20111029

Praticar (é) preciso



 Yoga Kuruntha

Yoga Kuruntha, ou, na tradução literal, Yoga das Marionetes, uma técnica do corpo de conhecimento do Yoga, utilizada principalmente no sul da Índia para aquecimento antes das práticas de aasanas. Em alguns livros antigos e tradicionais, como, por exemplo, o Kapala Kurantaka Hathabbyasa Paddhati, esses movimentos são chamados de Rajvasanani, que significa aasana realizadas com cordas. Ele consiste de movimentos feitos com a ajuda de cordas – daí o nome marionete - mas também utiliza argolas e o apoio parede. É de excelente ajuda para o aumento da flexibilidade corporal, o que possibilita um aprendizado mais harmonioso e rápido dos aasanas e posturas corporais. Além disso, como todo trabalho no Yoga, o trabalho com as cordas leva a um maior conhecimento do próprio corpo e da postura. Com isso, podemos dizer que o Kuruntha é um instrumento de reeducação corporal, tanto para pessoas sadias, de todas as idades como também para pessoas que apresentam algum tipo de dificuldade devido a problemas físicos, como, por exemplo, pessoas com problemas de coluna. É um agente de mudanças corporais pois leva ao aumento do tônus e de massa muscular, além do equilíbrio da lateralidade, dados benéficos para a saúde do corpo. Além desses benefícios, pode atuar como facilitador na aprendizagem das posturas utilizadas no Yogaasanas. Esse Yoga é difundido na atualidade, principalmente por B. K. S. lyengar, grande mestre de Hatha Yoga da atualidade.


Yoga Kurunta


O Tantra e a prática de Yoga Kuruntha

"A visão por trás da prática é o que faz a diferença", palavras que normalmente uso ao ser interpelado sobre o porque do Yoga Kuruntha ser uma das práticas utilizadas na metodologia de ensino. E o que está por trás é apenas uma palavra: equilíbrio. Ao trabalhar a flexibilidade e as principais articulações do corpo, estará sendo desbloqueada a passagem de energia pelos Cakras secundários (articulações), e com isso energizando corretamente os Cakras principais. Ao trabalhar a lateralidade estaremos energizando o lado direito (energia masculina) e o lado esquerdo (energia feminina) e conseqüentemente equilibrando as características masculinas e femininas da personalidade. Ou seja, trabalhando o físico, estaremos equilibrando o energético e a psique do indivíduo, levando-o ao equilíbrio em sua vida psíquica. Saúde psicológica e física decorrente do equilíbrio energético.

A escolha dos movimentos a serem realizados depende, assim como em todo trabalho tântrico, do que o indivíduo necessita no momento. Por isso, embora certos movimentos sejam realizados por quase todos os alunos, outros serão ou não, dependendo da necessidade individual.

Vemos que, muito mais do que uma simples ação corporal visando aquecimento e flexibilidade, o Yoga Kuruntha na prática tântrica ganha o status de auxiliar em mudanças físicas, psicológicas e energéticas, possibilitando vivenciar e ultrapassar aspectos psicológicos que bloqueiam o florescer da personalidade que está a caminho do equilíbrio.

Paulo Murilo Rosas, A Psicologia do Tantra, pag. 77 e 78

Yoga Kurunta

Yoga Kurunta

Yoga Kurunta

20111011

Supta Badha Konasana



Um bebê é  promessa do vir a ser, um mar de possibilidades.
É um ser que ainda não foi en-formado,ou de-formado.

Quando pratico Hatha Yoga, me sinto renovada,de alma limpa e lavada, com todas as possibilidades do porvir. Me sinto re-formada.
Hatha Yoga juvenesce.
.:.
Outra coisa interessante: o bebê da foto se encontra em uma posição, que lembra um aasana, e que pode ser observada em bebês de qualquer parte do mundo. Hatha Yoga é um patrimônio do corpo humano, viva esse humano em que parte do mundo estiver.

20111007

O seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo a vida de um outro alguém.
Não fique preso pelos dogmas, que é viver com os resultados da vida de outras pessoas.
Não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz interior.
E o mais importante: tenha coragem de seguir o seu próprio coração e a sua intuição.

Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar.
Todo o resto é secundário.
Steve Jobs


20111006

Pratyahara e Dharana

Esta postagem é um capítulo da obra Raja Yoga - O Caminho Real.
Também pode ser encontrado aqui.

Negritos e caixas altas são minhas intromissões.

'A etapa seguinte é chamada pratyahara. Que é pratyahara? Sabemos como nascem as percepções. Em primeiro lugar há os instrumentos externos, depois os órgãos internos, funcionando no corpo através dos centros cerebrais, e por último, a mente. Quando todos se juntam e se ligam a algum objeto externo, então, percebemo-lo. Ao mesmo tempo, é bastante difícil concentrar a mente e ligá-la a apenas um órgão; a mente é a escrava de objetos físicos.

Costumamos ouvir: “Sede bons”, “Sede bons”, “Sede bons”, que todo o mundo ensina. Não há criança em qualquer pais que seja. que não tenha sido ensinada: “Não roubes”, “Não mintas”; mas ninguém ensina à criança como evitar o roubo ou a mentira. Falar-lhe apenas não basta. Por que não se torna ela um ladrão? Não lhe ensinamos como não roubar; simplesmente dizemos: “Não roubes”. Só quando lhe ensinarmos a controlar sua mente, realmente ajudamo-la.

Todas as ações, internas e externas, ocorrem quando a mente se liga a determinados centros, chamados órgãos. Querendo ou não, as pessoas juntam suas mentes aos centros. Essa, a razão por que cometem ações tolas e sentem-se infelizes. Porém, se tivessem a mente sob controle, não agiriam assim. Qual seria o resultado de controlar-se a mente? Seria o de evitar que ela ficasse ligada aos centros de percepção, e, naturalmente, o sentir e o querer estariam sob controle. E’ claro até aqui. Mas, isto é possível? Certamente que sim; vemo-lo praticado nos tempos atuais. Os curadores pela fé ensinam as pessoas a negarem a desgraça, a dor e o mal. Sua filosofia é um tanto vaga, porém, de uma ou outra forma, tropeçaram numa parte da yoga. Onde conseguem obter que uma pessoa se desembarace do sofrimento, negando-o, realmente utilizam uma parte de pratyahara, pois tornam a mente da pessoa, forte bastante para ignorar os sentidos. Os hipnotizadores, de maneira similar, por sua sugestão, provocam no paciente, por certo tempo uma espécie de pratyahara mórbido. A sugestão pseudo-hipnótica age somente sobre a mente fraca; e a menos que o operador, por meio de olhar fixo ou algo parecido, tenha conseguido colocar a mente do paciente numa espécie de condição mórbida, passiva, suas sugestões jamais conseguem qualquer resultado.

O controle temporário dos centros de um paciente, feito por um hipnotizador ou por um curador pela fé, é repreensível, porque conduz à ruína inevitável. Não se trata realmente de controlar os centros nervosos pelo poder do livre-arbítrio do paciente, mas sim, entorpecer-lhe a mente, por algum tempo, graças a golpes súbitos que a vontade de outrem lhe desfecha. É corno, para refrear a louca corrida de uma fogosa parelha, ao invés de utilizar as rédeas e a força muscular, pedir a outra pessoa que desfeche fortes golpes na cabeça dos animais, a fim de, tonteando-os, torná-los dóceis durante certo tempo. Em cada uma dessas atuações, a pessoa, sobre a qual se trabalha, perde parte de suas energias mentais, até que sua mente, ao invés de obter a faculdade de controle perfeito, torna- se em massa informe, impotente, e o paciente termina num asilo de loucos.

Toda tentativa de controle, não-voluntário, feita sem a vontade do indivíduo, não apenas é desastrosa mas também engana seu próprio objetivo. O fim de toda alma é a liberdade, o domínio – liberdade da escravidão da matéria e do pensamento, domínio da :natureza externa e interna. Em lugar de conduzir a esse resultado, toda corrente de vontade de outra pessoa, sob qualquer forma, controlando diretamente os órgãos ou forçando a que sejam controlados sob condições mórbidas, apenas forja mais um elo à pesada cadeia, já existente, da servidão das ações e superstições passadas. Portanto, cuidado, quando vos permitirdes a ação de outras pessoas sobre vós. Cuidado como, sem o saber, levais outras pessoas à ruína. Verdadeiramente alguns conseguem fazer o bem a muitos, por um certo tempo, dando novo caminho às suas propensões; mas levam, simultaneamente, a ruína a milhões, por sugestões inconscientes que semeiam a seu redor, despertando nos homens e mulheres aquela condição mórbida, passiva, hipnótica, que os torna, finalmente, quase despidos de alma.

Aquele que pede a outros que o creiam cegamente, ou que arrasta as pessoas atrás de si pelo poder controlador de sua vontade mais forte, ofende a Humanidade, ainda que o não pretenda. Usai, portanto, a mente, controlai corpo e mente, vós mesmos, e lembrai-vos que a menos de serdes enfermos, nenhuma vontade estranha poderá agir sobre vós. Evitai todos, grandes ou bons, que vos pedem crença cega.

Por todo mundo existiram seitas de danças, de pulos e uivos, cuja influência se espalha como infecção, conforme cantam, dançam e pregam; também elas são espécies de hipnotismo. Exercitam singular controle, durante certo tempo, sobre as pessoas sensitivas – mas por desgraça, acabam freqüentemente fazendo degenerar raças inteiras. Sim, é mais saudável para o indivíduo ou para a raça, permanecerem perversos, do que se tornarem aparentemente bons por um controle tão mórbido e esquisito. Dói-nos o coração pensar quanto mal é feito à Humanidade por tais fanáticos religiosos irresponsáveis, animados todavia de boas intenções. Não sabem que as mentes que sofrem brusca reviravolta espiritual sob suas sugestões, com música e rezas, vão simplesmente se tornando mórbidas, passivas, impotentes e vulneráveis a quaisquer outras sugestões, por piores que sejam. Mal sonham essas pessoas, ignorantes e enganadas, que enquanto se felicitam pelo poder miraculoso de transformar os corações humanos, cujo poder, pensam, foi-lhes outorgado por algum Ser acima das nuvens, estão semeando futura decadência, crime, loucura e morte. Portanto, acautelai-vos de tudo que vos despoja da liberdade. Sabei que é perigoso e evitai-o, por todos os meios possíveis.

Aquele que pôde, à vontade, ligar ou tirar sua mente dos diferentes centros, obteve êxito em pratyahara, palavra cujo significado é “acumular para o futuro”, refrear a capacidade dispersiva da mente, libertá-la do domínio dos sentidos. Quando o conseguirmos, teremos realmente formado nosso caráter, teremos feito um longo estirão na trilha da liberdade; enquanto isso, somos meras máquinas.

Quão árduo é controlar a mente! Bem foi ela comparada ao macaquinho maluco, da história. Havia um macaquinho, inquieto por sua própria natureza, como todos os macacos. Como se não bastasse isso, alguém o fez beber bastante vinho, de forma que se tornou ainda mais irrequieto. Então, um escorpião o ferrou. Quando uma pessoa é ferrada por um escorpião, salta de dor durante todo um dia, O pobre macaquinho sentiu-se absolutamente miserável. E para completar sua desgraça, um demônio o possuiu. Que palavras podem descrever a sua incontrolável inquietação? A mente humana assemelha-se ao macaquinho. Incessantemente ativa por sua própria natureza, embriaga-se com o vinho do desejo, que lhe aumenta a turbulência. Depois que o desejo apoderou-se dela, vem o ferrão do escorpião do ciúme pelo sucesso dos outros; e por fim o demônio do orgulho instala-se na mente, fazendo-a atribuir-se muita importância. Quão árduo o controle da mente!

Portanto, a primeira lição é sentar-se por um tempo e deixar vagar a mente. Ela está em efervescência durante a maior parte do tempo. Assemelha-se àquele saltitante macaquinho. Que o macaco salte quanto queira; simplesmente esperai e observai. Conhecimento é poder, diz o provérbio, e é verdadeiro. A menos que se saiba o que a mente está fazendo, não se a pode controlar. Entregai-lhe as rédeas, talvez surjam muitos terríveis pensamentos; ficareis admirados ao ver que é possível ter tais pensamentos; mas encontrareis que a cada dia que passa, as divagações da mente serão menos violentas, que gradualmente ela se vai tornando mais tranqüila. Nos primeiros meses notareis na mente uma infinidade de pensamentos; depois, que vão diminuindo e que em mais alguns meses serão bem poucos, até que, por fim, a mente estará sob perfeito controle. Mas deveis praticar pacientemente, dia a dia, Enquanto há vapor, a locomotiva corre; enquanto as coisas existem perante nós, percebemo-las. Da mesma forma uma pessoa, para provar que não é uma máquina, deve demonstrar que não está sub- missa a nenhum domínio. Controlar a mente e não permitir que ela se ligue aos centros, é pratyahara. Como consegui-lo? É um trabalho imenso; não pode ser feito num dia. Somente pelo esforço contínuo, paciente, durante anos, teremos êxito.

Depois de praticardes pratyahara por algum tempo, dai o passo seguinte, dharana, que consiste em fixar a mente em certos pontos. Que significa fixar a mente em certos pontos? Obrigá-la a sentir certas partes do corpo, com exclusão de outras. Tentai, por exemplo, sentir somente a mão. Quando chitta, ou estofo mental, está confinado e limitado a um certo local, temos dharana. Dharana é de várias espécies, e simultaneamente com sua prática, deve-se dar livre curso à imaginação. Por exemplo, levemos a mente a pensar sobre um ponto no coração, o que é muito difícil. É mais fácil imaginar que ali existe um lótus efulgente de luz. Fixai a mente sobre ele. Ou então, pensai em um lótus cheio de luz, no cérebro ou nos diferente centros, já mencionados, do Sushumna.

O yogui precisa praticar sempre. Deve tentar viver só; a companhia de diferentes espécies de pessoas distrai a mente. Não deve falar muito, porque a fala distrai a mente; não deve trabalhar muito, porque muito trabalho distrai a mente; a mente não pode ser controlada depois de um dia inteiro de trabalho árduo. Só observando essas regras podemos nos tornar yoguis.

Tão grande é o poder da yoga que mesmo uma prática muito pequena traz-nos imenso benefício. A ninguém prejudica, todos serão beneficiados. Em primeiro lugar fará diminuir o excitamento nervoso, trará paz, capacitando-nos a ver mais claramente as coisas. Temperamento e saúde se tornarão melhores. Ótima saúde será um dos primeiros sinais, assim como uma bela voz. Os defeitos da voz serão corrigidos. São estes alguns dos muitos efeitos que advirão. Os que praticarem bastante e intensamente conhecerão outros sinais. Haverá sons, como uma porção de sinos soando à distância, aproximando-se e se fazendo sentir de forma contínua ao ouvido. As vezes, ver-se-ão coisas – pequenas réstias de luz flutuando e aumentando; e quando tais coisas aparecerem, sabei que progredis, rapidamente. Aqueles que desejam ser yoguis e praticar muito, devem, no início, cuidar de sua dieta. Mas os que desejam apenas uma pequena prática para uma vida diária de negócios – que não comam muito; de outra forma, podem comer o que lhes agradar.

 Para os que desejam progredir rapidamente e praticar muito, é absolutamente indispensável uma estrita dieta. Encontrarão vantajoso viver apenas de leite e cereais, por alguns meses. À medida que a organização geral do corpo se torna mais fina, notar-se-á que a mínima irregularidade pode romper o equilíbrio. Um pedacinho de comida a mais, ou a menos, prejudicará todo o sistema, até que se obtenha perfeito controle e se possa comer o que se deseja. Quando uma pessoa começa a se concentrar, a queda de um simples alfinete soará, no cérebro, como um estrondo. Os órgãos vão se tornando mais finos e também as percepções. Estes, os estágios através dos quais temos de passar. Todos aqueles que perseveram, obtêm resultado. Abandonai toda discussão e outras distrações. O que pode haver em uma querela intelectual seca? Só tira a mente de seu equilíbrio e a prejudica. As coisas dos planos mais sutis devem ser realizadas. A mera conversa poderá consegui-lo? Abandonai toda conversa fútil. Lede somente livros escritos por pessoas que tiveram experiências espirituais.

Sede como a ostra que produz a pérola. Unia linda fábula hindu diz que, quando uma gota de chuva cai numa ostra, estando a estrela Swati no ascendente, aquela gota se torna em pérola. As ostras sabem disso; vêm então à superfície quando surge a estrela e aguardam as gotas preciosas. Quando uma gota cai dentro delas, fecham rapidamente as carapaças e mergulham, para o fundo do mar, onde pacientemente transformam a gota em pérola. Deveis ser assim. Primeiro ouvi, depois entendei, e deixando de lado toda distração, cerrai vossas mentes às influências externas e dedicai-vos a desenvolver a verdade dentro de vós. Há o perigo de desperdiçar as energias pelo fato de tomar uma idéia só pela sua novidade, abandonando-a por outra mais nova. Tomai uma coisa seriamente, segui-a, ide até o fim e enquanto não o fizerdes, não a abandoneis. Aquele que pode se tornar louco com uma idéia, verá a luz. Aqueles que apanham uma migalha aqui, outra ali, nunca chegarão a nada. Podem excitar seus nervos uni momento, mas param aí. Serão escravos nas mãos da natureza e nunca irão além dos sentidos.

Os que realmente desejam ser yoguis devem renunciar, urna vez por todas, esse mendigar de coisas. Apoderai-vos de uma idéia; fazei dela a vossa vida, pensai nela, sonhai com ela, vivei dela. Que cérebro, músculos, nervos, cada parte de vosso corpo se encha dessa idéia. Deixai de lado toda as outras. Eis o caminho do sucesso, o único que constrói gigantes espirituais. Outros são meros gramofones. Se realmente queremos ser abençoados e tornar os outros abençoados, devemos ir mais fundo.

O primeiro passo é não perturbar a mente, não nos ligarmos a pessoas cujas idéias possam nos inquietar. Todos sabeis que certas pessoas, certos lugares, certos alimentos, vos repugnam. Evitai-os; os que desejam realizar o mais elevado devem evitar companhia, boa ou má. Praticai firmes; se viveis ou morreis, tanto faz, Deveis mergulhar, e trabalhar sem almejar o resultado. Sede valentes e em seis meses vos tomareis perfeitos yoguis. Mas aqueles que tomam uni pouquinho disso e um tanto do restante, não progridem. De nada vale só o assistir a uma série de aulas. Aqueles que são cheios de tamas, ignorantes e inertes, cujas mentes jamais se fixam sobre qualquer idéia, que buscam sempre algo que os divirta, a religião e a filosofia são simples objetos de entretenimento.estes são os que não perseveram. Ouvem uma palestra, acham-na interessante, e depois vão para casa e se esquecem dela. Para obter sucesso é necessário tremenda perseverança, vontade extraordinária. “Beberei o oceano e à minha vontade as montanhas ruirão”, diz a alma perseverante. Enchei-vos dessa energia, dessa vontade. Trabalhai duro. E chegareis à meta.'

20111004

Filosofias da Forma: Stanley Keleman

Corpar



Esta é uma parte de  uma conferência que faz parte do livro 'Vínculos' de Stanley Keleman (pág 132 e 133).


Keleman oferece uma descrição objetiva e clara dos processos conscienciais, mentais e psicofísicos que acontecem ao longo de uma prática constante e viva de Hatha Yoga. A diferença fundamental é que o processo pelo Hatha Yoga tem pouca verbalização, e se quem está guiando a prática tiver formação em Iyengar Yoga, vai identificar e oferecer caminhos individuais para  reorganizar as distorções que acontecem nos aasanas em função da carga psicofísica de cada um que está praticando.
Neste texto ele também desenha o papel que o professor de Hatha Yoga assume enquanto ajudador/terapeuta.

Os Cinco Passos: somatizando o vínculo

PASSO UM: Peço ao cliente para descrever sua postura somática com relação a mim, por exemplo, ser submisso, ficar a postos para lutar ou tentar me agradar. Ele pode descobrir que seu estilo aplacador envolve a organização muscular de enrijecer o pescoço e sorrir, ou estufar o peito, uma postura psicológica de bravura exagerada ou sexualidade. Ele começa a reconhecer, no PASSO DOIS, seu padrão de contrações musculares. Ele vê como estão conectadas as lembranças, associações e sentimentos de mágoas passadas, em situações nas quais ele precisava defender a si mesmo muscular e psicologicamente. Ele reconhece o quanto está misturado ou imerso na sua história de mágoas e desapontamentos e como projeta as necessidades do passado no presente, fazendo do terapeuta uma figura de autoridade amedrontadora ou receptiva.

Quando desafiado a desorganizar seu padrão, lentamente desmanchando sua organização emocional e muscular, PASSO TRÊS, o cliente começa a sentir o medo de estar sem estrutura. Ele pode se lembrar do terror ou do desamparo e senti-los internalizados. Separação e desorganização ajudam a criar uma distância daquilo que foi internalizado e cindido do autoconhecimento. Por exemplo, o pescoço rígido de aplacação esconde sentimentos de terror, associados à rejeição do outro. No PASSO TRÊS, desorganização, o terror é transferido para o terapeuta, que é chamado a não agir como OS pais ou as autoridades do passado. Além disso, o desamparo do cliente pode transformar-se em raiva ou choro. Como terapeuta, você lida com sua própria reação ao terror, ao desamparo, à raiva ou às lágrimas do cliente e tenta ensinar-lhe que a desorganização não precisa ser associada ao desamparo do passado. Assim, ele pode aprender a conviver com a sua desorganização emocional.

Quando formas internalizadas de vínculos passados são desorganizadas, o cliente entra num estágio sem forma, o PASSO QUATRO. Aqui, as imagens e sentimentos passados incubam e o cliente aprende a integrar as lições da sua dor de modo diferente. Esse lugar da restauração emocional, muscular, psicológica, dá surgimento aos sentimentos e Insights que capacitam o cliente a fazer outro tipo de vínculo com pessoas significativas, o PASSO CINCO. Esse passo demanda uma atitude responsiva e interativa por parte do terapeuta. Formar um novo vínculo não é somente um ato da imaginação ou do sentimento; envolve as maneiras pelas quais o cliente pratica usar seu cérebro e músculos para integrar a aprendizagem emocional, imaginativa, com uma conexão de contato que ele possa controlar ou gerenciar.

Esse processo dos cinco passos do vínculo, desmanchar o vínculo e revincular, é um padrão pulsatório de expansão e contração, organização e desorganização. É semelhante ao embrião mudando de forma em 280 dias, ou a uma criança aprendendo a se vincular com a mãe e, depois, alterando esse vínculo para entrar na adolescência e na condição adulta. Todo pessoa se vincula e desmancha vínculos muitas vezes — como embrião, bebé, criança, adolescente, adulto, idoso, e na morte. A pulsação entre os pólos da existência envolve a vinculação e a mudança de vínculos, e é o que um terapeuta acompanha, à medida que seus clientes tentam reviver esses estágios e reconhecer e formar os sentimentos que foram cindidos. Os Cinco Passos contêm a esfera de ação do experienciar humano, o processo básico do como internalizamos o mundo e, depois, o projetamos para fora. Nesse processo, produzimos nossa própria forma. Quando um cliente pode aceitar que, em qualquer situação dada, seu próprio self vem à superfície, ele não tem mais medo de sua vida ou do que a vida lhe trará, seja o que for. Esse é o objetivo central da terapia somática.

O terapeuta alinha aos Cinco Passos à história ou situação do cliente, ao modo como ele a organiza, como vai desorganizá-la, o que acontecerá se ele não fizer nada e como ele vai usar essas experiências para se vincular novamente. Um ajudador que trabalha na linha somática fica atento ao modo como um cliente exagera sua situação, ao modo corno ele desestrutura esse exagero, ao modo como ele repousa nos lagos naturais do fluxos e refluxos e ao modo como se organiza para surgir novamente com seus insights. Esses são os Cinco Passos.

Os Cinco Passos são a maneira pela qual o cliente corporifica sua experiência e desestrutura seu passado. O ajudador se une ao cliente para desestruturar sua experiência passada ou organizar uma estrutura para as suas experiências presentes, embora haja envolvimento do passado. Estabelecer e desmanchar vínculos tem a ver com organizar uma identidade. Para entender melhor um cliente, um terapeuta deveria se perguntar se ele está desorganizando, dando sustentação ou reorganizando uma forma.

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Ao longo de cada prática, ou de cada aula, passamos por vários aasanas que explicitam nossa intenção por trás de cada gesto (agressividade, submissão, superficialidade, falsidade, inchaço, colapso, ...) e por vezes, nos colocam em contato com as emoções que nutrem e sustentam estes estados. Cada aasana é uma chave psicofísica que desmonta um estado mental-emocional-físico perverso, é presenciando este processo que o praticante/aluno adquire Consciência.

O papel do professor é ficar atendo ao desenrolar da 'história ou situação do cliente, ao modo como ele a organiza, como vai desorganizá-la, o que acontecerá se ele não fizer nada e como ele vai usar essas experiências para se vincular novamente. Um ajudador que trabalha na linha somática fica atento ao modo como um cliente exagera sua situação, ao modo corno ele desestrutura esse exagero, ao modo como ele repousa nos lagos naturais do fluxos e refluxos e ao modo como se organiza para surgir novamente com seus insights.'