20090131

Sādhana


Sādhana
ou Sādhanā= meios de realização
Feuerstein, Georg, Enciclopédia de Yoga da Pensamento, pág.197.

Somos inerentemente livres, porém para desfrutar dessa liberdade imanente, é necessário cultivar o autoconhecimento e a ação correta (uma atitude de não-envolvimento com a ação). O conjunto de ações, que aqui incluem emoções, pensamentos e atitudes internas e externas, que nos conduzem ao estado de liberdade original, divino é considerado Sādhana.

'Sādhana é o meio adotado para atingir um objetivo (sādhya).
A pessoa envolvida em sādhana é o sādhaka.
Todas as ações emprendidas pelo sādhaka, até que ele alcance o objetivo, são incluídas no termo sādhana.
'

20090130

O que diz sua mente?


O corpo diz sua mente.*

É sua mente que indica a direção para onde você vai, e o corpo a segue com alguma letargia.

Em parte isso é bom, já pensou se cada pessoa que fosse catar algo que está no chão ficasse deprimida? Ou se cada vez que algém espreguiçasse expandindo o peito sentisse um surto de euforia?

Por outro lado, ao olhar o corpo de outra pessoa, geralmente lemos informações do passado, como quando vemos o céu.

O sábio Vyasa descreve 5 tipos de estados mentais (do 'pior' para o 'melhor'):

  • Mudha ou aturdido: O estado mental chamado mudha mente é atônito, aborrecido, pesado, esquecido. É um estado mental entorpecido, que não permite interação.

  • Ksihipta ou turvo: O estado da mente denominado ksihipta é perturbado, agitado, inquieto, errante. A mente não se fixa, segue continuamente a torrente de pensamentos, se deixa envolver por eler num turbilhão que pode se tornar mais ou menos intenso.

  • Vikshipta ou intermitente: neste estado a mente alterna momentos de atenção com momentos de dispersão, onde a atenção facilmente sai do foco original. Não esta emersa num turbilhão de percepções nem alerta e focada num único ponto, e consegue permanecer por alguns instantes concentrada no objetivo, seja ele uma percepção, uma atividade ou meditação.
  • Ekagra ou focado: é o estado mental onde se consegue manter o fio de atenção ao longo das atividades cotidianas: a mente se ocupa apenas do que está acontecendo, do agora, sem flutuar entre a melancolia (revisitar o passado) e a ansiedade (pre-ocupar-se com o futuro). A pessoa com a mente focada está presente no cotidiano e participa das atividades volitivamente.
  • Niruddah ou centrada: neste estado, além de estar focada, a mente se livrou naturalmente de pensamentos ou percepções desnecessárias. É um estado difícil de descrever com pallavras, porém é perceptível pela prática regular de meditação, quando então pode ser coompreendido, vivenciado, percebido.

  • * Título de um dos livros publicados de Stanley Keleman, onde ele expõe o conceito chave do Princípio Formativo, segundo a visão dele: a vida se formando a si mesma com a solidificação da experiência subjetiva; o corpo como forma viva, cinética e emocional: a experiência individual humana manifestada na carne, corporificação construída ao longo do viver.

    20090127

    Zen


    Zen é o jeito dos japoneses pronunciarem a palavra chinesa ch'an.

    Ch'an é o jeito chinês de falar a palavra dhyāna.

    Dhyāna vem do sânscrito e significa 'meditação' ou 'contemplação'. É um estado onde se contempla a presença divina que há em todas as coisas através do mirar/admirar a paisagem interna de cada um de nós.

    Chega-se ao estado de dhyāna através do aprofundamento da habilidade de focalizar de modo continuado (dhārana = concentração unidirecional) a atenção da mente para o interior de si mesma (pratyāhāra = inibição sensorial).

    Dhyāna viajou para a China e o Japão junto com o Budismo.

    20090125

    A Humilhação de Indra


    Certa vez, um monstro chamado Vrtra cumpriu a tarefa de represar (seu nome quer dizer "cercador") todas as águas do universo e houve, então, uma grande seca que durou milhares de anos. Bem, Indra, o Zeus do panteão hindu, finalmente teve uma idéia para solucionar o problema: "Por que não lançar um raio nesse sujeito e explodi-lo?" Então, Indra, que era aparentemente meio lerdo de raciocínio, pegou um raio e o atirou bem no meio de Vrtra, e... bum! Vrtra explode, a água flui novamente e a Terra e o universo têm sua sede saciada.

    Bem, daí Indra pensa: "Como sou poderoso", e então vai até a montanha cósmica, Monte Meru, o Olimpo dos deuses hindus, e percebe que todos os palácios por lá estavam em decadência. "Bem, agora vou construir uma cidade inteiramente nova aqui - uma que seja merecedora da minha dignidade." Então, obtém o apoio de Vishvakarman, o artífice dos deuses, e conta-lhe seus planos.

    Ele diz: "Olha, vamos começar a trabalhar aqui para construir essa cidade. Acho que poderíamos ter palácios aqui, torres acolá, flores de lótus aqui, etc., etc.".

    Então, Vishvakarman começa as obras. Porém, toda vez que Indra volta para lá, ele aparece com novas ideias, melhores e mais grandiosas a respeito do palácio e Vishvakarman começa a pensar: "Meu Deus, ambos somos imortais, então esse negócio não vai terminar nunca. O que eu posso fazer?"

    Então, decide procurar Brahma e queixar-se a ele, o assim chamado criador do mundo dos fenômenos. Brahma está sentado em um lótus (o trono dele é assim) e Brahma e o lótus crescem a partir do umbigo de Víshnu, que se acha flutuando no espaço cósmico, montado em uma grande serpente, chamada Ananta (que significa "eterno").

    Portanto, eis a cena. Lá fora, na água, Vishnu dorme, e Brahma, está sentado no lótus. Vishvakarman entra, e, após muita reverência e embara­ço, diz: "Ouçam, estou em apuros". Daí, conta sua história a Brahma, que diz: "Tudo bem. Eu darei um jeito nisso".

    Na manhã seguinte, o porteiro da entrada de um palácio que está sendo construído nota um jovem brâmane azul-escuro, cuja beleza chamou a atenção de muitas crianças em torno de si. O porteiro vai a Indra e lhe diz: "Acho que seria de bom grado convidar este belo jovem brâmane a conhe­cer o palácio e dar-lhe uma boa acolhida". Indra concorda que seria uma boa ideia e, assim, o jovem é convidado a entrar. Indra está sentado em seu trono e, após as cerimónias de boas-vindas, diz: "Bem, meu jovem. O que o traz ao palácio?"

    Com urna voz semelhante ao som de um trovão no horizonte, o rapaz diz: "Ouvi dizer que você está construindo o maior palácio que um Indra já conseguiu e, agora, depois de conhecê-lo, posso dizer-lhe que, de fato, ne­nhum Indra construiu um palácio como este antes".

    Confuso, Indra diz: "Indras anteriores a mim? Do que você está fa­lando?"

    "Sim, Indras anteriores a você", diz o jovem. "Pare e pense, o lótus cresce do umbigo de Vishnu, então, desabrocha e nele se senta Brahma. Brahma abre os olhos e nasce um novo universo, governado por um Indra. Ele fecha os olhos. Abre-os novamente - outro universo. Fecha os olhos... e, durante 365 anos brâmicos, Brahma faz isso. Então o lótus murcha e, após uma eternidade, outro lótus desabrocha, aparece Brahma, abre os olhos, fecha os olhos. . . Indras, Indras e mais Indras.

    Agora, vamos considerar cada galáxia do universo um lótus, todas com seu Brahma. Até poderia haver sábios em sua corte que se apresenta­riam como voluntários para contar as gotas d'água do oceano e os grãos de areia das praias do mundo. Mas quem contaria esses Brahmas, sem falar nos Indras?"

    Enquanto ele falava, um formigueiro, marchando em colunas perfei­tas, aproximou-se pelo piso do palácio. O rapaz as olha e ri. Indra fica com a barba coçando, suas suíças ficam eriçadas, e ele diz: "Ora essa, do que você está rindo?"

    O jovem diz: "Não me pergunte o por quê, a menos que queira ficar magoado".

    Indra diz: "Pois eu pergunto".

    O rapaz aponta para as fileiras de formigas e diz: "Todas, antigos Indras. Passaram por inumeráveis encarnações, subiram de posto nos es­calões do Céu, chegaram ao elevado trono de Indra e mataram o dragão Vrtra. Então, todos eles dizem: 'Como sou poderoso', e lá se vão eles".

    Nesse momento, um velho iogue excêntrico, usando apenas uma tan­ga, entra segurando um guarda-chuva feito de folhas de bananeira. Vê-se em seu peito um pequeno tufo de cabelos, em forma de círculo e o jovem olha para ele e faz as perguntas que, na verdade, estão na mente de Indra: "Quem é você? Qual o seu nome? Onde você mora? Onde vive sua famí­lia? Onde é a sua casa?"

    "Eu não tenho família, eu não tenho casa. A vida é curta. Este guarda-chuva é o suficiente para mim. Eu devoto minha vida a Vishnu. Quanto a esses cabelos, é curioso: toda vez que morre um Indra, cai um fio de cabe­lo. Metade deles já caiu. Logo, logo, todos vão cair. Por que construir uma casa?"

    Bem, esses dois eram, na verdade, Vishnu e Shiva. Eles apareceram para a instrução de Indra e, já que ele os ouviu, foram-se embora. Bem, Indra sentiu-se totalmente arrasado, e quando Brhaspati, o sacerdote dos deuses, entra, ele diz: "Eu vou me tornar um iogue. Serei um devoto aos pés de Vishnu".

    Então, aproxima-se de sua esposa, a grande rainha Indrani, e diz: "Querida, vou deixá-la. Vou entrar na floresta e me tornar um iogue. Vou parar com essa palhaçada toda a respeito de reinado na Terra e me conver­terei em um devoto aos pés de Vishnu".

    Bem, ela o fita por um instante; então, vai procurar Brhaspati e conta-lhe o ocorrido: "Ele meteu na cabeça que vai embora para se tornar um iogue".

    Daí, o sacerdote toma sua mão e a leva para se sentarem diante do trono de Indra, e lhe diz: "Você está no trono do universo e representa a virtude e o dever - dharma - e encarna o espírito divino em seu papel terreno. Já lhe escrevi um livro importante sobre a arte da política - como manter o Estado, como vencer guerras, etc. Agora vou lhe escrever um livro sobre a arte do amor, para que o outro aspecto de sua vida, com você e Indrani juntos, aqui, possa vir a ser uma relação do espírito divino que habita em todos nós. Qualquer um pode ser iogue; porém, o que acha de representar nesta vida terrena a imanência desse mistério da eternidade?"

    Então, Indra foi poupado do problema de ter de abandonar tudo e tomar-se um iogue, poderia dizer o leitor. Na verdade, em seu íntimo, ele já sabia de tudo isso, da mesma forma que nós. Tudo o que temos a fazer é despertar para o fato de que somos uma manifestação do eterno.


    Essa história, conhecida como "A Humilhação de Indra", acha-se no Brahmavaivarta Purana. Os Puranas são textos sagrados hindus que datam de aproximadamente 400 d.C. O aspecto fascinante a respeito da mi­tologia hindu é o fato de ela ter conseguido absorver o universo de que falamos hoje em dia, com seus vastos ciclos de vidas estelares, galáxias após galáxias e o nascimento e morte de universos. Isso reduz a força do momento presente.

    O que importa todos os nossos problemas relacionados às bombas atômicas explodindo o universo? Já houve universos e universos antes, cada um deles explodido por uma bomba atómica. Portanto, agora você pode identificar a si mesmo no eterno que habita em você e em todas as coisas. Isso não significa que você queira assistir ao lançamento de bombas atômi­cas, mas, por outro lado, não perde seu tempo se preocupando a respeito.

    Uma das grandes tentações de Buda foi a luxúria. A outra, o medo da morte, que, por sinal, é um belo tema para meditação. A vida lança à nossa volta essas tentações, essas perturbações mentais, e o problema consiste em encontrar o centro imutável dentro de nós. Então, pode-se sobreviver a qualquer coisa. O mito vai ajudá-lo a fazer isso. Não queremos dizer que você não deveria sair em passeatas de protesto contra a pesquisa atômica. Vá em frente, mas faça-o de maneira divertida. O universo é a diversão de Deus.

    Joseph Campbell, em 'Mitos de Luz: Metáforas Orientais do eterno', pág. 22 a 25
    Imagem: 'Lord Vishnu on Ananta', pintura Madhubani sobre papel por Dhirendra Jha.

    20090121

    Shavāsana


    Em Shavāsana, os braços e pernas permanecem suavemente alongados, os braços ligeiramente afastados do tronco e as pernas separadas uma da outra, para evitar o contato entre as partes do corpo. As mãos repousam com as palmas para cima, minimizando assim as informações que a pele das palmas mãos e das pontas dos dedos, que são regiões onde a quantidade e qualidade de informações táteis é intensa.

    O propósito de assumir essa postura é reduzir ao máximo as informações recebidas do mundo exterior, e oferecer à mente(= consciência) a possibilidade de lançar um olhar para dentro de si mesma ao invés de fazer o que foi condicionada desde o seu nascimentoque é olhar para fora, para o que acontece fora dos limites do corpo que essa mente habita.

    Com os olhos fechados e as informações que os sentidos propiciam minimizadas, 'obrigamos' a mente a pensar nas sensações do mundo exterior que os sentidos do corpo percebem. Aos poucos, a mente perde o interesse em evocar as sensações e volta-se para si mesma, os sentidos se 'fecham' e a consciência se encontra em pratyāhāra.

    20090119

    Se linke,


    BLUE MONDAY

    De repente, segunda-feira de novo.
    Milhares de corpos andando, enquanto seus espirítos ficaram em casa na cama dormindo.

    Milhares de vozes reclamando que gostariam que fosse sexta-feira de novo, só para voltar seus corpos para as suas camas.

    A semana passará e a nossa consciência estará perdida entre o que passou e o que começará. Mais uma semana será perdida, só para variar...

    Interessante o caminho da nossa consciência.
    Ganhamos o mundo de presente e ao invés de estarmos aqui conscientes, estamos o tempo todo ausentes.


    Será?

    Sādhana

    Teoricamente:

    'SĀDHANA — A Procura

    Sādhana implica um estudo ou pesquisa. Há três tipos de sadhana.

    Bahiranga Sādhana (bahir = exterior, anga = corpo) é o aspecto da pureza externa. Bahiranga Sādhana consiste em seguir os princípios morais e éticos de yama e niyama para a construção do caráter, e a prática de āsanas para limpeza e manutenção da saúde do corpo.

    Antaranga Sādhana (antar = interior, anga = corpo) é a questão da pureza interior. No Antaranga Sādhana, procura-se limpar e controlar sua mentee todos os seus sentidos pela prática de pranayama e pratyahara.

    Antaratma Sādhana (antar = interior, atma = alma, o eu) é a questão espiritual. Aqui o aspirante penetra nos aspectos mais íntimos de seu ser por meio da prática de dharana, dhyana e samadhi.'

    Chanchani, Swati e Chanchani, Rajiv: Ioga para crianças: um guia completo e ilustrado de ioga: incluindo manual para pais e professores, pag. 181

    20090117

    Encerramento de uma aula prática

    Assim como assinalamos o início da prática, da jornada pessoal de auto conhecimento de observação de si mesmo e aprendizado consigo mesmo, demarcamos o fim dessa jornada com o fechamento da prática.

    Sentamos em Sukhāsana, como fizemos no início da prática, focalizamos a consciência agora em estado mais introspectivo, após o relaxamento e meditamos por algumas respirações, ou por alguns minutos.

    Nos despedimos de todos os que praticaram conosco, buscando levar o estado de Yoga para todos os instantes de nossa vida.

    20090116

    Relaxamento


    A maioria das pessoas se diz ou pensa que esta relaxada a maior parte do tempo, porém testes científicos provam o contrário: a maior parte das pessoas está sempre tensa e não percebe (mais).

    São três os tipos de tensões responsáveis pela sensação de angústia que as pessoas guardam em si atualmente: a tensão física, a tensão mental ou psíquica e a tensão emocional, que são a origem das doenças, inibições, complexos, tiques, neuroses, ansiedade, em fim, todo o time de distúrbios de saúde física e psicológica que flagela os humanos viventes no século XXI. (e que a indústria da doneça se esmera em rebatiza, esmiuçar, 'distinguir', reinventar)

    Primeiro acomodamos o corpo em Shavāsana, que é uma postura que elimina ao máximo a possibilidade de estímulo sensorial. Shavāsana ou Mritāsana é a postura do cadáver, do morto, onde emulamos a atitude de um corpo sem vida ou inconsciente: deitados de costas com os membros inferiores e superiores alongados e com mãos e pés um pouco afastados um da outro, com as mãos entreabertas e as palmas para cima. Na foto no início do post, podemos verificar o quanto nossas mãos são estimuláveis, sensíveis e as mãos na postura Shavāsana recebem o mínimo de estímulo, e assim, a área do cérebro responsável pelo processamento sensorial e motor das mãos fica propícia à não-atividade.

    A respiração naturalmente se aprofunda e se amplia, de modo agradável.

    A mente é dirigida de uma sensação a outra, num circuito pelas partes do corpo, e se retrai naturalmente. É importante frisar que esse mecanismo de retração é da natureza da mente , tem por objetivo cessar a atividade da mente objeriva, essa que é ‘faladora’ no cotidiano, por onde os pensamentos correm em alta velocidade, onde o foco da atenção pula de um ponto a outro, onde assuntos se tornam recorrentes.

    Durante o relaxamento podem surgir imagens, cores, sons, cheiros, sensações na mente e no corpo. São produtos dos conteúdos inconscientes reprimidos que vêm á tona e que não devem ser foco de atenção, de elaboração ou julgamento: devem sim ser observados à distância, sem envolvimento de quem está praticando o relaxamento. O relaxamento se intensifica e se aprofunda com o tempo de prática e então se torna mais eficiente para o repouso que muitas horas de sono.

    Obs.: A foto que ilustra este post é do homúnculo sensorial e do homúnculo motor. Estes homúnculos refletem quantitativamente, em escala proporcional, o quanto do cérebro humano está dedicado às sensações e a motricidade em cada região do corpo. Quanto maior a parte do corpo, mais área cerebral é utilizada para o processamento do estímulo, mais refinada é a possibilidade de sensação ou de movimento.

    20090115

    Āsanas: o foco e o instrumento


    O motivo dos cursos de Hatha Yoga existirem é o intento das pessoas que procuram as aulas: praticar as posturas/ āsanas, ou como é voz corrente, 'fazer Yoga' orientadas e estimuladas por um instrutor/professor.

    Quando usamos um método de aproximação para a prática das posturas do Hatha Yoga como o proposto por B. K. S Iyengar conseguimos ampliar nosso entendimento da totalidade corpo-mente no ato do asana e posteriormente, incorporar esse ajuste refinado à ação muscular e à coordenação motora necessárias para a entrada, permanência e saída de cada āsana proposto no decorrer de uma aula.

    Essa ampliação da experiência sensorial, da qualidade e intensidade do movimento consciente é feita no mais das vezes pelo uso de uma fala que estimule a ação correta e alinhada desde o seu início até sua finalização, quadro a quadro, procurando tornar clara a sucessão das ações em cada parte do corpo-mente, da pele aos ossos, dos sentidos à imaginação, para favorecer ao aluno criar um filme repleto de estímulos sensoriais em sua mente da maneira ideal de se fazer cada āsana. Essa maneira de falar leva em conta os objetivos ou focos da prática do dia e a necessidade de entendimento e estímulo manifestada pelos alunos.

    Outra forma de dilatar a percepção nos āsanas é fazer uso dos acessórios para definir melhor o alinhamento do āsana, para facilitar a experiência de fazer e aprofundar um āsana ou para diminuir o medo ou a ansiedade de fazer um āsana sem apoio. O uso dos acessórios permite um envolvimento integral do corpo, propicia sensações esclarecedoras intensas e profundas que de outra forma poderiam não acontecer; traz confiança e oferece a possibilidade de tornar a tarefa de fazer a postura mais leve e agradável, uma vez que é muito comum que as pessoas utilizem força de mais para fazer os movimentos necessários para a confecção de cada āsana ou que, eventualmente, se encontrem debilitadas para praticar fora do contexto que o uso de acessórios procicia.

    Um outro ponto importante numa aula prática bem estruturada é a sequência de asanas propostas, onde o(s) āsana(s) precedente(s) prepara(m) para o(s) āsana(s) que segue(m) de tal maneira que, ao final da série de āsanas proposta, o aluno possa ter diante de si um panorama mais iluminado e enriquecido do todo corporal a partir do foco escolhido para a aula: existe uma história entremeada através dos tecidos do corpo, um encadear coerente de ações com começo, meio e fim.

    20090114

    Início de uma aula prática


    a.ber.tu.ra(lat apertura) sf 1 Ação de abrir. 2 Fenda, buraco. 3 Início, princípio. 4 Instauração: Abertura de falência. 5 Boca, entrada.


    Serve para criar um limite para o mecanicismo cotidiano.
    Cria um ponto de partida, o início de uma ligação consigo mesmo, afinal, cada um vem praticar para namorar sua alma, para (re)conhecer o que tem por dentro.

    Sentados em Sukhāsana, respirando com consciência, atentos, com pele e músculos ‘alisados’, mãos em gesto de prece/namascar/namastê, entoamos alguns cânticos como uma maneira de dizer 'oi' para quem mora dentro de cada um de nós, de saudarmos nossos companheiros praticantes da ocasião e nos colocarmos em atitude respeitosa, receptiva e atenciosa para o que viemos perscrutar: praticar Hatha Yoga.

    Geralmente cantamos o Pranava (OM) três vezes seguidos da Invocação a Patãnjali. Outros cantares para este momento:

    'Gurur-Brahama
    Gurur-Vishnu
    Gurur-Devo Maheshvarah
    Gurur Sakshat Para-Brahma
    Tasmai Sri-Guruve Namah
    '

    que enaltece o guru pessoal e que pode ser entendido assim:

    'O Guru é verdadeiramente Brahma,
    verdadeiramente Vishnu
    e também é verdadeiramente Shiva.
    O Guru é de fato o Brahman (O Ser Universal).
    Humildemente eu me curvo diante dele.'

     

    20090113

    Prática


    A aula prática de Hatha Yoga é um momento de intensa pesquisa.

    A dinâmica de uma aula prática básica consiste em:

    demarca a quebra da rotina cotidiana, inicia o processo de atenção para si mesmo.

    é a principal característica do Hatha Yoga: a execução de posturas com o corpo consciente.
    Pode-se optar por uma praxe com asanas de abertura ou preparatórios, como 'aquecimento' ou para despertar a atenção e elevar o nível energético para os asanas centrais que são o propósito ou o foco da prática do dia e encerrar com asanas de fechamento que preparam o praticante para o relaxamento e para o retorno às suas atividades habituais.

    é o período de contato da mente com o espaço interno, período onde os efeitos dos asanas são intensificados e os benefícios da prática se tornam sensíveis.

    encerramento da prática com uma breve meditação.

    20090112

    Apagador


    Praticar é feito passar a borracha.
    É retirar os caminhos artificiais dos gestos do cotidiano, aparar as arestas das articulações, renovar* os conteúdos celulares.

    É recuperar o estado do recém nascido, em busca das sensações do repertório (novo) dos movimentos agradáveis.

    Essa prática pode e deve ser extendida para além da suspensão de nossa rotina que acontece durante a aula, ocupando o espaço de viver e retirar os caminhos artificiais do convívio cotidiano, aparar as arestas das relações, renovar* os conteúdos emocionais e intelectuais pessoais.


    *Renovar = zelar por si: deixar sair o que não faz sentido, o que não se aproveita ou não satifaz e deixar entrar o que nutre, o que traz contentamento.