20111203

4 Temas de Bertazzo - IV

A Relação Entre Mecânico e Energético

Inúmeras escolas terapêuticas bastante difundidas consideram em seus métodos apenas a esfera do sutil, os campos energéticos etc., induzindo a uma desvinculação destes com os centros corporais concretos. Para mim, o sistema mecânico e as trajetórias elípticas do movimento são a base de nossas funções mais sutis, ou energéticas, a exemplo da "respiração primária" de que falam os osteopatas e da "energia" da medicina oriental.

O esquema das trajetórias elípticas pode ser visualizado como um processo no qual determinado centro se subordina a outro, porém mantendo uma identidade própria, e este centro a outro ainda. Se quisermos, podemos ampliar indefinidamente essa imagem de elipses associadas ou subordinadas umas às outras, e incluir mesmo elipses e centros localizados fora de nosso corpo, no sistema solar e nos pontos mais distantes do sistema celeste.

O corpo humano foi concebido para utilizar uma organização própria que permite um aproveitamento máximo de sua energia, isto é, despender o mínimo de energia para o máximo de rendimento.

Tome-se como paralelo dessa mecânica humana o exemplo de um objeto lançado ao espaço sideral. Inicialmente a nave, satélite ou o que for exige grande quantidade de energia para colocar-se em órbita. Mas a partir daí, consumirá o mínimo de combustível, apenas para fazer pequenas correções de trajeto. Neste estágio, essa nave aproveitará a energia das próprias órbitas dos corpos celestes para prosseguir seu curso.

Assim também é no corpo humano durante a realização de um gesto. Se o impulso ou energia respeita as trajetórias elípticas correspondentes aos diversos segmentos osteomusculares, essa energia será melhor aproveitada — ou poupada —, gerando mais conforto e refinamento para o movimento. Isso significa também diminuir as solicitações dirigidas ao sistema nervoso central, se pensarmos que uma mecânica bem ordenada funciona quase sozinha, após o impulso inicial ter sido dado e certas autonomias terem se estabelecido. Ou seja, flexores e extensores se coordenam concomitantemente, e de repente é todo o corpo que se organiza num "volume em tensão". Um gesto em tensão e torção adequadas transfere essas qualidades, a partir do segmento envolvido nesse gesto, para todo o corpo.

Por exemplo, o movimento da mão que respeita sua organização própria: cada pequena esfera dos metacarpos girando em elipse e formando a abóbada palmar — que por sua vez submetese à elipse maior formada pelas trajetórias opostas de braço e antebraço. Essa organização dá ao membro superior uma autonomia, evitando sobrecarregar outros segmentos do corpo.

Ivaldo Bertazzo, 'O Cidadão Corpo', páginas 33 e 34

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