
Swamij.com/yoga-sutras.htm
http://blogdoyogue.blog.uol.com.br/
Avadhútika Ánandamitra Ácarya - Yoga para a Saúde Integral
Pedro Kupfer - Guia de Meditação
Shrii Shrii Anandamurti (P.R.Sarkar) - A Liberação da Mente através do Tantra Yoga
Cantos: por Mark Giubarelli no site www.patanjali.sutras.com

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