20091106

O tempero da memória - As 'Réiva'


Já escrevi aqui, memória do bem = percepção das atitudes necessárias agora (físicas, emocionais e mentais), o caminho do AMORRR que nos levam a libertação, a desidentificação com as 'coisas que temos dentro da cabeça', e memória do mal (precisa explicar?).

'‘Quem fica com raiva leva o outro para a cama.’ Eu já disse que o ódio gruda mais que o amor. Você está amando... O amor é feliz, cheio de memórias bonitas. Você vai para a cama e dorme sorrindo. E sonha... Mas aí acontece algo, alguém lhe faz uma coisa que lhe dá muita raiva. A raiva toma conta de tudo, sentimentos e pensamentos. Não o deixa. Sua vontade é gritar, bater, destruir. É hora de dormir. Seus olhos estão pesados. Você quer dormir. Mas a raiva não o deixa. Você vai para a cama e ao seu lado se deita... a pessoa de quem você está com raiva. Você quer pensar coisas bonitas, quer pensar na pessoa amada. Mas aquela pessoa, ao lado, não deixa...
Pois é isso que está acontecendo comigo. Estou com muita raiva. E, por causa da raiva, estou levando para a minha cama um garçom que se diz cantor. E, ao meu lado, ele canta valsas do Sílvio Caldas...'
Rubem Alvez comentando Guimarães Rosa em 'Se sua cozinheira quiser cantar enquanto cozinha, não deixe...', um conto sobre a importância de se saber distinguir a inocência da imprudência.

O ser raivoso é aquele que gruda a circunstância no imaginário, e portanto, não larga a pessoa que contracenou com ele. E vai (cada vez de rebobina a fita e relembra o fato*) tingindo com suas próprias cores o evento, que pode nem ter sido tão sangue vivo assim.

A raiva tem muitos nomes, muitas cores, tantos nomes quantos nossos afetos. Vira raiva da gente mesmo ( o monge com raiva do seu desejo pela linda jovem que o outro carrega junto ao corpo ajudando-a a atravessar o rio, apesar de seus votos de jamais tocer em mulher nenhuma... Leia aqui: versão 1 e versão 2)

O pior da 'réiva' é que estropia o fígado.
E se a gente resolve cultivar (ira = raiva cultivada, cozida com ardor/tapas), vira pedra de vesícula (= as vinhas da ira).

O melhor da 'réiva' é que ela é energia puríssima.
Basta virar a seta da 'réiva' para o lado 'certo', o lado B (do BemBom).

* Hoje sabemos que nunca rebobinamos a fita e relembramos os fatos, estamos sempre recriando o vivido, pois o que sentimos no presente altera o modo como recordamos os registros da memória.

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