20100909

Você tem fome de quê?


Eu vivo 'falando mal' no cotidiano (e teclando pouco) sobre produtos refinados e industrializados.
As pessoas em geral não percebem o quanto o processo de industrialização retira o nutritivo e acrescenta o sofisticado-desnecessário-indesejado ao 'alimento'.
E eu, não consigo entender como preferir comer uma fruta como uma banana ou maçã, ou uma cenoura crua, ou frutas secas e sementes pode ser mais trabalhoso/menos prazeiroso do que consumir bolachas, sandubas de ir ao micro-ondas e congeneres.
Que o resultado de comer industrializado é pior do que comer migalha.
Alguém me explica?
Que pra mim é a única doença do ser humano que não tem cura, a preguiça de escolher de outra maneira, ou então, o medo de cair fora do esquema da Normose.

 Segue um bate-pronto da Sílvia Salas com a Sônia Hirsch, engenheira de alimentos, entre outras habilidades. Sonia pergunta, Silvia responde.

"...dúvidas que muita gente tem, e que realmente são deixadas de lado porque não é de interesse econômico que as pessoas saibam este tipo de informação..."

O que você considera serem os piores ingredientes usados na indústria de alimentos?
A Indústria, nos dias de hoje, lamentavelmente, faz uso de muitos ingredientes que são a causa direta de muitas doenças e desarmonias nas pessoas. Começaria pelo açúcar refinado, xaropes de glicose e frutose, gorduras hidrogenadas e os aditivos químicos. Nesta última categoria, estariam os aromas artificiais, conservantes, estabilizantes, corantes químicos artificiais, edulcorantes artificiais, umectantes e antiumectantes, antioxidantes e espessantes. E importante também esclarecer que a Indústria se protege dizendo que usa quantidades permitidas pela lei, mas se você somar a quantidade que se ingere em 10 produtos que a pessoa coma por dia, ou até mais, essa quantidade permitida se excedeu e haverá algum tipo de repercussão na pessoa a curto ou longo prazo.

Como vê a presença de açúcar e farinha na alimentação diária?
Péssima, e uma pena que a Indústria tenha se esquecido da saúde de seu principal “cliente”. Praticamente, ela está intoxicando a vida dos consumidores, por uma questão econômica e prática. O açúcar refinado eu não consideraria como alimento, já que ele em vez de nutrir, desnutre e traz conseqüências drásticas à saúde como câncer, diabetes, inflamações, infecções, entre outras. Por outro lado, a farinha de trigo refinada é um alimento com índice glicêmico muito elevado, similar ao açúcar, o qual também traz conseqüências terríveis ao nosso corpo. Segundo o biólogo Otto Heinrich W. (recebeu premio Nobel de medicina), “O metabolismo dos tumores cancerosos é amplamente dependente de seu consumo de glicose”. Alem disso, ambos os produtos estão expostos a um refinamento onde são usados ácidos e produtos químicos para que o produto fique bem branco e refinado.

Por que as barras de cereais em geral não são boas?
É uma ótima pergunta. Muita gente consome barrinhas de cereais porque acha que é um produto saudável, ou pelo menos isso é o que diz o rótulo da caixinha, com uma foto de uma pessoa feliz e saudável. A questão está nos três ingredientes principais: geralmente, essas barrinhas são fabricadas com flocos de arroz, xarope de glicose ou frutose e/ou farinhas diversas. Estes três elementos elevam o índice glicêmico muito rápido (caso a pessoa coma a barrinha quando sente fome) e não oferece nutrientes consideráveis. Além disso, muitas vezes têm uma carga muito grande de aditivos químicos, como aromas artificiais, estabilizantes e acidulantes. E ainda mais, como bônus, muitas delas têm uma cobertura de chocolate, com base de gordura vegetal hidrogenada. Então, na próxima vez que quiser consumir uma barrinha, é melhor pensar duas vezes.

Até onde vai o uso oculto dos derivados da soja na indústria de alimentos?
A soja é um alimento muito usado na cultura oriental faz muitos milênios. É um alimento completo, que fornece nutrientes como proteínas, minerais, antioxidantes, e produzem efeitos benéficos a saúde, e por isso, é denominado também um alimento funcional. Mas nas últimas décadas a soja vem sendo utilizada de varias formas, nem sempre ideais, entre elas: proteína hidrolisada de soja, proteína isolada de soja, proteína concentrada, soja texturizada, cujo processamento é feito com adição de ácidos, químicos e álcalis. Estes subprodutos da soja são os que mais se usam nos produtos alimentícios com a função de melhorar a textura, aumentar o nível proteico e ser agente de recheio em vários produtos. Os alimentos que levam estes ingredientes vão desde barrinhas de cereais a frios em geral (derivados cárneos), produtos lácteos, chocolates, bolachas, biscoitos, bolos, enfim... 90% dos alimentos industrializados contêm soja.

E vamos levar em conta que consumir esses produtos da soja, na maioria das vezes geneticamente modificada, também prejudica o meio ambiente.

Quais seriam as melhores e piores gorduras para uso diário?
Sempre começando pelo que é bom, as melhores gorduras estão no azeite de oliva, com gorduras monoinsaturadas, e óleos de canola e linhaça, que contribuem como uma boa fonte de Omega 3. As piores gorduras são as gorduras vegetais hidrogenadas, gorduras vegetais parcialmente hidrogenadas e gorduras vegetais interestificadas (usadas atualmente na maioria das margarinas). Além disso, as gorduras animais como pele de aves e gordura de porco e boi, se consumidas em excesso podem prejudicar a saúde. Ter cuidado com os produtos que levam gorduras “não saudáveis” ocultas como: derivados lácteos (queijos processados como requeijões e madurados), bolachas recheadas, bolos prontos frescos ou industrializados (inclusive os que vendem nos supermercados sem cobertura nem recheio), batatas fritas ou comida gordurosa e frios como salame, mortadela, patê, etc.

O que são nitritos e nitratos? Qual o efeito deles na nossa saúde?
Os nitritos e nitratos são adicionados às carnes processadas com a finalidade de preservar os produtos atuando como agentes antimicrobianos, em especial, para inibir o crescimento e produção da toxina Clostridium, alem de conferir cor e sabor aos produtos. Mas, apesar de ter uma função boa no alimento, o consumo desses produtos em excesso pode levar a sérias complicações de saúde pela formação de substâncias carcinogênicas, mutagênicas e teratogênicas, ou seja, maior possibilidade de desenvolver câncer e outras doenças graves.

Estes sais eram usados na antigüidade, quando não se tinha um sistema de refrigeração adequado para conservar as carnes e seus subprodutos, e também eram produtos que se consumiam em climas muito frios e onde havia falta de carne em certas temporadas. Realmente, acho um pouco absurdo o consumo de embutidos no Brasil, um país com tanta diversidade de alimentos, climas cálidos e muita variedade de carnes frescas.

É importante pensar um pouco mais no que estamos consumindo dia a dia, e ver se nos estamos realmente nutrindo ou apenas gerando doença.

Silvia Salas atualmente é terapeuta ayurveda em SP e trabalha com conscientização alimentar.

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