20110429

2 versões para um mesmo conto

Versão oral

Nan-In, um mestre zen japonês durante a era Meiji (1868-1912), recebeu um professor de universidade que veio lhe inquirir sobre o Zen. Este iniciou um longo discurso intelectual sobre suas dúvidas.
Nan-In, enquanto isso serviu o chá.
Ele encheu completamente a xícara de seu visitante, e continuou a enchê-la, derramando chá pela borda.
O professor, vendo o excesso se derramando, não pode mais se conter e disse:
“Está muito cheio. Não cabe mais chá!”
“Como esta xícara,” Nan-in disse, “você está cheio de suas próprias opiniões e especulações. Como posso eu lhe demonstrar o Zen sem você primeiro esvaziar sua xícara?”

Versão Hollywood
De maneira análoga, uma pessoa que tem pré-juízos, pré-conceitos sobre o Hatha Yoga e não consegue sair da sua zona de conforto/conformidade/resignação se sente embaraçada para aceitar a plenitude de bem estar, o bem viver que se pode receber através da vivência,/experiência de praticar Hatha Yoga.

20110419

Espelho (fig.)

es.pe.lho
(latim speculu) sm. 1 Superfície polida que reflete luz ou imagem.
2 fig. Tudo o que reflete ou reproduz um sentimento.
3 fig. Ensinamento, exemplo, modelo.

Memória      Alongamento
 Equilíbrio     Músculo     Força
Foco        Mente

Mire-se.
Mire em si.

20110417

Hatha <=> Forte

Para sustentar o peso de todo o seu corpo estendido sobre um dos pés, 
o que é necessário,
além de equilíbrio e coordenação psico-motora?

A prática do Hatha Yoga é desafio em movimento.
Precisa ter coragem de se enfrentar.

Existem muitos Yogas, alguns mais sentados (sentado= parado???) do que os outros.
Hatha Yoga é o Yoga vigoroso, do corpo físico, que usa os aasanas culturais para cultivar/remodelar o corpo, os padrões emocionais e mentais: a prática de assanas culturais propicia o ganho de flexibilidade e tônus e ter o poder de permanecer sentado, meditando dentro de um corpo confortável e que respira profunda e suavemente. A prática de aasanas culturais desafia de maneira sábia, generosa e gentil os limites do seu corpo e da sua mente.

A opinião superficial é que a pessoa durante a permanência em uma postura está parada.

Fazer uma postura/aasana é como andar de bicicleta:
  • mesmo quando estamos 'parados' sobre o selim, aproveitando o impulso sem pedalar, fazemos pequenos ajustes a cada instante para nos manter equilibrados sobre os pneus;
  • quando estamos sem pedalar, aproveitamos o vento, as sensações, modificamos nossa mente, nos tornamos mais velozes.
Quando entramos num aasana, muitas vezes temos de subir a ladeira dos nossos pré-juízos a respeito da técnica do Hatha Yoga, da falta de crédito que damos a nós mesmos, dos conceitos equivocados que temos sobre a capacidade de equilibrar e de auto-sustentar que o corpo de cada um de nós possui. Quanto mais conhecimento equivocado, maior a pirambeira.

Quando fazemos a permanência, por vezes sentimos medo e somos derrotados pelos conteúdos de nossa mente que mina a auto-confiança. Em outras vezes é como manter a bicicleta que já tem impulso em movimento numa pista sem obstáculos onde somos o único ciclista.

Quando saímos do aasana, se prestamos atenção em nós mesmos desde a entrada, temos uma revigorante e benéfica sensação.

Ao término de uma aula/prática, depois de vários aasanas, nos sentimos leves, revigorados, com os músculos vivos; com sentimentos equilibrados; atentos sem estresse,  e com a mente livre de pensamentos torturantes, nefastos. Com a constância e regularidade em praticar, a musculatura responde com vigor e harmonia, a pele tonifica (canha cor e juvenesce), os órgãos internos ficam do tamanho adequado e com o funcionamento correto, a pessoa amplia sau maneira de atuar no mundo enquanto se torna a morada da serenidade.

20110406

'Eu sou o Āsana'


Em geral, Sthira sukham âsanam(Yoga Sutra 2.46) é traduzido como "sentado confortavelmente na postura", mas, como é que Iyengar entende este sutra através do seu conhecimento e experiência, como ele (Iyengar) nos oferece a possibilidade da vivência do aspecto espiritual da prática dos āsana quando interpreta esse sutra como "a sensação no coração espiritual deve ser 'eu não estou separado do āsana, o āsana não está separado de mim, eu sou o āsana e o āsana sou eu"?

"Este 'eu sou o āsana e o āsana sou eu' é vivencíado em cada āsana, mas como posso fazer alguém senti-lo?

Isso é algo que deve estar presente na prática experimental qualitativa. Deve-se levar esse estado de atívidado para a inteligência o a consciência, mas é impossível que outra pessoa imprima essa sensação em você [...] É necessário observar e ser absorvido. Assim, tenho certeza de que responderá essas questões sozinho, em vez de ter de me escutar. (Guruji sorri e então diz de repente: 'Aqui eu tenho uma dica.' E então apanha um livro e o coloca verticalmente sobre a mesa.)

Veja: essa é a página da frente, essa é a de trás. Imagine que a página de trás é a parte posterior da panturrilha e que a página da frente é a parte anterior: as duas páginas não estão paralelas? Da mesma forma, devemos observar o comprimento e o toque do músculo de trás e sentir o contato uniforme com a pele. Então ajustamos o comprimento do músculo da frente com o osso, para que estejam em um contato equilibrado. É assim que o estudo deve serfeito. Agora vejamos a largura da panturrilha.

A sua inteligência flui na face interna da panturrilha ou na externa? Se a inteligência toca ambas, este é um posicionamento perfeito da inteligência da panturrilha com a inteligência de quem a vê. Então você está no āsana e você é o āsana. Isso é sthira sukham āsanam. Significa que você deve ajustar dessa maneira cada parte do corpo, de forma paralela às outras, e que o observador se acomodou confortavelmente em cada célula e em cada parte do corpo. (Gurují sorri.)"

O āsana como adoração
"Em um āsana perfeito, a consciência tende a se interiorizar. Ela está sob um estado centrípeto. Nesse estágio, o esforço acaba e a consciência começa a se espalhar por todo o ser, como a água se espalha igualmente sobre o chão, Esse é o estado centrífugo da consciência. No āsana, o indivíduo deve aos poucos perceber essa sensação conectando toda a superfície do corpo com o centro e vice-versa. Se o estado centrípeto é dhāranā, o estado centrífugo é dhyāna. Então devemos espalhar o estado centrípeto de forma harmoniosa por todo o corpo, transformando dhāranā, em dhyāna.

A prática dos āsana, para mim, é como uma adoração. Os santos adoram a Deus, Na minha prática, eu adoro os ãsana como uma divindade. Se alguém pode entender o que digo, então pode ir além do âmbito da moldura física com inteligência clara e consciência limpa afim de vivenciar a essência da vida."

Adaptação das páginas 126 e 127 do livro 'A Sabedoria e a Prática do Yoga', B. K. S. Iyengar.
Compare e coordene com o que disse André Van Lysebeth.

20110404

Estátua?


Afinal, fica parado ou não fica parado?
Se o foco da prática é permanência, vai tem 'paradinha'. Se o foco da prática é dinâmica, não tem 'paradinha'.

 No início, a 'paradinha' (=permanência) é de cerca de 30 segundos e a intenção é ir aumentando este tempo, na mesma medida em que a pessoa que pratica:
  •  adquire tonus muscular (alongamento suficiente, contração da musculatura necessária e em sinergia, se for o caso, e descontração da musculatura restante) para sustentá-la durante a permanência;
  •  organiza o fluxo da respiração;
  • se dispões a fazer a experiência de repetir algumas vezes uma atividade nova ou diferente (e a passar pela sensação de estranho ou equívoco que se tem nestas circunstâncias em que fazemos algo novo, ou pisamos em território desconhecido, onde sempre fica um travo de que se fez algo 'errado' ou mal feito pela falta de familiaridade);
  •  adquire atenção relaxada;
  •  consegue ficar consigo mesma (muitas pessoas fogem da permanência pois imaginam que literalmente 'não se aguentam').

A intenção é ir aumentando a permanência, pois é a permanência um dos fatores que produzem o efeito excepcional do Yoga.