20081120

Satyam, sivam, sundaram

A diferença entre ioga e dança é que o ioga é uma arte perfeita em ação, ao passo que a dança é uma arte perfeita em movimento. Na dança, existe a expressão externa por meio dos movimentos, e no ioga, embora exista um intenso dinamismo interior, a impressão do observador que vê o praticante é estática. O movimento pode ser muito sutil, mas a ação é intensa.

Todos estamos enredados na teia do desejo, da raiva, da cobiça, da paixão, do orgulho e do ciúme. Todos esses abalos emocionais acontecem conosco em nossa vida diária. O dançarino usa essas emoções e as transforma em expressão artística. O iogue trabalha para conquistá-las, como recomendou Patanjali: "Maitrï karunã muditã upeksãnãm sukha duhkha punya apunya visayãnãm bhãvanãtah chittaprasãdanam" cultivar a amistosidade, a compaixão, a alegria e a indiferença perante a felicidade e o pesar, a virtude e o vício, conduz à paz mental (Yoga Sütras, I, 33).

O iogue, assim como o artista, precisa respeitar o corpo. Sem forma e contorno, sem elegância e força, não se consegue ser nem iogue nem dançarino. Se você é artista, lembre que sejam quais forem os temas que você está expressando com a sua manifestação artística, todos eles dependem das experiências interiores e das ações com as quais um iogue também trabalha. Se um artista praticar ioga - se vocêestá tambem em contato com os níveis internos de seu ser - desenvolverá uma vasta gama de expressões, e sua arte se tornará aquilo que é conhecido como "satyam, sivam, sundaram”, ou verdadeira, auspiciosa e bela. Então a arte se torna divina, a chamada ioga-kalã, a arte que promove o auspicioso. Sem essa profundidade interior, a arte é conhecida como bhoga-kalã, ou arte pelo prazer. Esta tem o seu valor, também, é claro, mas se a intensidade e a devoção desaparecerem, ela pode facilmente degenerar em kãma-kalã, ou a arte pela gratificação sensual.

É necessário que haja uma mescla de bhoga-kalã e ioga- kalã, Se há só bhoga-kalã, a arte é simplesmente sensual e elevada; se só existe ioga-kalã, é por demais elevada e austera para ter valor para a sociedade. Para mobilizar, educar e inspirar as pessoas, esses dois níveis da arte precisam estar combinados e mesclados, a fim de que todos possam viver na luz perfeita que ilumina a consciência. Existe uma vívida vibração que permite a cada um de nós viver no campo da alma, de modo que esse corpo mortal poderá beber o néctar da alma imortal e, enfim, a arte se tornará divina.

B. K. S. Iyengar, A Árvore do Ioga (sic), pág 220 e 221.

Esta é uma das salas de aula do novo endereço do
Estúdio em Cena,
onde Yoga e Dança
dialogam
com todas as pessoas
que se dispõem a experimentar.


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